O roubo de água da rede pública, com ligações clandestinas, é uma prática frequente na capital de Cabo Verde, porque não há penalizações, tornando-se um problema para a sustentabilidade da empresa de distribuição, queixou-se o presidente da companhia.

As equipas instalam a rede, mas, “muitas vezes”, os moradores ignoram o contador, “porque dizem que depois vão roubar”, relatou Nilton Duarte, presidente da empresa pública Águas de Santiago (AdS), em entrevista à agência Lusa, após várias reclamações sobre falta de água em muitos bairros da capital cabo-verdiana.

Aquele responsável pediu ao governo para levar ao parlamento uma lei para criminalizar as ligações clandestinas, à semelhança do que aconteceu em setembro de 2014, altura em que os furtos de energia elétrica passaram a ser crime no país.

Nilton Duarte referiu que, enquanto não houver medidas, dois cenários vão prevalecer na Praia: “muita gente com falta de água” e residentes que “dizem claramente” que fazem as suas próprias ligações.

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O dirigente reafirmou aquilo que tem constado dos relatórios anuais da AdS: a empresa não consegue cobrar mais de metade da água da rede, devido a ligações clandestinas, dificuldades de cobrança e perdas nas tubagens.

“E nós não podemos fazer nada. É esta a situação em que estamos e apelamos às autoridades competentes que nos ajudem”, insistiu o responsável.

No cenário atual, seria preciso que a Electra — empresa pública que fornece a AdS — entregasse 15 mil toneladas de água por dia para satisfazer as necessidades da capital, mas o valor ronda os 12 mil.

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A situação obrigou a ter em curso um “plano de contingência” para racionalizar a distribuição, com horários definidos para cada zona, “para que todos possam ter água”.

Segundo o presidente da AdS, não há bairros com mais de 15 dias sem água, mas reconhece que pode haver casas com problema nas condutas ou má localização das cisternas de reserva.

Os depósitos devem ficar ao nível do solo porque, quanto mais alto ficarem, mais dificilmente pode haver pressão para a água lá chegar nos momentos em que a rede está abastecida.

O presidente disse que o problema na Praia só se resolve quando a Electra fornecer mais água e, quanto a isso, estão a conversar com o acionista Estado.

A prazo, devem também surgir resultados do Programa de Eficiência Hídrica, que tem como meta reduzir até 20% as perdas de água e reabilitar as condutas, com um financiamento bancário de 270 milhões de escudos (2,5 milhões de euros).

A AdS tem em ainda em curso um programa para ligação de água aos bairros periféricos da capital cabo-verdiana, orçado em 133 milhões de escudos (1,2 milhões de euros), cofinanciado pela câmara de Madrid e pela União Europeia.

A empresa foi criada oficialmente em maio de 2014, no âmbito da reforma do setor de água e saneamento promovida pelo governo de Cabo Verde em parceria com os municípios de Santiago e com apoio financeiro da Millennium Challenge Corporation (MCC), fundo público norte-americano de apoio ao desenvolvimento.

Com sede em Assomada, município de Santa Catarina, a empresa tem como acionistas o Estado (49%) e os nove municípios da ilha de Santiago, a maior do arquipélago, com cerca de 235 mil habitantes.