Vários membros com acesso exclusivo ao Royal Albert Hall, no Reino Unido, estão envolvidos num escândalo depois de ser revelado que utilizaram a sua quota de bilhetes para lucrar com espetáculos de beneficência que revertiam a favor de jovens com cancro.
A informação é avançada pelo The Guardian, baseada no testemunho de Roger Daltrey, o vocalista dos The Who, um dos artistas que atuou nos últimos meses para o Teenage Cancer Trust no recinto histórico, em Londres. O músico levantou questões sobre a venda de bilhetes em lugares reservados a supostos membros exclusivos. Já a instituição de caridade lamentou que os bilhetes tivessem sido vendidos com vista à obtenção de benefícios financeiros privados e não destinados à caridade.
Daltrey, que deixou formalmente o seu cargo de curador dos concertos de beneficência, após 24 anos na posição, disse que a atitude de alguns membros não é aceitável. “É óbvio que têm o direito de ficar com os bilhetes, mas se isso é moralmente correto ou incorreto é uma coisa diferente”, afirmou. “É lamentável o que se está a passar. É uma questão moral“, acrescentou, apelando a que sejam alteradas as regras relativas à utilização de bilhetes para os membros com direitos vitalícios.
Enquanto alguns detentores autorizaram que o seus lugares fossem vendidos pela bilheteira em benefício de causas de solidariedade, outros lucraram com a sua venda num site de venda de bilhetes. Segundo o jornal britânico, foram vendidos lugares para assistir aos espetáculos dos The Who, em março, por 139 libras (161 euros) no site Hoorah.
Um quarto dos 5.272 lugares do Royal Albert Hall são propriedade dos 316 sucessores e herdeiros dos subscritores originais que financiaram a criação do recinto, em 1867. Citado pelo jornal britânico, Richard Lyttelton, antigo presidente do Royal Albert Hall, abordou a questão numa sessão da Câmara dos Lordes em que se analisaram possíveis alterações aos estatutos do local.
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“Os artistas fizeram a sua atuação e patrocinaram todo o concerto. Alguns membros consideraram que era totalmente apropriado, porque são investidores que vendem os seus bilhetes para seu benefício próprio. Penso que isso ilustra bem o tipo de mentalidade”, afirmou o antigo responsável.