O Festival de Cannes começa esta terça-feira e o realizador iraniano Mohammad Rasoulof, que tem um filme em competição, conseguiu fugir do Irão e está já na Europa, ainda que não seja conhecido o exato local onde se encontra neste momento, adianta a agência Reuters. O realizador do filme “There Is No Evil”, sobre a pena de morte no Irão e que lhe valeu o Urso de Ouro de Berlim em 2020, foi condenado na semana passada a uma pena de prisão de oito anos, à pena de flagelação e ao confisco do seu património. Em causa estavam crimes “contra a segurança” do Estado, por ter filmado o seu último filme, “The Seed Of The Sacred Fig”, em segredo.
Em comunicado, o realizador referiu que está num “refúgio seguro”. “Estou vivo para contar a história”, acrescentou. A saída do Irão, depois da condenação foi também motivada pela probabilidade de uma nova condenação depois da estreia do novo filme. “Uma nova sentença será acrescentada a esses oito anos”, considerou. “Tive de escolher entre a prisão e abandonar o Irão. É com o coração partido que escolhi o exílio.”
Irão. Realizador Dariush Mehrjui e a sua mulher encontrados mortos em casa
Mohammad Rasoulof está na mira da justiça de Teerão há vários anos. Aliás, este realizador já esteve preso em 2022, durante mais de meio ano, por se ter manifestado contra a repressão violenta das manifestação de maio daquele ano, que surgiram na sequência do colapso de um edifício e que provocou a morte de 41 pessoas em Abadan.
[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]
E depois da estreia de “There Is No Evil” — que não é apenas um filme sobre o sistema judicial iraniano, é também um olhar sobre a moral, a obediência forçada, o arrependimento e sobre o dilema daqueles que são obrigados a executar ordens –, Mohammad Rasoulof foi condenado a um ano de prisão. Aliás, o iraniano não esteve na entrega do Urso de Ouro, tendo feito um discurso por videochamada.
No ano passado, também a propósito do Festival de Cannes, Mohammad Rasoulof voltou a ser impedido de sair do país onde nasceu, uma vez que tem o passaporte confiscado pelas autoridades iranianas desde 2017. Desta vez, o realizador não tinha nenhum filme na competição, mas tinha sido convidado a fazer parte do júri.
Realizador iraniano Saeed Roustaee condenado por mostrar filme em Cannes
A repressão como resposta tem sido constante e Mohammad Rasoulof não é o único realizador condenado pela justiça iraniana nos últimos tempos. No ano passado, em agosto, o iraniano Saeed Roustayi, que realizou o filme ‘A Lei de Teerão’, sobre o dilema do combate ao tráfico de droga na capital iraniana, e o mais recente filme ‘Os Irmãos de Leila’, foi condenado a seis meses de prisão por causa deste último filme. A justiça iraniana considerou que o filme que conta a história dos três irmãos de uma mulher chamada Leila, e que esteve também no Festival de Cannes de 2022, é uma propaganda contra o regime iraniano.