Fernando Medina, antigo ministro das Finanças, disse não ter sido convidado por Pedro Nuno Santos a integrar a lista do Partido Socialista para as eleições Europeias, mas rejeita que a ausência tenha sido uma surpresa para si. “A opção do secretário-geral foi por uma solução que é conhecida, que é a solução do PS (…) não tinha nenhuma manifestação particular de interesse relativamente à minha participação” na lista das europeias, afirmou, em entrevista à SIC Notícias.

Reconhecendo que é “facto” que Pedro Nuno Santos promoveu uma “mudança completa da lista” para as eleições que se realizam a 9 de junho, Medina salientou que nunca teve “nenhuma demonstração de querer essa posição”. “Nunca fui convidado, nunca rejeitei, nunca aceitei, não houve aqui nada de atrito relativamente a esse ponto.”

Quanto ao manifesto, assinado por 50 personalidades, que pede uma “reforma” do sistema da Justiça em “defesa do Estado de direito democrático”, Fernando Medina diz vê-lo com “coragem”. “Vi com bons olhos esse manifesto e o apelo que é feito a essa reflexão e a esse debate e depois à tomada de decisões, porque creio que se torna claro que muitas coisas aconteceram e estão a acontecer não deviam ter acontecido nos termos em que se passaram”.

Questionado sobre se concorda com a necessidade da Procuradora-Geral da República ir ao Parlamento, o ex-ministro das Finanças disse não se querer “focar” nessa questão concreta — até porque é “deputado”. “Agora, sou claro: eu acho que a Procuradoria-Geral da República só ganha em prestar o máximo de esclarecimentos”, prosseguiu.

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Preferia que existisse uma proatividade da própria PGR em prestar esclarecimentos. A comunicação deve ser um requisito prévio de um exercício de função daquela natureza, mais a mais porque é uma entidade do nosso sistema democrático que não tem órgão onde preste publicamente esclarecimentos sobre a sua ação”.

Para Fernando Medina, “a situação que vivemos é a todos os títulos indesejável e impossível de sustentar em democracia avançada”, que é no fundo um “jogo de silêncios, decisões tomadas — por vezes não se sabe por quem — dentro de organizações, mandam governos abaixo, mandam primeiros-ministros abaixo, tribunais superiores destroem toda essa argumentação e depois tudo se remete ao silêncio, sem ninguém esclarecimento e até nenhuma audição passados meses do próprio primeiro-ministro envolvido”. “Acho que isto não é natural”, salientou, referindo-se à Operação Influencer, que ditou a queda do Governo.

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Durante a entrevista à SIC Notícias existiu ainda tempo para Medina dizer que nunca teve ambição de ser secretário-geral do PS, para pedir para que os sinais positivos da economia sejam “acarinhados” e para acusar o Governo de agir como se tivesse uma maioria absoluta. Nesse sentido, o antigo governante socialista disse ver “um ausência de procurar pontos de diálogo” por parte do executivo: “Vejo uma ideia de tentar governar como se tivesse maioria, mas é que este Governo não só não tem maioria como nem sequer é um Governo popular nas sondagens”, afirmou, atirando que “parece que querem repetir a queda de Governo de Cavaco Silva de 1987”.

As trocas de acusações entre Fernando Medina e Joaquim Miranda Sarmento a propósito das contas públicas também foram tema, com o ex-ministro das Finanças a ter garantindo que “as contas públicas estão sólidas”, como apresentou “ao país na altura de passagem de pasta”, apontando para um superavit de 0,7%.

Para o socialista, a diferença nos números tem “uma de duas explicações: ou ignorância, que é má para o país, mas que é uma interpretação possível; ou falsidade e guerrilha política”. Argumentando que as interpretações são “muito más para o país”, Medina acusou o atual titular da pasta das Finanças de ter criado uma “situação de algum alarme sobre a situação financeira” portuguesa, que “obviamente atinge o país”, mas que também é “ouvida lá fora”, nomeadamente pelas agências de rating. Por isso, sublinhou a importância de Miranda Sarmento “medir muitíssimo bem as palavras”.

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Sobre o aumento da despesa fixa em 13%, entre março de 2023 e deste ano,  Medina esclareceu que todas as despesas estavam programadas e apontou para que, nos próximos meses, a taxa de crescimento dos gastos do Estado vá “cair”.