Com Santiago Abascal na mesa presidencial do comício do Chega em Olhão, no Algarve, André Ventura perdeu todos os filtros e, embalado pelo discurso nacionalista do líder do partido irmão em Espanha, colou o voto do PS a alguém que não está bem: “Quem é que no seu perfeito juízo… e lamento muito o que vou dizer… a quem estiver a pensar votar no PS tem de tomar a medicação porque as coisas não estão a ficar muito bem.”

Os aplausos e gritos de concordância vindos da plateia aqueceram o ambiente  e do público ouviu-se uma voz que deu jeito a Ventura para completar a “explicação de que andava à procura” — a notícia de que a falta de medicamentos atingia os hospitais —, o que o levou a atirar: “94% dos hospitais não têm medicamentos, talvez esteja aqui a explicação de haver tanta gente a votar no PS

E prosseguiu em jeito de gozo: “Estão a ver as notícias de amanhã: André Ventura ataca doentes mentais”, o que arrancou mais uma gargalhada ao público. Os risos transformaram-se em apupos quando o líder do Chega complementeou que “os comentadores vão falar nisso: “Ana Gomes vai dizer que já devia ter sido ilegalizado, Marques Mendes ‘eu avisei’ e… claro, não sei se vou dizer agora… Marcelo Rebelo de Sousa vai dizer que temos de apurar”.

“Mas é mesmo verdade: eu tento perceber como é que as pessoas votam no PS e não vejo um motivo. Os únicos que percebia que votassem no PS são os que estão agarrados…”, mais uma pausa e um incentivo do público para completar as palavras do presidente do Chega: “Agarrados ao tacho ou aos subsídios do Estado.”

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E recuperou ainda o tema do assalto à caravana do PS em Guimarães para referir que “tudo acontece” aos socialistas — “atiram-lhes vasos… e  no outro dia foram assaltados”. “Faz sentido, quem anda a roubar o país há tanto tempo foi roubado na sua caravana. É irónico, como dizem os ingleses: Karma is a bitch.”

André Ventura considera que o PS é “a cara da burla e da fraude” e o responsável pela “incompetência e corrupção” instalada no “sistema corrupto”, “na maior classe subsidiodependente da Europa” e no “número gigantesco de impostos”. “E não é a fazer desfilar figuras dos anos 80 ou 90”, apontou o líder como crítica aos históricos de PS e PSD que têm entrado na campanha, para atirar logo de seguida ao ex-presidente do PSD que esteve em Viana do Castelo na campanha da Aliança Democrática e para dizer que “ficou claro que Luís Montenegro e Rui Rio são frouxos na corrupção e muletas do PS”.

André Ventura foi ainda à esquerda para atacar Paulo Raimundo (“sei que muitos não sabem quem é, mas é o secretário-geral do PCP, estas são as últimas eleições deles”) e Mariana Mortágua: “Aqueles dois parecem Dupond e Dupont a dizer ‘vem aí a extrema-direita’”, disse, enquanto gozou com o tom de voz e resumiu: “Devem dormir com a extrema-direita.” “Está tudo mal no país, saúde, educação, justiça, polícias… quem é que os andou a suportar durante oito anos, fomos nós que aprovámos os orçamentos do PS”, fez notar o presidente do Chega, apontando à esquerda por ter “deixado o país neste estado”: “Eles valem zero, nós somos o futuro.”

Ventura não quer Lula no 25 de Abril: “Se insistir vai para uma cadeia”

À frente de Abascal, André Ventura concordou com o líder do partido irmão em Espanha, e disse que “perante o mainstream político nós somos os estrangeiros“. No seguimento, sublinhou que muitos partidos amigos “pela Europa fora estão a contar com a nossa vitória” porque “será também uma vitória dos patriotas europeus” e servirá para fazer “justiça pelo que aconteceu em Espanha e no Brasil com a vitória de Lula da Silva”.

O presidente brasileiro serviria para André Ventura reavivar o tema da presença de Lula da Silva na cerimónia de comemoração do 25 de Abril e para apontar ao futuro: “Se o Chega vencer a 25 de Abril de 2024: o senhor presidente do Brasil não vai entrar em Portugal” e, mais, se chegar a primeiro-ministro “Lula da Silva ficará no aeroporto e não entrará” — “E se insistir vai para uma cadeia, mas já sabe o que é isso, não será uma grande novidade para ele.” Apesar de Lula da Silva ter estado presente em 2023, pouco tempo depois de ter tomado posse como Presidente do Brasil, não há nada que indique que a cerimónia dos 50 anos da revolução tenha a presença de Lula da Silva, já que apenas há notícia sobre convites aos presidentes dos PALOP.

Corruptos já temos cá muitos, não precisamos que venham mais de fora”, apontou, sublinhando que um governo do Chega “não se vai vergar” aos interesses de Bruxelas nem “deixar entrar esses corruptos internacionais todos aqui no nosso território”. “Neste país ainda mandamos nós e escolhemos nós quem vem e quem não vem, corruptos já temos cá muitos, não precisamos que venham mais de fora”, acrescentou.

A visita de um “amigo” que relembra que Portugal e Espanha foram “grandes”

Santiago Abascal, líder do Vox, falou no comício do Chega, para culpar o “socialismo corrompido” pelo estado de Portugal e Espanha, mas também pelo “velho bipartidarismo” que diz que os dois países são vítimas: “Na alternância de poder só mudam as siglas, os nomes, mas continuam as mesmas políticas de sempre.”

O líder do Vox referiu que não há respostas por parte desse “socialismo corrompido” para os “problemas de insegurança e imigração ilegal porque são os responsáveis pela imigração ilegal”. E seguiu para questões como a ideologia de género e emigração de jovens para atacar o socialismo.

Já depois de recordar as nações “grandes” do momento do “Tratado de Tordesilhas”, Abascal garantiu que “o triunfo de André Ventura e do Chega” é fundamental para a Europa e para “resgatar a soberania” dos países relativamente à União Europeia. Com uma “grande esperança” no resultado do Chega, Abascal quer que se “volte a fazer de Portugal grande outra vez”. E Espanha também, claro.