Não é fácil apontar qual o melhor Ferrari do momento e, muito menos, qual é o mais nobre ou o mais respeitado junto da maioria dos clientes. Mas é um facto que os coupés mais luxuosos e daí considerados GT, de Gran Turismo, equipados com o V12 — o mais imponente motor da casa do Cavallino Rampante —, tendem a dominar as preferências dos fãs da marca. Daí a importância da apresentação do novo Ferrari 12Cilindri, o coupé com dois lugares e motor V12 revelado hoje e que o Observador já viu e analisou em pormenor.

A tarefa do novo 12Cilindri não é fácil, uma vez que lhe cabe suceder a um modelo que marcou a casa fundada por Enzo Ferrari em 1939. Referimo-nos ao 812 Superfast, que surgiu em 2021, para depois evoluir para uma nova versão mais desportiva, a 812 Competizione. Todos estes modelos recorrem ao motor mais nobre do construtor, o 6.5 V12 atmosférico, uma vez que é fácil extrair muitos cavalos de um motor sobrealimentado, mas só um verdadeiro puro-sangue consegue consegue debitar potência sem recurso à sobrealimentação.

Agressivo, com ar de Daytona e truques na manga

Como é habitual nos coupés da Ferrari com motor V12 instalado em posição central, o novo 12Cilindri apresenta uma frente comprida e uma generosa distância entre eixos (2,70 metros), sendo que a primeira se destina a acolher o enorme conjunto formado pelo V12 com 6,5 litros de capacidade e a caixa automática de dupla embraiagem e oito velocidades, enquanto a segunda visa instalar a mecânica em posição quase central — isto é, com o V12 e a caixa instalados atrás do eixo dianteiro —, para melhor distribuição de massas entre os dois eixos, com 48,3% a incidir sobre a frente e 51,7% sobre o eixo traseiro.

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A frente comprida surge associada a um habitáculo muito chegado atrás, sendo que neste cabem apenas dois adultos. E o Observador esteve sentado a bordo, podendo assegurar que não foi a falta de espaço, em largura, comprimento ou altura que nos impediu de encomendar uma unidade, com a razão a prender-se antes com uma certa falta de liquidez… E, para condutor e acompanhante passearem sem problemas, o 12Cilindri coupé proporciona ainda uma bagageira com 270 litros, o que se não dá para realizar as compras do mês no supermercado, permite enfrentar sem dificuldades as necessidades de um casal para um fim-de-semana prolongado ou até um mês de férias.

Mas há dois pormenores que importa salientar, nomeadamente uma solução estética que apela ao passado e um curioso truque que a Ferrari tirou da manga. A solução histórica prende-se com o retomar da frente tipo 365 GTB/4 Daytona de 1967, um dos modelos mais emblemáticos e procurados da marca e também ele equipado com um motor V12 à frente. Caracterizava-se por, à semelhança do novo 12Cilindri, ter uma frente em que os faróis estavam unidos por uma faixa em plástico mais escuro.

Além desta tónica histórica, a carroçaria elegante do novo coupé da Ferrari guarda ainda um trunfo, mas aqui com uma componente obviamente moderna. Referimo-nos à asa traseira, uma vez que um modelo com mais de 800 cv necessita de todo o apoio aerodinâmico que lhe seja permitido, a fim de colocar no asfalto a potência do seu V12. Só que a Ferrari, em vez de equipar o 12Cilindri com uma asa proeminente fixa, ou uma móvel tradicional, a toda a largura, optou por dois apêndices separados. Na realidade, são duas pequenas asas, uma em cada extremidade da traseira, que abrem (levantam a 60 km/h e baixam acima dos 300 km/h, gerando 50 kg de carga a 250 km/h) para incrementar o apoio.

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Segundo a Ferrari, com as pequenas asas posteriores a moverem-se em conjunto, os técnicos italianos conseguem assim não desvirtuar o espírito GT do 12Cilindri, garantindo, por outro lado, que a traseira permanece colada ao chão. Um splitter frontal mais eficiente, uma aerodinâmica mais apurada e um peso de apenas 1560 kg em vazio, abaixo pois dos 1705 kg (de homologação) do 812 Superfast, explicam a confiança que a marca coloca no incremento do prazer de condução que o novo coupé V12 vai garantir.

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O mesmo 6.5 V12, mas mais eficiente e com RWS

Como não poderia deixar de ser, o 12Cilindri monta o V12 da marca de Maranello, com 6,5 litros de cilindrada e, nesta versão, 830 cv e 678 Nm (a mesma potência do 812 Competizione). Só que o V12 percorreu um longo caminho até chegar aqui, reduzindo o ruído e as emissões, que dependem directamente do consumo. De realçar que esta unidade motriz atinge a potência máxima às 9250 rpm, continua depois a subir de regime até às 9500 rpm, regime em que intervém o limitador, sendo que este é o motor a combustão mais potente da Ferrari, apesar de ser atmosférico, uma vez que o SF90, que reivindica 1000 cv, extrai apenas 780 cv do motor 4.0 V8 biturbo, com a restante potência a ser assegurada por três motores eléctricos alimentados por uma bateria com 7,9 kWh.

De acordo com o construtor, o renovado V12 passou a montar bielas em titânio, 40% mais leves, além de uma cambota 3% mais ligeira para facilitar a subida até às 9500 rpm. E, para diminuir o desgaste a este regime, foi adoptado um novo tipo de balanceiros para minimizar a fricção. O V12 conta ainda com o Aspirated Torque Shaping, um sistema que recorre à electrónica para modificar a curva de binário (isto é, a forma como o motor fornece a força) e que melhora a resposta do V12 sobretudo em 3ª e 4ª.

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Um novo catalisador específico e um filtro de partículas diferente ajudam a diminuir a contra-pressão no escape, com o que se perde em nobreza no roncar do V12 a ser compensado com a instalação de “ressonadores” para incrementar a emoção acústica no habitáculo, sem recurso a electrónica ou a sons virtuais. Associado ao V12 está uma nova caixa automática de oito velocidades e dupla embraiagem, que é agora 5% mais curta para se acomodar mais facilmente.

12Cilindri concilia luxo e eficiência

Uma vez sentados a bordo, o novo coupé da Ferrari surpreende pelo requinte e nível de acabamentos, recorrendo a materiais nobres e a um design suportado por dois módulos separados para condutor e passageiro. Três ecrãs digitais desempenham o papel de painel de instrumentos multifunções (onde também corre o sistema de navegação), com o ecrã central instalado mais abaixo do que o normal, servindo sobretudo para controlar a ventilação e o rádio, entre outras funções. Já o terceiro display fica em frente ao ocupante do banco do lado, permitindo-lhe igualmente controlar funções do sistema de infoentretenimento.

Mas o que verdadeiramente fará vibrar os amantes de veículos com raça é o conjunto formado pela mecânica e o chassi, que também é integralmente novo, 20 mm mais curto entre eixos e com mais 15% de rigidez torcional, o que ajuda na precisão do comportamento. Mas a forma como o 12Cilindri lida com as zonas sinuosas e uma utilização desportiva também é determinada pela eficiência do sistema de rodas traseiras direccionais (RWS), que viram no sentido contrário ao das anteriores a velocidades mais baixas, para melhorar a capacidade de manobra, e no mesmo sentido a velocidades superiores.

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Para reforçar o papel das asas traseiras e do splitter frontal, a Ferrari dotou ainda o 12Cilindri com uma zona inferior do chassi particularmente complexa, que termina num extractor na traseira que reforça a carga aerodinâmica sem criar arrasto e piorar o coeficiente de penetração aerodinâmica. Os técnicos da marca desenvolveram ainda um Side Slip Control para permitir que condutores menos experientes sejam capazes de pilotar a um ritmo muito vivo e com menos riscos, sentindo uma maior facilidade em dominar o 12Cilindri em derrapagens controladas.

O novo coupé italiano anuncia 340 km/h de velocidade máxima e 0-100 km/h em apenas 29 segundos, tendo o início das entregas a clientes agendado para o 4.º trimestre de 2024, por 395.000€. Isto para a versão coupé, com carroçaria fechada, uma vez que a Ferrari vai, pela primeira vez, comercializar em simultâneo o 12Cilindri Spider, a versão descapotável de que falaremos em separado.