Dois anos após a invasão russa, muitos refugiados ucranianos no estrangeiro enfrentam um dilema: criar raízes no país que as acolheu ou esperar pelo momento em que o regresso à terra natal seja possível e, acima de tudo, seguro. Os resultados de um estudo divulgado esta terça-feira mostram que metade dos cidadãos deslocados na Polónia, República Checa e Alemanha admitem uma menor probabilidade de voltar à vida que tinham na Ucrânia antes de 24 de fevereiro de 2022.

O inquérito, conduzido no final de abril pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, revela que 66% dos inquiridos estão “completamente” ou “bastante satisfeitos” com as suas novas vidas nos três países mencionados. Cerca de um quarto dos refugiados ucranianos admite regressar à Ucrânia, mas apenas quando a invasão em grande escala tiver chegado ao fim.

Os inquiridos foram questionados sobre os fatores que mais pesam na decisão de regressar, ou não, à terra natal. A segurança e o bom funcionamento das infraestruturas essenciais foram eleitas como as condições mais relevantes nessa ponderação.

União Europeia prolonga proteção de refugiados ucranianos até março de 2025

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mais de 4,2 milhões de refugiados ucranianos estão atualmente registados para proteção temporária em países da União Europeia. A Polónia, vizinha da Ucrânia, lidera o grupo de países com maior número de acolhimentos. Recebeu, desde o início da invasão russa, cerca de 1 milhão de refugiados.

“Os resultados do inquérito apresentados mostram que uma parte significativa dos refugiados ucranianos está a perder (ou já perdeu) a sua ligação à Ucrânia“, afirmou, citado pelo The Kyiv Independent, Anton Hrushetskyi, diretor executivo da instituição que conduziu o estudo. “Se houver um desejo sincero de regressar, o governo e a sociedade ucraniana devem dar apoio”, acrescentou.

[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]

Até agora, de acordo com os mesmo dados, recolhidos entre 20 e 26 de abril, apenas 7% dos ucranianos inquiridos declararam já ter obtido a cidadania de outro país e 12% deram início ao processo para a obter. Quase metade — 45% —  afirmaram que gostariam de ter, no futuro, a dupla cidadania do país em que atualmente residem.

O sistema em vigor na União Europeia desde o início da guerra na Ucrânia, e com validade até março de 2025, confere uma proteção imediata e coletiva, ou seja, sem necessidade de examinar pedidos individuais às pessoas deslocadas que não estão em condições de regressar ao seu país de origem.