A campanha da CDU em Lisboa está feita. A coligação que reúne verdes e comunistas apenas volta à capital para a noite de 10 de março, mais precisamente volta ao Hotel Sana Metropolitan, onde nas eleições de 2022 perdeu metade do grupo parlamentar. Paulo Raimundo leva de Lisboa as duas arruadas mais participadas da campanha. Mostrou força no Rossio e no Chiado apesar da ameaça de a chuva pairar no horizonte. O secretário-geral desceu o Chiado até à rua 1º de Dezembro, rodeado de mais de mil bandeiras que, como tem sublinhado, “não se carregam sozinhas”.

Mas não foi apenas uma enchente de militantes. Paulo Raimundo foi o último a chegar, e quando chegou tinha à sua espera nas filas da frente os antigos secretários-gerais Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas (foi a primeira vez que participaram numa arruada, em vez de ficarem à espera de Raimundo no final da rua) e João Oliveira e João Ferreira (que em 2022 dividiram tarefas para render um adoecido Jerónimo na campanha).

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo (C), acompanhado por Jerónimo de Sousa (D) e Carlos Carvalhas (2E) durante uma ação de campanha da CDU na baixa de Lisboa, no âmbito da campanha para as eleições legislativas de 10 de março, Lisboa, 7 de março de 2024. Mais de 10,8 milhões de portugueses são chamados a votar no domingo para eleger 230 deputados à Assembleia da República. A estas eleições concorrem 18 forças políticas (15 partidos e três coligações). MIGUEL A. LOPES/LUSA

No final de uma arruada em que dispensou faixas, mas que juntou cravos e bandeiras pintadas de diferentes cores da CDU e que teve Paulo Raimundo (quase) sempre na dianteira, em vez de procurar furar a própria comitiva para ir ao encontro das pessoas que estavam na rua. Coube a António Filipe fazer o primeiro discurso, contra os adversários políticos e até contra o mau tempo. “Podia chover e nós estaríamos aqui. O resultado da CDU conquista-se nas ruas, não nas projeções”. A mais recente sondagem da Universidade Católica nota uma subida em dois pontos percentuais da CDU, agora com 5%.

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Num discurso virado para o apelo ao votom António Filipe encontrou três tipos de eleitores: “Os que sempre votaram na CDU, os que já tinham votado mas que se afastaram e contribuíram para a maioria absoluta e que desta vez dizem vamos votar na CDU e aqueles que nunca votaram na CDU e que desta vez vão votar”. A maioria absoluta do Partido Socialista deixou cicatrizes que o PCP tenta agora curar, com um apelo ao voto útil à esquerda, aos eleitores que “cometeram um erro” que “não é para ser cometido uma segunda vez”.

Tem sido regra, sem uma única exceção, os discursos de campanha da CDU serem encerrados com a Carvalhesa, o hino nacional, a Grândola Vila Morena e um discurso de Paulo Raimundo. O secretário-geral só volta a Lisboa para conhecer o resultado eleitoral e quis dramatizar o apelo ao voto à esquerda. “Aos muitos que já votaram alguma vez, ou os que estão a ponderar votar pela primeira vez na CDU”, o secretário-geral do PCP pede que “reconheçam que não há avanço sem a CDU, não há política de esquerda sem mais CDU”.

Raimundo quer os votos daqueles que “podem não estar de acordo connosco em tudo” porque “aquilo que nos une”, a “luta por uma vida melhor, pela consagração dos valores de abril”. Tudo isso, assegurou o secretário-geral, é “muito, muito, muito mais forte do que o que nos separa“.

O secretário-geral do PCP discursou num pequeno palco com uma cobertura improvisada para fazer frente à ameaça de chuva (que só acabou por cair quando a arruada terminou). Desafiou os eleitores que quer conquistar a pensar “em quem esteve lá em todos os momentos” dos hospitais aos transportes, lutas que podem ter “mais ou menos força a dia 11 de março”.

No dia de aniversário do PCP, Paulo Raimundo prometeu ser a surpresa eleitoral de 10 de março. E isso passa por combater aqueles que querem “condicionar e influenciar” o voto antes da ida às urnas ou “vender gato por lebre”. “O povo é quem mais ordena”, exclamou enquanto era interrompido por gritos de “25 de abril sempre!”

A dramatização do apelo ao voto foi ensaiada pelo secretário-geral do PCP durante todo o dia. Ainda durante a manhã e no Barreiro, Raimundo piscou o olho aos desiludidos com o último governo de António Costa e pediu aí também nas ruas do Barreiro que “mais gente se associe e convirja com a CDU, venham de onde vierem e serão muitos”.

À noite, no comício no Seixal, Paulo Raimundo discursou perante um pavilhão a abanar ao sabor do vento, perante centenas de militantes comunistas. E aí, voltou a dramatizar o apelo ao voto para “a muita gente que está indecisa”. “Cada um terá as suas razões”, mas o secretário-geral identifica um traço em comum: “A justa desilusão de promessas não cumpridas”. E para isso pede força e confiança em quem “faz o que diz e diz o que faz”, a CDU.