Começou esta terça-feira o julgamento que envolve uma das maiores redes de tráfico de droga em Portugal. Rúben Oliveira, mais conhecido por “Xuxas”, é o principal arguido, está preso desde 2022 — estão detidos outros sete arguidos — foi o último arguido a entrar na sala de audiências e o primeiro a prestar declarações, para dizer que fala, mas “durante o julgamento”.
O Ministério Público constituiu 19 arguidos — 16 pessoas e três empresas –, que estiveram todos esta manhã em tribunal. Mas só dois disseram querer prestar declarações. William Cruz, considerado pelo Ministério Público como um dos distribuidores, foi o primeiro arguido a ser ouvido pelo coletivo de juízes, já com todos os outros fora da sala — Rúben Oliveira foi o único que ficou a aguardar numa sala diferente.
O segundo a querer prestar declarações foi Gurvinder Singh, que está com pulseira eletrónica, e sob proteção policial, segundo o Público, uma vez que o seu testemunho pode comprometer outros arguidos. Dono de duas lojas e um restaurante, este arguido explicou ao coletivo de juízes que conheceu “Xuxas” por este ser seu cliente. E foi Rúben Oliveira quem o apresentou ao arguido Luís Ferreira, que foi descrito como vendedor de fruta. “Este senhor vende fruta do estrangeiro e vende a fruta mais barata do mercado”, disse Gurvinder Singh. Os dois, Gurvinder Singh e Luís Ferreira fizeram vários negócios de compra e venda de fruta, nomeadamente de papaia — o Ministério Público acredita que a droga era transportada através da fruta.
Foram encontradas várias encomendas de papaia, em grandes quantidades, feitas pela empresa de Gurvinder Singh. E a juíza Filipa Araújo quis saber como é que eram feitas estas compras e qual o motivo para quantidades bem acima daquilo que seria suposto para duas lojas e um restaurante. “Quem é que decidia, cada vez que a sua empresa fazia uma importação de papaia, qual a quantidade de papaia?”, questionou. A resposta era sempre a mesma: quem decidia era Luís Ferreira.
Ainda no início da sessão, e já com a sala cheia, Vítor Parente Ribeiro, advogado de Rúben Oliveira, quis deixar uma nota em tom de crítica, tanto ao tribunal, como à comunicação social: “Não podem ser autorizados julgamentos em praça pública”. “Referir-se a este processo como o processo do “xuxas” é sintomático da influência que a comunicação social tem”, acrescentou o advogado.
Defesa de “Xuxas” diz não haver prova de um “único negócio” de droga do arguido
Segundo o MP, esta rede de tráfico de droga tinha ligações com grupos de narcotráfico da Colômbia e do Brasil desde 2019 e era destes países que era importada a droga que entrava em Portugal. Esta organização, lê-se na acusação, teria ainda domínio nos portos de Leixões e de Setúbal, o que permitiria a entrada da droga no país, evitando a fiscalização das autoridades. A PJ chegou a fazer apreensões de cocaína nestes portos, estando nestes locais alguns dos arguidos deste processo.
Ainda de acordo com a acusação do Ministério Público, a droga entrava em Portugal através de empresas de importação de frutas e de outros bens alimentares, em contentores que chegavam aos portos. Mas este grupo tinha ainda outras formas de atuar e chegaram a trazer, diz o MP, droga dentro de malas, em viagens do Brasil para Portugal.