A diretora do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas defende que os cuidados de saúde primários têm de ter “mais notoriedade” e que um sistema centrado nos hospitais não é a melhor forma de servir grande parte da população.
Em declarações à Lusa a propósito do debate Serviços de Saúde|50 Anos, o Passado e o Futuro, que decorre na quarta-feira, Helena Canhão lembra que a população “só deve ir ao hospital quando tem doença aguda, precisa de uma cirurgia ou de um internamento” e pede mais enfoque nos cuidados primários.
“Neste momento também falta essa confiança, a pessoa acha que se for a um centro de saúde não pode fazer os exames que se fazem, por exemplo, num hospital, e isso é algo que assusta as pessoas” exemplifica.
Sobre a reforma das Unidades Locais de Saúde (ULS), defende que é preciso uma verdadeira integração de cuidados primários e hospitalares, envolvendo municípios e o setor social. Tudo isto, a par de outras políticas de natalidade e sociais: “A pobreza é um péssimo determinante para tudo”, disse.
Como bom exemplo, aponta a Dinamarca, “que tem hospitais muito especializados, não muitos, mas com uma rede comunitária enorme e que vai a casa das pessoas ver o que é preciso, para que se garanta que o utente pode ter alta hospitalar e terá apoio na comunidade quando regressa”.
“Isto é muito mais importante, às vezes, para a saúde da pessoa do que dar-lhe um antibiótico quando está constipada”, acrescentou Helena Canhão, também diretora da NOVA Medical School.
Ainda sobre a reforma das ULS, alerta que há o risco de o modelo escolhido “ficar mais hospitalocêntrico, deixando os cuidados de saúde primários para trás”, e lembra que com ULS muito heterogéneas, se o modelo de financiamento for igual, nalguns casos não é o mais adequado.
“As unidades que recebem doentes com doenças raras, por exemplo, têm um nível de despesa diferente. Este doente não custa o mesmo e, portanto, a forma de financiamento tem de ser bem pensada”, disse.
A conferência Serviços de Saúde | 50 Anos, o Passado e o Futuro vai decorrer na quarta-feira, no futuro campus da NOVA Medical School, em Carcavelos.
O debate contará com a participação de especialistas para analisarem o progresso alcançado desde a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 1979, e identificar estratégias de eficácia e sustentabilidade. O objetivo passa por garantir a universalidade e equidade no acesso aos cuidados de saúde.
Helena Canhão, Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, Maria Antónia Almeida Santos, presidente do Conselho da Faculdade da NOVA Medical School e antiga presidente da Comissão Parlamentar da Saúde e Luís Campos Pinheiro, chefe do Departamento de Urologia do Hospital de São José, são alguns dos participantes.
O encontro faz parte das iniciativas que antecedem as Conferências do Estoril, que acontecem nos dias 24 e 25 de outubro, no campus de Carcavelos da Nova SBE.