Era um dos dirigentes políticos mais ricos na Rússia e usufruía de um estilo de vida de luxo. Esta terça-feira, Timur Ivanov, vice-ministro da Defesa russo, foi detido, informou a Comissão de Investigação da Rússia, acusando o político de 48 anos de “aceitar um suborno”.

Os detalhes sobre a detenção são escassos. A nota da Comissão russa não oferece qualquer explicação em relação ao suborno em questão. “Sob a suspeita de cometer um crime previsto na alínea 6 do artigo 290º do Código Penal Russo, o vice-ministro da Federação Russa Timur Vadimovich Ivanov foi detido”, lê-se numa da conta do Telegram do órgão.

Segundo o jornal russo Kommersant, o vice-ministro esteve presente, esta terça-feira, numa reunião do Ministério da Defesa, liderado por Sergei Shoigu, um dos governantes em que Vladimir Putin mais confia. Acabou detido por conta de “suborno”, que aquela publicação aponta que será superior a um milhão de rublos (cerca de 10 mil euros). Caso for condenado, a pena do homem de 48 anos pode chegar aos 15 anos.

Na funções que ocupa, Timur Ivanov, no cargo desde 2016, é responsável por gerir as propriedades militares, incluindo a construção de novas habitações para as Forças Armadas. Não é de estranhar, por isso, que disponha de poderes suficientes para adquirir bens imobiliários, ordenar a realização de obras, incluindo nas instalações do Ministério da Defesa, em Moscovo. Lidera igualmente o departamento da medicina militar.

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O Presidente russo, Vladimir Putin, e Sergei Shoigu já foram informados da detenção de Timur Ivanov, indicou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

A polémica reconstrução de Mariupol e a vida faustosa da ex-mulher

Palcos de intensos combates, a cidade de Mariupol estava completamente destruída após ser ocupada pelas tropas russas em maio de 2022. O portal de investigação The Insider apurou que Timur Ivanov lucrou milhões de rublos em Mariupol. A empresa de construção ligada ao Ministério da Defesa (que o vice-ministro controlava) construiu vários edifícios naquela cidade mesmo antes de o conflito ter começado, usando uma empresa privada, Olimpcitystroy, como testa de ferro.

A destruição de Mariupol revelou-se uma excelente oportunidade para construir um maior número de edifícios. De acordo com o The Insider, Timur Ivanov chegou a deslocar-se à cidade para ver como é que as obras estavam a progredir. Sergei Khrabrykh, antigo empreiteiro que trabalhou para o Ministério da Defesa, disse ao portal de investigação que “ninguém sabe quanto tempo Mariupol ficará” sob tutela russa. “Por isso, para quê construir se vai ser novamente controlada [pela Ucrânia] ou bombardeada? Mas o dinheiro foi alocado e gasto. Em geral, a guerra é uma altura excelente para empreiteiros militares.”

Ao The Insider, um antigo amigo de Timur Ivanov descreve-o como sendo alguém que “adora a boa vida”. “Quando a guerra for perdida, e o regime de Putin enfraquecer, o Timur já roubou suficiente em Mariupol por várias gerações.” 

Esse antigo amigo descreve o vice-ministro da Defesa como alguém que é “pró-Ocidente”. Assim sendo, não tinha dúvidas que, se a Rússia perdesse a guerra, Timur Ivanov fugiria para o Ocidente, onde iria desfrutar de um estilo de vida luxuoso.

Esta atitude pró-Ocidente manifestava-se igualmente no estilo de vida da ex-mulher e atual companheira, que viajava para França depois de a guerra na Ucrânia ter começado, apesar de Timur Ivanov ter sido sancionado pela União Europeia em outubro de 2022. Quatro meses antes, divorciou-se de Svetlana Zakharova, para que esta conseguisse fugir das sanções. O casal continuará, no entanto, junto.

A Fundação Anticorrupção, fundada pelo principal opositor russo Alexei Navalny, denunciou, em abril de 2023, que Svetlana Zakharova era um exemplo “do extremo glamour russo” que “radiava riqueza”: “Diamantes, [casacos] de pele, Rolls Royces — ela tem tudo e muito mais”. 

Um dos vídeos revelados pela Fundação Anticorrupção mostra Svetlana Zakharova numa festa numa estância de ski nos Alpes Franceses, em março de 2023. Em reação, vários manifestantes saíram às ruas de Paris para exigiram que a União Europeia apertasse a malha no que diz respeito às sanções aplicadas aos dirigentes russos.

Na sua vida pessoal, Timur Ivanov era amigo ainda do porta-voz do Kremlin e terá oferecido a Dmitry Peskov um relógio avaliado em 85 mil dólares (cerca de 80 mil euros). Ainda de acordo com uma investigação publicada igualmente pela Fundação Anticorrupção, aquele valor é metade do que o responsável da presidência russa ganha num ano.  

A edição russa da revista Forbes chegou a considerar, em 2019, a família de Timur Ivanov uma das mais ricas entre a elite política russa com uma fortuna avaliada nos 13,6 milhões de rublos.