Na sequência do caso das gémeas brasileiras que foram tratadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e a quem foi administrado o medicamento Zolgensma, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que cortou relações com o filho, Nuno Rebelo de Sousa. “É imperdoável, porque sabe que tenho um cargo público e político e pago por isso”, disse o Presidente da República, durante um jantar, esta terça-feira à noite, segundo o Diário de Notícias.

No mesmo jantar participaram jornalistas estrangeiros que vivem em Portugal e, também de acordo com o DN, foi o Presidente da República a colocar o tema em cima da mesa, ainda antes de ter sido feita qualquer pergunta, admitindo que “há coisas piores”. “Ele tem 51 anos. Se fosse o meu neto mais velho preferido, com 20 anos, eu iria sentir-me corresponsável. Mas, com 51 anos, é maior e vacinado“, acrescentou. “As gémeas foram um fenómeno adicional, mas não me desgastou politicamente, desgastou-me pessoalmente.”

O afastamento dos dois terá começado, no entanto, ainda antes de ter ficado conhecido o caso das gémeas. Segundo o jornal Correio Braziliense, Marcelo contou, também durante o jantar, que, numa das visitas do Presidente ao Brasil, Nuno Rebelo de Sousa marcou um encontro com políticos brasileiros. O objetivo do filho seria, segundo Marcelo, mostrar que tinha influência junto do Governo português — coisa que não agradou ao chefe de Estado.

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“Expliquei a um antigo Presidente brasileiro, a presidentes de partidos, governadores que, se eu aceitasse que ele fosse, eles ficariam convencidos de que a melhor maneira de se chegar até a mim era através do filho. E o filho ficaria convencido de que a melhor maneira de chegar até eles era através de mim”, contou durante o jantar de terça-feira. E concluiu: “Isso veio pouco meses antes das gémeas, o que mostrou o acerto da minha decisão [de romper com o filho]”.

Marcelo cortou relações com filho: “Não falo, ponto”

Questionado sobre as palavra que proferiu nesse jantar com jornalistas estrangeiros, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que “já respondeu a isso duas vezes”. Recordando o dia 24 de dezembro, o chefe de Estado frisou que considera “inaceitável”que Nuno Rebelo de Sousa tenha “tomado iniciativas que devia ter comunicado previamente ao pai, enquanto Presidente da República” e, agora, “soma o facto de terem decorrido mais seis meses sem explicação sobre a matéria”.

O Presidente da República reiterou que não fala com o filho, ainda explicou que ficou a sensação, no passado, de que não falava com Nuno Rebelo de Sousa sobre o caso das gémeas e assegurou agora que não é só isso. “Não falo em geral, não falo, ponto”, garantiu, reconhecendo que sente “muita mágoa pessoal”, mas que não é o responsável pela situação.

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Na altura da polémica, lembra o Presidente da República, António Costa tinha acabado de se demitir, na sequência do processo Influencer. Por isso, ironiza Marcelo, “consolavam-se” mutuamente: “Eu consolava-o em relação ao caso dele, e ele consolava-me no caso das gémeas.”

Marcelo Rebelo de Sousa quis ainda sublinhar, mais uma vez, que não conhece as gémeas que receberam tratamento no Hospital de Santa Maria com um medicamento para a atrofia muscular espinhal. As duas gémeas viviam no Brasil, conseguiram adquirir entretanto nacionalidade portuguesa e vieram a Portugal receber, em 2020, o medicamento Zolgensma.

O custo total do tratamento ficou pelos quatro milhões de euros e a família em causa tinha uma relação muito próxima com o filho do Presidente da República, sendo que Marcelo Rebelo de Sousa negou sempre o seu envolvimento. O caso está a ser investigado pelo Ministério Público.