Um caso de corrupção ligado à compra de máscara faciais durante a pandemia de Covid-19 está a abalar a esfera política espanhola e, em particular, o governo de Pedro Sánchez. Um ex-consultor do também ex-ministro da Transportes e do Fomento do PSOE, José Luis Ábalos, foi detido na terça-feira, por suspeitas de ter recebido ‘luvas’ de 10 milhões de euros, em troca da compra de máscaras por parte do Estado espanhol, dinheiro que depois distribuiu por várias pessoas envolvidas no esquema. Ao todo, a Guardia Civil fez 20 detenções.
De acordo com o jornal El Confidencial, que noticiou os detalhes do esquema de corrupção, Koldo García (o consultor) aplicou o dinheiro gerado pelas ‘luvas’ na compra de propriedades imobiliárias.
Em causa está a cobrança de comissões ilegais na celebração de vários contratos para compra de máscaras faciais e material sanitário, destinados aos ministérios da Administração Interna, bem como às comunidades autónomas das Baleares e Canárias. A Procuradoria Anticorrupção e a Unidade Central Operativa da Guarda Civil suspeitam que Koldo García terá servido de intermediário nas negociações, cobrando avultadas comissões.
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No total, os vários contratos celebrados representaram uma despesa de cerca 50 milhões de euros ao Estado espanhol. A maioria das verbas (40 milhões) foram pagas à Soluciones de Gestión (uma empresa sediada em Saragoça e que já foi alvo de buscas) em regime de ajuste direto, para a compra de máscaras FFP2 ou K95.
Para além de Koldo García, ex-consultor do ex-ministro de Pedro Sánchez, foram detidas outras 19 pessoas na operação Delorme: a mulher e o irmão de Koldo, o empresário Íñigo Rotaeche e o presidente do Zamora Club de Futbol, Victor Aldama. Quatro dos detidos foram presentes a tribunal esta quinta-feira. À RTVE, fontes judiciais revelaram que o juiz imputou a Koldo García os quatro crimes que a Procuradoria espanhola pedia: organização criminosa, suborno, tráfico de influências e lavagem de dinheiro.
Os quatro arguidos recusaram prestar declarações em tribunal e saíram em liberdade por decisão do juiz que acompanha o caso.
Sanchéz e Ábalos dizem desconhecer esquema, PP pede responsabilidades
Desde terça-feira, quando o esquema de corrupção foi tornado público, têm-se sucedido as reações por parte do governo espanhol. Em Marrocos, onde se encontra numa visita oficial, o Presidente do Governo, Pedro Sánchez, apressou-se a esclarecer que desconhecia a trama e criticou a cobrança irregular de comissões. “Qualquer tentativa de enriquecimento através da cobrança de comissões de uma tragédia como foi a pandemia, e como infelizmente vimos em outras áreas, tem toda a minha reprovação e a reprovação do Governo“, referiu o chefe do governo. Sánchez negou também que a saída de Ábalos do governo — consumada em 2021, na sequência de uma remodelação mais alargada do elenco governativo — tenha sido motivada por este caso. Recorde-se que, nesse ano, Ábalos também recunciou a um cargo dirigente que tinha no PSOE.
O próprio Ábalos diz desconhecer o esquema, que, garante, o deixou “estupefacto”. “Tenho dificuldade em acreditar, é um golpe, acho incrível”, disse o ex-ministro, acrescentando que todos os contratos “foram feitas através de mecanismos legais” e foram analisados pelo Tribunal de Contas. Ábalos garantiu também não ter mantido contacto com Koldo García desde o momento em que saiu do governo.
Já o atual ministro da Política Territorial, Ángel Víctor Torres, que era presidente das Canárias à data dos factos, defendeu que as contratações foram realizadas de forma legal.
A denúncia que desencadeou a operação Delorme tem um rosto, o que Alfonso Serrano, secretário-geral do PP de Madrid. Os populares, atualmente na oposição a nível nacional, exigem que Sánchez assuma responsabilidades pelo caso. “Isto afeta-o diretamente“, vincou a número dois do PP, Cuca Gamarra, pedindo a renúncia de Ábalos ao lugar de deputado no Congresso espanhol.