A modelo Anna Haholkina ficou chocada quando se deparou com fotografias suas espalhadas pelas ruas de Milão em cartazes eleitorais do partido de extrema-direita italiano Liga, sem nunca ter dado autorização para que fossem usadas para esse fim. Neles, a sua imagem era usada como um exemplo de uma mulher ocidental “livre”, em comparação como uma outra, a envergar um niqab e “forçada a cobrir o rosto”, em representação da cultura islâmica. “De que lado é que queres estar?”, pode ler-se nos cartazes que têm sido notícia na imprensa italiana e que a jovem, de 30 anos, descreve como “racistas”.
“Preciso da vossa ajuda! Há várias semanas que a cidade de Milão vê este cartaz em que foi usada uma fotografia minha (…). Quero avançar com uma queixa por difamação, tendo em conta que não sou de todo a favor do seu uso“, partilhou recentemente numa publicação nas redes sociais, onde pedia conselhos sobre como contactar um especialista em direito de imagem que a pudesse ajudar com a resolver o caso.
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Em declarações ao jornal Corriere Della Sera, Haholkina, uma modelo ucraniana com cidadania italiana, explicou que a imagem usada nos cartazes foi captada há cerca de dois anos com o intuito de ser usada para vender produtos de beleza. “Em vez disso, a Liga usou-a como parte da sua campanha eleitoral”, denunciou, referindo que terá sido retirada de um prestador de imagens, provavelmente do Shutterstock.
A jovem reconheceu que assinou um documento a autorizar o uso da fotografia, mas sublinhou que as regras da plataforma estipulam que as imagens não podem ser usadas para fins políticos ou de campanhas eleitorais. O Corriere Della Sera nota, no entanto, que o Liga, partido liderado por Mateo Salvini e que integra a coligação governamental da primeira-ministra Giorgia Meloni, poderá ter utilizado uma subscrição premium para comprar a foto e usá-la.
Não quero ser associada a nenhum partido, mas acima de tudo porque estes cartazes são racistas. E não aceito estar neles”, disse em entrevista ao Corriere Della Sera.
“O que mais me incomoda é que ninguém me contactou ou procurou a fotógrafa para me perguntar se podiam usar a minha foto. Não recebi nenhuma notificação nas redes sociais, nenhum pedido, nenhum email. Se tivesse havido teria explicado que para aquele trabalho, num cartaz de discriminação racial, eu não teria dado o meu consentimento”, garantiu.
Os cartazes foram colocados numa altura em que os países europeus se começam a preparar para as eleições de junho, que o líder do partido Liga já se referiu como um “referendo ao futuro da Europa” para decidir “se ainda vai existir ou se vai tornar-se numa colónia sino-islâmica”.