O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Han Duck-soo, assumiu a intenção de apresentar a demissão, depois de as eleições para o Parlamento terem dado uma derrota significativa ao Partido Popular da Coreia — um resultado que também fragiliza a posição do Presidente, Yoon Suk-yeol.
O líder do Partido do Poder Popular (PPP), Han Dong-hoon, também anunciou que vai resignar ao cargo, depois de ter conduzido a campanha que conquistou apenas 90 mandatos dos 254 elegíveis. “O nosso partido fez o seu melhor para concretizar políticas representativas da vontade popular, mas os resultados são dececionantes”.
O Partido Democrático (PD) — o principal partido de oposição — elegeu 161 parlamentares e conseguiu 14 mandatos do sistema de representação proporcional. Em conjunto com outras forças políticas mais pequenas, como o Partido Novo Futuro (centro-esquerda), o Partido Progressista (esquerda) e o Partido Reconstruir a Coreia (liberal) — este último, constituído há apenas umas semanas —, o bloco de oposição na representação parlamentar da Coreia do Sul é agora maioritário, com um total de 189 lugares conquistados.
Yum Seung-yul, analista político sul-coreano, disse, em declarações à Agência France-Press, que “os números revelam um descontentamento dos jovens em relação a Yoon pelos seus dois anos de mandato”.
Yoon Suk-yeol tem perdido popularidade ao longo do tempo, ao deixar por cumprir as suas promessas de corte nos impostos, de liberalização do mercado e de políticas de apoio à família — isto numa sociedade com estatísticas de envelhecimento galopante e que enfrenta uma crise no custo de vida.
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O líder sul-coreano tem sido criticado pela sua insensibilidade às condições de vida da população. No mês passado, Yoon envolveu-se numa polémica durante uma visita a um supermercado em Seoul, ao considerar “razoável” um molho de cebolinho custar 875 won (cerca de 0,60€) — porém, tratava-se de um artigo em desconto, cujo preço normal é entre os 3000 e os 4000 won (2,04€ e 2,73€).
O episódio foi de tal forma marcante que o cebolinho se transformou num símbolo político de oposição, com forte presença na campanha política do Partido Democrático e do Partido Reconstruir a Coreia.
Ainda assim, a nova configuração do parlamento sul-coreano não conferiu à oposição uma maioria de dois terços — um número que permitiria ultrapassar vetos presidenciais e até destituir Yoon Suk-yeol.
“Aceitamos humildemente o resultado”, disse Yoon, que prometeu mudanças na condução política do país. Porém, a capacidade legislativa do Presidente está bastante limitada pelos resultados eleitorais, pelo que, de acordo com o investigador Mason Richey, citado pela Reuters, a tendência agora é que Yoon “se concentre na política externa, onde mantém poder estatutário” — uma estratégia que o Presidente tem prosseguido, sobretudo nas relações da Coreia com os EUA e o Japão.
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67% dos eleitores — quase 29,7 milhões de pessoas — votaram nas eleições de quarta-feira, de acordo com a Comissão Nacional de Eleições da Coreia do Sul. Com 99% dos votos contados, os resultados serão confirmados no final desta quinta-feira.
A Coreia do Sul tem um sistema presidencial, em que o Presidente é eleito a cada cinco anos para um mandato único.
O Parlamento tem 300 deputados e combina um sistema de eleição direta, que preenche 254 mandatos, com um modelo de representação proporcional, que distribui os votos que não chegaram para eleger diretamente os parlamentares.