Duas semanas depois, nenhuma resposta. Foi a 19 de março, na Casa do FC Porto de Cantanhede, que André Villas-Boas fez uma espécie de “ultimato” a Pinto da Costa e restante administração da SAD a propósito de uma carta que tinha sido enviada com questões por saber em relação ao universo dos azuis e brancos. “Na semana passada decidi, eu, como sócio, acionista e candidato, endereçar uma carta à Direção do FC Porto relativamente a questões que estão a ser tomadas sobre o FC Porto. O presidente terá oito dias para o responder, senão irei reunir acionistas e aí a comunicação será direta e institucional com a CMVM e a FC Porto SAD, obrigando a direito de resposta”, anunciou. O prazo passou, a resposta nunca chegou.

“Enviei carta à Direção do FC Porto. Têm oito dias para responder ou reúno acionistas”, avisa Villas-Boas

“O FC Porto já está a ser vendido, vocês é que ainda não viram. Naturalmente, para vender parte da SAD haveria de lançar o tema à Assembleia Geral. O que esta Direção fez foi vender 30% da Porto Comercial. As receitas comerciais são de 40 a 50 milhões de euros. Desvaloriza o valor global do FC Porto, porque 30% das receitas já estão para outro lado. Vender o FC Porto não é o caminho, o caminho é perceber a vantagem competitiva que tem enquanto clube de associados. Temos valores, temos cultura, temos história, temos legado. Um clube de um proprietário não tem este valor, esta cultura. O Inter foi de um tailandês, depois foi para um americano. Um exemplo: depois passa para um russo, para um fundo árabe e em dez anos podemos ter um clube com quatro proprietários diferentes. Estão lá, querem dinheiro, obtêm retorno e o clube segue com outros. Não ligam ao projeto desportivo, querem vertente financeira. Os clubes de associados, por falta de governança de anos anteriores, estão em situação limite e todos estão a recorrer a apoios da banca internacional para reestruturar dívida e reformatarem o projeto desportivo”, apontou sobre o tema.

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Apesar dessas questões, Villas-Boas não especificou ao certo que tipo de perguntas tinham sido colocadas e não respondidas pelos atuais dirigentes. Na carta, a que o Observador teve acesso, o ex-treinador junta seis grandes temas em blocos para perceber de melhor forma a realidade para a qual se está a candidatar.

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Logo à cabeça, Villas-Boas faz questões sobre a Connect Capital, para perceber os direitos cedidos à empresa e se os mesmos dizem apenas respeito ao contrato com a Superbock com maturidade em 2029. “Qual o encaixe obtido com aquela antecipação de receitas de 14,5 milhões euros? Qual a taxa de juro ‘all in’ (taxa base + spread + comissões + imposto do selo) implícita no contrato?”, refere. Depois, e sobre a Sagasta 2, as dúvidas têm pontos de contacto. “Qual o encaixe adicional resultante da antecipação de receitas de 54,3 milhões de euros referida no comunicado de 9 de fevereiro de 2024? Qual a taxa de juro ‘all in’ implícita no contrato? Este custo aplicou-se também às receitas que estavam antecipadas e não vencidas na Operação Sagasta 1? Qual o montante total atualmente descontado do contrato de direitos televisivos com a Altice? Qual a perspetiva a curto prazo de antecipação da totalidade das receitas do contrato Altice?”, frisou.

“FC Porto está numa situação limite. Não queria fugir às responsabilidades mas 2028 já não é para mim”, admite Villas-Boas

De seguida, na mesma supracitada carta, o antigo treinador campeão do FC Porto faz algumas questões sobre a Quadrantis, fundo que já esteve no centro da discussão durante a campanha por ter ligação a João Rafael Koehler, candidato a vice de Pinto da Costa. “Estão em fase de preparação/conclusão algumas operações adicionais de antecipação de receitas? Em caso afirmativo, essas operações têm como contraparte fundos geridos pela Quadrantis, em particular o Fundo Quadrantis Private Equity?”, interroga.

A reavaliação do Estádio do Dragão, que teve grande impacto nas contas apresentadas no final do primeiro semestre do exercício de 2023/24, é um dos pontos que mais dúvidas gera no candidato: “Qual o montante de receitas operacionais e custos operacionais considerado para efeitos de reavaliação do Estádio relativos ao exercício 22/23? Que taxas de crescimento anuais foram consideradas na avaliação para os próximos cinco exercícios completos? Que taxa de crescimento foi considerada na perpetuidade? Qual o período de vida útil remanescente do Estádio e quais as amortizações anuais adicionais resultantes da reavaliação do Estádio? A renda paga pela utilização do Estádio pela FC Porto SAD à EuroAntas irá aumentar? Para que valor? A não ser o caso, como se justifica que a reavaliação do ativo tenha por base uma receita que não reverte para a EuroAntas? Qual o motivo para os auditores não permitirem reconhecer impostos diferidos ativos na operação? É possível ter acesso aos relatórios de avaliador e auditor relativos a esta operação?”.

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Em paralelo, e no âmbito do acordo feito com a Legends/Sixth Street, o candidato deixa várias perguntas a propósito do acordo feito a envolver a Porto Comercial. “Que ativos serão transferidos para a Porto Comercial 2 e por que forma? Assumindo o exercício de 22/23, para fins ilustrativos, qual o montante de receitas operacionais e custos operacionais que seriam transferidos para a Porto Comercial 2 com esta operação? Que taxas de crescimento anuais foram consideradas para essas receitas e custos para os próximos cinco exercícios completos? Do valor do encaixe com a venda da participação de 30% da Porto Comercial 2 que valor deverá ser reinvestido na modernização do Estádio ou tem já outros fins a que deva ser obrigatoriamente alocado e, se sim, quais?”, começa por questionar nesse penúltimo ponto da carta.

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“Que valor está previsto pagar de dividendos aos parceiros nos próximos 5 anos e que taxa de crescimento desses dividendos está prevista a partir daí? A FC Porto SAD ficará com opção de compra dos 30% e, se sim, em que condições? O parceiro fica com opção de venda dos 30% e, em caso afirmativo, em que condições? Qual a duração prevista do acordo? A Porto Comercial 2 irá continuar a fazer parte do Grupo Fiscal? A operação gera encargos fiscais na SAD ou nas empresas por ela detidas (e.g., IMT, Selo, IVA, IRC) e, em caso afirmativo, quais e de que montante?”, acrescenta a esse propósito ainda sobre a Porto Comercial 2.

Por fim, Villas-Boas faz algumas questões sobre a ida de Fernando Gomes, administrador da SAD dos azuis e brancos, à Suíça. “Foi noticiado na semana passada uma deslocação do Administrador com o pelouro financeiro da FC Porto SAD à UEFA. Os motivos dessa deslocação estão relacionados com incumprimento regras fair play financeiro? A 31 de dezembro de 2023 a SAD cumpre os requisitos impostos pelo novo regulamento da UEFA? A não ser o caso, cumprirá esses requisitos a 31 de março de 2024? Que sanções poderão ser impostas pela UEFA à SAD?”, concluiu André Villas-Boas na mesma carta.

“O 13 de novembro é triste mas acordou portistas para a realidade e pode levar clube para outra via”, destaca Villas-Boas