A Ordem dos Médicos Dentistas desafiou os candidatos às eleições europeias a assumirem o investimento na saúde oral como um “desígnio europeu”, alertando que em Portugal absorve apenas 0,2% do orçamento destinado à saúde.

“A verba consagrada no Orçamento do Estado para a saúde oral é de 30 milhões de euros, num total de 15 mil milhões, ou seja, apenas 0,2%”, refere a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) num manifesto divulgado esta terça-feira a propósito das eleições para o Parlamento Europeu de 9 de junho.

Segundo o documento, que pretende mostrar aos “futuros eurodeputados a realidade da saúde oral em Portugal, as suas necessidades e os desafios no contexto europeu”, na Europa, a despesa em serviços de medicina dentária representa em média 5,1% do total dos gastos em saúde.

“A União Europeia (UE) tem um papel importante na questão orçamental dos seus Estados-membros, cabendo-lhe emanar recomendações que privilegiem o investimento público na saúde oral que tem sido descurado ao longo de décadas”, salienta a ordem. De acordo com os dados da OMD, na Europa existem 76 médicos dentistas por 100 mil habitantes, uma média que sobe para os 123 em Portugal.

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Os europeus têm em média 1,3 consultas dentárias por ano, mas, em Portugal, quase 30% dos portugueses não visitou o dentista no último ano ou só o fez em situações de urgência, alerta ainda o manifesto, ao realçar que uma má saúde oral está relacionada diretamente com 23 doenças sistémicas e está na origem de cinco tipos de cancro.

A segurança dos doentes no espaço europeu é outra das áreas previstas no manifesto, com a ordem a alertar para a mobilidade dos profissionais na União Europeia sob as perspetivas da migração e das deslocações ocasionais.

Nos casos de competências e qualificações obtidas fora da UE, a OMD defende a criação de “legislação e mecanismos que facilitem e confiram maior transparência ao processo de reconhecimento destas formações que, no caso dos extracomunitários, deve corresponder aos requisitos europeus” previstos na diretiva comunitária.

Já quanto a deslocações ocasionais para formação ou prática clínica por profissionais não inscritos em Portugal, a ordem chama a atenção para os consequentes “riscos acrescidos para a saúde dos doentes” portugueses pela impossibilidade de monitorizar essa mesma atividade. “Urge, por isso, criar diretrizes relativas aos conceitos de serviço transfronteiriço temporário e ocasional”, defende.

Em relação ao ensino, o manifesto preconiza que, no mercado comum, deve ser assegurado que o ensino garante “transversalmente um mínimo de formação teórica e prática pré-clínica e clínica, como chave fundamental para a segurança dos doentes”, e que seja comum a todos os países.

Em Portugal, em 31 de dezembro de 2022, havia 2.077 médicos dentistas (14% do total de inscritos) com inscrição suspensa na ordem, 53,1% dos quais indicaram estar a exercer a profissão no estrangeiro.