Não é a primeira vez que acontece, não será garantidamente a última, também não foi algo que se tenha visto muito nas últimas semanas. No mesmo dia, Pinto da Costa e André Villas-Boas deslocaram-se a Casas do FC Porto para apresentarem os seus projetos para o clube e deixarem também algumas “farpas” ao adversário. No entanto, houve uma nuance – num ponto que até aqui nunca se tinha visto, ambos comentaram quase “em direto” as palavras dos opositores apesar de haver uma distância de… quase 2.000 quilómetros.
Pinto da Costa, atual presidente que se recandidata a um 16.º mandato, esteve em Gondomar na companhia de atuais elementos dos órgãos sociais e caras novas das listas e não esqueceu os excertos conhecidos de uma entrevista de Villas-Boas à Rádio Renascença e ao Público que será conhecida esta quinta-feira: “No outro dia disse que é muito fácil desmentir Jorge Nuno Pinto da Costa. Já disse que não avançaria, que jamais apontaria uma linha de sucessão direta, que jamais consideraria o FC Porto uma monarquia, que jamais passaria o testemunho. Tenho muito respeito pelo senhor presidente mas penso que não está em condições, neste momento, de presidir a mais quatro anos no FC Porto. O que se avizinha, pós-2024, é uma linha de sucessão direta para os vices. Parece-me evidente que algumas pessoas, de certa forma, se estão cada vez mais a aproveitar da debilidade do presidente e, digamos assim, da sua incapacidade atualmente”.
“Hoje, o candidato, o sr. Villas-Boas, disse que eu estava cansado, que estava gasto, que era uma candidatura para sair e fazer de um dos meus vices um presidente. Eu não sei se estou gasto ou se não estou gasto. Mas eu ainda falo para vocês, sem precisar que me digam o que vou dizer e sem estar com o dedo a seguir as linhas. Enquanto Deus me der vida não me importo de lutar pelo FC Porto e se tiver que morrer durante um mandato para mim não há problema. Problema é que o FC Porto seja sempre dos sócios e que continue a ganhar. Isso é que me preocupa. Ainda hoje fui ao Museu, vi muita a gente a admirar as taças e ninguém à procura de ver se os capitais próprios estavam positivos ou negativos. Temos de ser todos pelo FC Porto, não podemos cair em insultos. Eu sei que as pessoas, quando se ligam a mim, são imediatamente insultadas. Não respeitam nem as famílias, mas isso cada um se rege pelos seus princípios…”, apontou Pinto da Costa.
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O líder dos azuis e brancos falou também da questão dos bilhetes para as Casas e do treinador para a próxima temporada. “Não temos de dar pelo que dizem, mas sim por ser melhor para as Casas. Se formos eleitos, vamos reunir com todas as casas no início da época para termos uma estimativa do que precisam para os jogos do FC Porto, para não andarem a pedir. O número com o qual chegarmos a um acordo, dentro das necessidades, será respeitado. Sérgio Conceição? Como compreenderá, não posso revelar as conversas que tenho com qualquer pessoa sobre a sua continuidade. Se for eleito, estou convencido de que Sérgio Conceição será o treinador do FC Porto”, comentou o líder dos azuis e brancos há mais de 40 anos.
“Não vou permitir que tentem boicotar, como toda a gente já percebeu, o complexo desportivo da Maia, que será o melhor da Europa. Não vou permitir que, por inveja, estejam a inventar problemas e problemazinhos para que não se leve avante. Já foi aprovado na reunião de Câmara, irá a hasta pública a parte que terá de ir, parte já é do FC Porto e lutaremos sempre para que seja lá o centro que terá uma dúzia de campos relvados, vai ter um hotel para 70 meninos e vai ter balneários para 500 meninos. Não posso permitir que por interesses de outros, por quererem fazer jeitos a amigos que têm terrenos encravados, venham tirar daqui o que será a joia do FC Porto”, apontou, citado pelo jornal O Jogo, antes de elogiar Jorge Mendes.
“Nós não vamos ter mais transparência, nós vamos ter transparência porque todos os nossos negócios estão completamente descritos no nosso Relatório e Contas. Quando se vem falar que há negócios obscuros, que há empresários que são os favorecidos, não é verdade. Há empresários que trabalham com o FC Porto há muito tempo, que quando o FC Porto necessita estão ao nosso lado. Dou-lhe o exemplo do senhor Jorge Mendes, que é o empresário mais antigo a trabalhar connosco, que é aquele a quem nós mais devemos, em termos monetários, porque está sempre pronto a esperar”, frisou, antes de explicar também o que se passou em relação às tarjas das duas claques dos azuis e brancos roubadas no Museu por adeptos do Hajudk Split.
Nessa mesma presença, Pinto da Costa falou também da criação de uma equipa de futebol feminino sénior, avançando mesmo que “é algo obrigatório” e que “existe um acordo com um clube”. No Luxemburgo, André Villas-Boas respondeu à ideia. “Temos de criar uma equipa de futebol feminino, não em parceria com outro clube, isso não é da grandeza do FC Porto. 2025 será o último ano em que a Federação Portuguesa de Futebol vai permitir a entrada direta na Liga”, comentou o antigo treinador no convívio com portistas.
“Peço que exerçam direito de voto, votem em quem acreditam, em liberdade. Mas não deixem de exercer esse direito. Tenham em conta a quota de março, não deixem para abril para renovar. São esperadas 25 a 30 mil pessoas para votar. Serão as mais votadas de sempre e quem não utiliza a app para renovar se veja com dificuldades para o fazer na loja dos associado, vai empancar e isso criará problema para renovar. Sei o que é ser emigrante e o que é entrar em Portugal em cada regresso. Se puderem ir votar agradeço de coração. As pessoas perderam o medo, ganharam coragem, começam a exprimir-se. Todas as decisões que esta direção tomar vão ser altamente cobradas por vocês. Na direção desportiva é onde tenho de ser intransigente. O FC Porto é dos associados, chega de mentir aos associados”, salientou Villas-Boas.
“Depois de uma liderança de 41 anos, com a glória e história que teve a liderança de Jorge Nuno Pinto da Costa, esse legado e responsabilidade estarão sobre nós. Neste espírito que nos une, há uma vontade de mudança evidente, sente-se a onda que é cada vez maior. A mudança já se sente. Quando a mudança acontecer, vocês vão exigir, vão colocar pressão sobre a Direção. Não somos campeões há dois anos e vocês vão colocar-nos essa pressão, todas as decisões serão altamente escrutinadas, pois esperam que esta direção se iguale a 41 anos da história que temos com Jorge Nuno Pinto da Costa”, referiu ainda, citado pelo jornal Record, antes de abordar também a importância de melhorar o que tem sido a política desportiva.
“Escolher o jogador do FC Porto é uma responsabilidade perante os sócios e não tem acontecido no últimos 12 anos. Se quiserem saber as razões do atual descalabro financeiro… Bolat, Sami, Mikel, Musa Yahaya, Alan Bidi, Inácio, Luizão, Kayembe, Mauro Caballero, Víctor García, Quiñones, Lichnovsky, Omar Govea, Raúl Gudiño, Leonardo Ruiz, Gleison, Fede Varela, Celestin Djim, Tony Djim, Marius, Anderson Dim, Emerson Souza. Todos jogadores do FC Porto. Alguém os viu jogar? Alguns jogadores aqui estão acima de valores transferência de três milhões de euros. Nas transferências de jogadores, determinados grupos de agentes são privilegiados, permanentemente com comissões absurdas”, concluiu André Villas-Boas.