O presidente demissionário do Governo da Madeira e líder do PSD regional, Miguel Albuquerque, disse esta sexta-feira que se sente “perfeitamente capaz” de concorrer a eleições, caso o chefe de Estado dissolva a Assembleia Legislativa.
“Eu sinto-me perfeitamente capaz de concorrer às eleições, se houver eleições, de resolver os problemas da Madeira”, disse, para logo reforçar: “Eu estou de consciência tranquila, tenho todos os meus direitos cívicos e políticos em pleno exercício, não estou diminuído em nada e vou continuar a fazer o meu trabalho”.
Miguel Albuquerque falava à margem de uma visita a uma empresa sediada no Parque Empresarial da Ribeira Brava, na zona oeste da Madeira, naquela que foi a sua primeira atividade de agenda previamente anunciada aos órgãos de comunicação social desde 24 de janeiro, quando foi constituído arguido num processo que investiga suspeitas de corrupção e que motivou a demissão do executivo PSD/CDS-PP.
“Foi uma pausa necessária para serenar os ânimos”, explicou aos jornalistas, vincando que agora regressa à “gestão habitual da res publica'”.
“A Madeira não vai parar, nem vai deixar de ser governada, nem o investimento vai parar porque isso seria fatal para a região, porque não podemos estar numa situação de regressão económica, nem de desemprego acentuado”, reforçou.
Miguel Albuquerque informou, também, que vai participar na campanha eleitoral da coligação “Madeira Primeiro” (PSD/CDS-PP) às legislativas de 10 de março, participando já esta noite numa iniciativa.
“E amanhã de manhã já vou fazer campanha, porque também não me vou demitir das minhas responsabilidades partidárias”, declarou.
Albuquerque garantiu não estar arrependido de ter sido retirado dos cartazes da coligação “Madeira Primeiro”, nos quais figurava inicialmente entre os seis candidatos pelo círculo da região autónoma.
“Acho que, na altura, face à conjuntura, foi a decisão correta. Mas isso não tem nenhum problema, porque eu vou participar na campanha”, disse.
O líder social-democrata desvalorizou, por outro lado, as críticas feitas por alguns militantes sobre o prazo apertado para a realização de eleições internas no partido, agendadas para 21 de março, às quais volta a concorrer.
“Eu dou a cara. Quem quiser dar a cara, dê agora. Não é para depois haver recriminações ‘a posteriori'”, afirmou, sublinhando que os militantes podem entregar até quinta-feira as listas concorrentes com a sua.
“O processo eleitoral está aberto, quem quiser concorrer concorre, quem quiser protestar protesta, mas depois vai haver disciplina partidária, porque o partido tem de se unir e tem de enfrentar os desafios”, reforçou.
Miguel Albuquerque explicou que a data escolhida para as eleições internas — 21 de março — é estratégica, considerando que o Governo Regional PSD/CDS-PP, com o apoio parlamentar do PAN, está em gestão até o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, decidir se dissolve a Assembleia Legislativa, o que só poderá ocorrer depois de 24 de março, seis meses após as últimas eleições legislativas regionais.
“É uma questão de responsabilidade. O Partido Social Democrata é um partido liderante, é um partido que tem uma direção e vai continuar a ter uma direção. Isto aqui não é um partido para desfile de egos e quem está à espera no sofá é melhor se manifestar agora, porque não há nenhuma desculpa para não irem agora a eleições”, afirmou.
Miguel Albuquerque explicou que, apesar de ter admitido que se afastaria da vida política ativa, houve uma “alteração de circunstâncias bastante evidente” que o fez voltar atrás.
“Eu estou aqui para servir a Madeira, não estou agarrado ao poder”, disse, para logo acrescentar: “Mas, agora, uma coisa que eu não aceito é em determinadas circunstâncias ser excluído da vida pública porque sim. Tem que haver uma razão. E a razão principal para uma pessoa ser excluída da vida pública é a decisão democrática dos eleitores, dos madeirenses e dos porto-santenses. Essa é a razão fundamental.”
E reforçou: “Quem escolhe e quem determina o meu futuro são os madeirenses e os porto-santenses.”
O chefe do executivo madeirense indicou, no entanto, estar disponível para ser ouvido no processo em que foi constituído arguido.
Em 24 de janeiro, a Polícia Judiciária (PJ) realizou cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.
Na sequência desta operação, a PJ deteve o então presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD), que já renunciou ao cargo, o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, e o principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, Custódio Correia. Os três arguidos foram libertados na quarta-feira com termo de identidade e residência, três semanas após as detenções.