O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, apresentou sexta-feira ao Papa Francisco o trabalho que a Igreja portuguesa tem desenvolvido no combate aos abusos sexuais, com o pontífice a recomendar que continue “na mesma linha”.
Na audiência que o Papa concedeu aos bispos portugueses que esta sexta-feira terminaram uma visita ad limina ao Vaticano, José Ornelas, segundo informa a agência Ecclesia, agradeceu o contributo que o pontífice e a Santa Sé têm dado neste capítulo.
A CEP recebeu, em fevereiro de 2023, um relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, que validou 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022.
Após o final dos trabalhos desta comissão, o episcopado criou o Grupo VITA, para o acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis.
Em declarações no final da audiência com o chefe da Igreja Católica, o presidente da CEP afirmou que “o Papa está a transformar a Igreja e essa foi a experiência desta visita” que teve início na segunda-feira, com reuniões nos múltiplos dicastérios do Vaticano.
Já quanto ao encontro desta sexta-feira com Francisco, decorreu num clima de diálogo direto entre Francisco e os bispos, sem discursos formais.
Seguiu o “modelo do Sínodo”, em que deixou de “haver simplesmente um discurso oficial, já mais ou menos programado, para ser um encontro e uma troca de impressões e também de perspetiva. Foi muito interessante, penso que não vamos esquecer”, disse José Ornelas.
O prelado acrescentou que houve também a abordagem sobre a “missão da Igreja”, perante os desafios da sociedade.
Os jovens, os idosos e os migrantes estiveram também presentes no diálogo entre os bispos portugueses e o Papa, que, segundo José Ornelas, manifestou preocupações com “uma sociedade envelhecida e uma sociedade que não tem crianças e que precisa dos imigrantes”.
“Os imigrantes têm de ser acolhidos, têm de ser inseridos, têm de ser cuidados, porque vêm fragilizados e por isso têm de ser objeto de uma atenção especial da sociedade e em particular da Igreja”, acrescentou.
Os bispos portugueses terminaram esta sexta-feira a visita ad limina depois de terem celebrado uma missa junto ao túmulo do apóstolo Pedro.
Da tarde de quinta-feira vem a informação de que Portugal tem a correr 32 processos de canonização na Santa Sé.
Após uma reunião no Dicastério das Causas dos Santos, José Cordeiro, presidente da Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade disse, também citado pela agência Ecclesia, que algumas causas podem estar “em breve” concretizadas, quer na beatificação como na canonização, nomeadamente os processos da beata Joana Princesa, da Irmã Lúcia e do Padre Cruz.
“Algumas destas causas já estão canonizadas pelo povo, mas falta essa validação da Santa Sé, do Papa, para incorporar no álbum dos santos”, acrescentou.
O arcebispo de Braga aludiu ainda à necessidade de ser criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) “um serviço que trate exclusivamente as causas dos santos”, para que possam aparecer “mais causas de fiéis leigos, homens e mulheres, que não sejam fundadores de institutos de Vida Consagrada, de congregações, bispos ou padres”.
“Não sendo fundador de um instituto de Vida Consagrada ou um bispo, é mais difícil que uma diocese proponha esse processo. Por isso, compete-nos a nós, aos bispos, promover esse exemplo de fiéis leigos na política, na família, na economia, em muitas outras realidades”, acrescentou.
A visita “ad Limina Apostolorum” é feita de cinco em cinco anos e, além de reuniões dos prelados com os diferentes dicastérios da Santa Sé, encontram-se também com o Papa, com o Código de Direito Canónico a estabelecer que “o Bispo Diocesano tem obrigação de apresentar ao Sumo Pontífice, a cada cinco anos, um relatório sobre a situação da diocese que lhe está confiada”.
O grupo da visita que esta sexta-feira terminou foi constituído por 29 membros da CEP: 20 bispos diocesanos, cinco bispos auxiliares, um bispo eleito (Beja), dois bispos eméritos (Cardeais António Marto e Manuel Clemente) e um padre (secretário e porta-voz da CEP).