O PCP decidiu apresentar uma moção de rejeição ao provável governo liderado por Luís Montenegro, para deixar claro que “não será pelo PCP que o projeto da direita será implementado”. Conscientes de que esta moção será provavelmente rejeitada, os comunistas querem ainda assim dar esse “sinal político” enquanto se preparam para fazer parte da oposição — e aceitam articular-se com o resto da esquerda.
Na conferência de imprensa em que transmitiu as conclusões da primeira reunião do Comité Central pós-eleições, esta quarta-feira, Paulo Raimundo prometeu que o PCP dará “desde o primeiro minuto combate à política de direita e aos projetos reacionários”, sem “nenhuma ilusão sobre o projeto, independentemente de este início ser eventualmente de pezinhos de lã”, e que o fará utilizando “todos os meios ao dispor” — incluindo a moção de censura. Mas rejeitou fazer pressão sobre o resto da esquerda: os comunistas querem que “fique claro ao que se vai”, do lado do PCP, mas a moção “só obriga quem a apresenta” e não é apresentada para “arrastar outros”.
Por outro lado, e depois de na terça-feira PS e Livre terem confirmado ao Observador que aceitariam o convite do Bloco de Esquerda para se reunir com os partidos da esquerda em busca de “máxima convergência” (e de na manhã de quarta-feira o PAN ter feito o mesmo), o PCP acabou por dizer que “naturalmente” também aceitará reunir-se com o partido vizinho.
Bloco quer “construir uma alternativa” e convida esquerda para reuniões. PS e Livre já aceitaram
E apontou os pontos em que a esquerda poderá alcançar a tal convergência: é preciso que ela seja encontrada “nas soluções”, em temas como os salários e a Saúde, enumerou. Por outro lado, defendeu, e apesar de a Assembleia da República ser “um espaço importantíssimo”, há outros espaços em que a esquerda se pode alinhar: “No concreto, nas ações, amanhã há uma greve de jornalistas, é um momento de convergência. Aí é que se vê a convergência”, exemplificou. “Estaremos disponíveis para toda a convergência no concreto”. O que fica de fora: “Se há coisa que o PCP não fará é diluir-se em qualquer projeto que implique diluições”, possivelmente coligações ou frentes eleitorais.
E, aceitando que pelos vistos o PCP “não será acompanhado” na sua moção de rejeição, uma vez que o PS assumiu logo na noite eleitoral que não governaria, colocou-se na oposição: “Cá estaremos para ser a oposição à política de direita, com as consequências todas. O programa do PSD e do CDS por si só justifica todos os alertas que estamos a fazer”.
De resto, Raimundo admitiu que o resultado do PCP (que perdeu dois deputados, ficando com uma representação reduzida a quatro lugares no Parlamento) foi fraco (“não foi positivo, não vamos enterrar a cabeça na areia”), mas continuou a insistir que esse “elemento negativo” não só o é sobretudo para o país como resultou da “demagogia, mentira e ilusão” que “arrastou e enganou milhares para a falsa ideia da mudança”.
Ou seja, o PCP acredita que a direita criou “ilusões” na campanha, com “medidas pontuais” e “aparentes discordâncias” que na verdade não separam PSD, CDS, IL e Chega; e também disparou contra o PS, que diz “não poder deixar de ser responsabilizado” pelo cenário atual, porque tendo todas as condições na mão não respondeu aos problemas nem “desperdiçou nenhuma oportunidade de alimentar e se alimentar das forças mais reacionárias”.
Constatada a maioria com “uma expressão muito grande” que existirá à direita no Parlamento, resta ao PCP olhar para dentro e para o papel da esquerda. Ainda assim, Raimundo defendeu a “resistência” dos comunistas e contrariou a ideia de que há votos foram transferidos do partido para o Chega, sobretudo no Alentejo. “No limite diríamos que os votos do PCP impediram que o Chega elegessem em Bragança”, ironizou. “É uma narrativa criada por PSD e PS, para se alimentar das forças reacionárias. Vai ter de fazer muita reflexão”.
Já o PCP promete dedicar-se a “mobilizar” os democratas e patriotas para “construir a alternativa que se impõe”, fazer uma “jornada de contacto” com os trabalhadores e população entre 21 e 24 de março e focar-se numa “grande mobilização” para o 25 de Abril.