O Irão aumentou significativamente as suas reservas de urânio enriquecido nos últimos meses, prosseguindo a sua escalada nuclear, apesar de negar querer adquirir a bomba atómica, segundo indica esta segunda-feira um relatório confidencial da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).

Segundo o documento, consultado esta segunda-feira pela agência noticiosa France-Presse (AFP), as existências ascendiam a 5.525,5 quilogramas (kg) a 10 de fevereiro (contra 4.486,8 kg no final de outubro), mais de 27 vezes o limite autorizado pelo acordo internacional de 2015 que rege as atividades atómicas de Teerão em troca do levantamento das sanções internacionais.

Nesse sentido, a AIEA, responsável pela verificação da natureza pacífica do programa nuclear iraniano, manifesta no relatório “preocupações crescentes” quanto às verdadeiras intenções do Irão.

O Irão faz declarações públicas sobre as suas capacidades técnicas, o que reforça as preocupações“, sublinhou o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi.

Neste contexto, apelou uma vez mais a Teerão para que “coopere plenamente”, numa altura em que as relações entre as duas partes se têm vindo a deteriorar constantemente nos últimos meses.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Embora a República Islâmica negue querer adquirir a bomba, alguns políticos estão a fazer declarações alarmistas, explicou uma fonte diplomática.

Ao mesmo tempo, o Irão prossegue a sua escalada e dispõe agora de material suficiente para construir várias bombas atómicas.

Irão acusado de testar mísseis ilegais, dar drones à Rússia e enriquecer urânio

O Irão rompeu progressivamente com os compromissos assumidos no âmbito deste pacto, conhecido pela sigla JCPOA, em reação à retirada dos Estados Unidos decidida em 2018 pelo então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) é um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado a 14 de julho de 2015 entre a República Islâmica do Irão, o P5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e, mais tarde, Alemanha), e a União Europeia (UE).

As conversações em Viena para reavivar o JCPOA fracassaram no verão de 2022.

O Irão ultrapassou largamente o limite máximo fixado em 3,67%, equivalente ao que é utilizado nas centrais nucleares para produzir eletricidade: tem 712,2 kg (contra 567,1 kg anteriormente) de material enriquecido a 20% e 121,5 kg a 60% (contra 128,3 kg).

No caso do limiar de 60%, que se aproxima dos 90% necessários para fabricar uma arma atómica, Teerão abrandou, no entanto, a produção, após uma aceleração no final do ano.

Rafael Grossi também “lamentou profundamente” o facto de o Irão não ter voltado atrás na sua decisão de proibir vários dos seus oito inspetores, de nacionalidades francesa e alemã, de visitar e fiscalizar as instalações nucleares no país.