Evoluir é um imperativo na indústria automóvel, mas convenhamos que quando se trata de ocupar o lugar deixado vago por uma obra de arte, a tarefa da sucessão adquire contornos mais delicados. Referimo-nos ao monstruoso W16 da Bugatti, um motor tão potente quanto arrebatador, que inebria mal se liga a ignição do Chiron e que, depois, vai cantando e galvanizando ao ritmo do trote dos seus 1500 ou 1600 cv, a potência máxima dependendo da versão. Sucede que, como o W16 vai sair de cena, ficou a dúvida sobre até que ponto o conjunto híbrido que está a ser afinado para o sucessor do Chiron consegue convencer ao ouvido. A resposta faz-se agora ouvir: basta carregar em play.

Como as imagens que acompanham o cantar demonstram, o novo motor da Bugatti é uma “ave” rara. Os construtores que trabalharam com um V16 contam-se pelos dedos de uma mão, sendo poucos — muito poucos — os automóveis que abrigaram uma mecânica com esta configuração sob o capot.

Além de escassos, exemplos deste tipo quase que nos obrigam a fazer uma viagem no tempo, recuando para lá de 90 anos. Isso mesmo: é preciso desembarcar na década de 1930 para encontrar um dos primeiros automóveis a montar um V16, o Cadillac V-16. Poucos mais se lhe seguiram, sendo mais fácil encontrar esta opção em protótipos do que em modelos de produção em série. Não é o caso, porém, do Cizeta Moroder V16T, lançado em 1991 e que ainda hoje pode ser encomendado através do site da marca, exigindo em troca 800.000 dólares, cerca de 738.000€.

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No caso da Bugatti e do sucessor do Chiron, passar de um W16 para um V16 é um ligeiro downsizing, mas sabe-se já que o motor de combustão vai contar com o apoio de motores eléctricos, sendo que a fasquia está colocada bem lá em cima, ou não fosse o construtor de Molsheim agora capitaneado pelo croata Mate Rimac, o homem que conseguiu pôr na estrada o hiperdesportivo Nevera. Trata-se de um eléctrico (quase) alucinante que soma recordes atrás de recordes, cortesia de quatro motores que colocam no asfalto uns monstruosos 1914 cv. Um “avião” sem asas, portanto, que descola de 0 a 100 km/h em 1,81 segundos – o tempo de piscar os olhos uma meia dúzia de vezes.

412 km/h. Rimac é o eléctrico de série mais veloz do mundo

Com o sucessor do Chiron ao virar da esquina, já que a apresentação está marcada para Junho, a Bugatti vai alimentando as fantasias dos entusiastas da máxima eficácia e adrenalina ao volante, mas sem se “descair” com muitos pormenores. Nada diz quanto à cilindrada, nem se o motor será ou não atmosférico. E o silêncio é um convite para o surgimento de boatos e rumores, desde a indicação de que será a Cosworth a fornecer a mecânica, passando pela aposta em três motores eléctricos para entregar mais de 1800 cv. Mas, de oficial, por enquanto só há um par de promessas. Uma é que o conjunto motopropulsor do sucessor do Chiron vai ser “altamente electrificado”, palavras de Mate Rimac, a outra surgiu agora, com a Bugatti a descrever o seu futuro hiperdesportivo como a “pura personificação” do ADN da marca e, mais do que isso, uma criação “não apenas para o presente ou para o futuro, mas sim para a eternidade”. Enquanto se esperam mais detalhes (e menos promessas), delicie-se com o espectáculo sonoro oferecido pelo W16.