O Governo português não deve vender, pelo menos para já, a totalidade do capital da TAP, defende o presidente da companhia aérea em declarações ao Financial Times. O risco de vender já 100% do capital, diz Luís Rodrigues, é que “surjam outros atores com uma agenda diferente” daquela que o Governo prevê, nomeadamente no que diz respeito à manutenção do hub em Lisboa e o serviço às regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

Em entrevista ao diário financeiro britânico, Luís Rodrigues admite que “um dia poderemos estar prontos para vender os 100% do capital, mas seria melhor levar este processo um passo de cada vez“. A “recomendação” do gestor é que, mesmo que seja vendida uma parte do capital da TAP, o Estado deve “manter uma participação, para garantir que é parte de todo o processo de desenvolvimento” do negócio da TAP. “É só para garantir que, se os atores mudarem, não vai surgir ninguém com uma agenda diferente“, acautelou Luís Rodrigues.

O Governo foi rápido a reagir a estas declarações, sinalizando que a privatização não compete à gestão da companhia aérea, mas sim ao Executivo.

Governo avisa presidente da TAP para não se imiscuir em questões do acionista

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Luís Montenegro, o primeiro-ministro, afirmou durante a campanha que um eventual contrato de venda (de 100%) da TAP deveria incluir garantias para proteger os interesses estratégicos nacionais. Em contraste, o governo anterior chegou a admitir vender mais de 50% mas sempre mantendo uma participação pública na companhia. Para Luís Rodrigues, essa seria a melhor opção nesta fase, sobretudo tendo em conta a importância do turismo para a economia portuguesa.

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O gestor, citado pelo Financial Times, também recomendou que o processo de venda parcial seja aberto a investidores não ligados ao setor da aviação, já que isso ajudaria a atenuar os receios das autoridades da concorrência em Bruxelas, onde existe um receio de que o mercado da aviação na Europa venha a estar quase totalmente dominado por um pequeno grupo de empresas. Luís Rodrigues afirmou, ainda assim, que haverá, ainda, “um pouco mais de consolidação” neste setor, na Europa.

Se concebermos um processo de venda que não seja de 100% [do capital da TAP] – e que não seja necessariamente para vender a um grupo só mas, sim, a várias companhias e outros investidores financeiros e private equity, ou capitais nacionais, que politicamente são sempre uma coisa vantajosa – isso poderá fazer com que o processo seja mais fácil e mais fluído“, defende o gestor.

A expectativa de Luís Rodrigues é a de que será possível concluir o processo de venda de capital da TAP até ao final de 2025. “Adoraria que todo este processo estivesse terminado no final de 2025“, afirma, reconhecendo que “não será fácil mas, se tudo correr bem, é possível“.