Esta quinta e sexta-feira decorre em Praga uma reunião informal que conta com a presença dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO. O objetivo é discutir o apoio militar à Ucrânia e o tema “quente” em cima da mesa diz respeito à possibilidade de as armas ocidentais fornecidas a Kiev serem usadas em território russo. A reunião ainda decorre, mas já são conhecidas as posições de alguns países: cinco concordam com o uso das armas recebidas pela Ucrânia em território russo e pelo menos dois opõem-se. E um deles é os Estados Unidos, o maior fornecedor de material militar a Kiev.

Esta terça-feira, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Finlândia Elina Valtonen disse, citada pela agência Lusa, que o seu país “não impôs quaisquer restrições concretas à sua ajuda material à Ucrânia”. A este país juntou-se o Canadá, com a ministra dos Negócios Estrangeiros,  Mélanie Joly, a garantir no dia seguinte: “Não existem condições de utilização final” do armamento.

A estes países uniram-se outros dois. As opiniões da Dinamarca e Lituânia fizeram-se ouvir durante esta quinta-feira, com o ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros, Lars Lokke Rasmussen, a autorizar Kiev a usar aviões F-16 para combater alvos em território russo. E o ministro da Defesa lituano, Laurynas Kasciunas, a defender que é preciso “levantar todas as restrições”. “Temos de tomar a decisão de que todas as armas que entregamos possam ser utilizadas contra alvos na Rússia se forem usadas contra a Ucrânia”, acrescentou.

Finlândia autoriza uso das suas armas pela Ucrânia para atacar alvos em solo russo

França é um dos cinco país que também já deixou clara a sua posição. Na passada terça-feira, o presidente francês Emmanuel Macron sublinhou: “Devemos permitir que neutralizem os locais militares a partir dos quais a Ucrânia é atacada”. E acresentou: “Se lhes dissermos [à Rússia] que [os ucranianos] não têm o direito de chegar ao ponto a partir do qual os mísseis são disparados, estamos de facto a dizer-lhes que vos fornecemos armas, mas que não se podem defender”.

O líder francês argumenta que não deseja “uma escalada” na guerra, mas sublinha que “a Rússia adaptou um pouco as suas práticas” e está a atacar a Ucrânia a partir de bases situadas nesse mesmo país.

Estados Unidos pressionados a concordar

No mesmo dia em que Macron expressou a posição de França, os Estados Unidos viram-se obrigados a reagir. Este é um dos pelo menos dois países que se opõem a que Kiev use armas em solo russo. “Não encorajamos nem permitimos o uso de armas fornecidas pelos Estados Unidos para atacar em solo russo”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby. O americano repetiu assim a ideia frisada dias antes pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, quando visitou Kiev.

Kiev pede para usar armas americanas em ataques a território russo. E, pela primeira vez, Washington pode dizer sim

Há meses que o presidente ucraniano Volodymyr Zelesnky pede aos Estados Unidos que alterem a sua “linha vermelha” e autorizem o uso de armamento americano que lhes é fornecido para atingir território russo. Desta vez, quando Blinken foi novamente questionado sobre esta “linha vermelha”, o americano deixou a dúvida no ar: “Não temos encorajado nem auxiliado ataques fora da Ucrânia. Mas, no final do dia, a Ucrânia é que tem de decidir por si própria como vai conduzir esta guerra.”

A par da pressão que tem sido feita aos Estados, tem-se registado um silêncio por parte da Alemanha. Contudo, apesar de não haver declarações públicas sobre o tema por parte do Chanceler alemão, de acordo com a BBC, um porta-voz em Berlim defendeu que “ação defensiva não está apenas limitada ao próprio território, incluindo também o território do agressor”.

Mas os Estados Unidos não são a única voz que se opõe ao uso de armas por Kiev. “Todas as armas que partam de Itália devem ser usadas dentro da Ucrânia”, deixou claro o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano Antonio Tajani, citado pela SkyNews esta quinta-feira.

Secretário-geral da NATO: é “altura de reconsiderar algumas restrições”

Esta quinta-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também tomou uma posição relativamente à permissão de a Ucrânia usar armas em solo russo, e pediu aos Aliados que revejam as restrição que têm vindo a colocar ao armamento.

“Temos de reconhecer que os Aliados estão a prestar muitos tipos diferentes de apoio militar à Ucrânia. Alguns deles impuseram restrições à utilização dessas armas, outros não impuseram quaisquer restrições às armas que forneceram à Ucrânia, estas são decisões nacionais, mas penso que, à luz da forma como esta guerra evoluiu face ao início, quando quase todos os combates tiveram lugar em território ucraniano, […] creio que chegou a altura de reconsiderar algumas destas restrições”, declarou.

E acrescentou que “a maior parte dos combates pesados tem tido lugar ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia”, com a linha da frente a ser “o lado russo da fronteira”.

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