O realizador português Manuel Pureza, que estreia na sexta-feira a série televisiva “Sempre”, sobre a revolução de 25 de Abril de 1974, considera que “tempos obscuros obrigam a resistências mais criativas”.

Em entrevista à agência Lusa, Manuel Pureza contou que “Sempre”, a exibir na RTP e na plataforma de ‘streaming’ Amazon Prime, tem seis episódios com outras tantas histórias, e outras tantas perspetivas, sobre a revolução de abril de 1974.

É “uma carta de amor a oito mãos”, escrita por Manuel Pureza, David Neto, Luís Filipe Borges, Luís Lobão; uma série ficcional com personagens inspiradas em pressupostos históricos e circunstâncias verdadeiras, e que tocam em vários assuntos, como o poder, o racismo, a música de intervenção, o papel dos estudantes e do jornalismo naqueles dias de Abril.

“Partimos de uma pergunta para cada história que começava sempre com ‘E se?’ E se houvesse uma operacional que estava grávida e tinha de esconder a gravidez do regime e do próprio partido, por exemplo; um soldado negro destacado no Chiado, um cantautor que voltasse de Paris a tempo do 25 de Abril. […] Perguntas que surgiram como catalisadores, e a partir dessas perguntas nasceu a pesquisa”, contou o realizador.

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[o trailer de “Sempre”:]

Cada episódio relata a revolução do ponto de vista de uma personagem distinta, com a ficção a ser complementada com imagens de arquivo e, no final, com depoimentos de quem viveu ou tem uma palavra a dizer sobre os acontecimentos de há 50 anos.

“Estas nossas ficções não magoam em nada o que aconteceu. Antes pelo contrário. Propiciam às gerações mais novas uma interpretação verdadeira e do lado certo da História. Não há nada a pôr em causa os valores de Abril. Isto continuará sempre a ser uma carta de amor a Abril”, sublinhou Manuel Pureza.

O realizador, que nasceu em Coimbra dez anos depois da revolução, é argumentista, realizador e produtor, tem feito sobretudo televisão, tendo assinado a novela “Pôr do Sol” (2021-2022), uma paródia ao formato das telenovelas, que extravasou os pequenos ecrãs e se transformou num fenómeno de popularidade.

Sobre “Sempre”, Manuel Pureza espera que, pelo menos, suscite diálogo entre os espectadores.

[Já saiu o quarto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio]

“Se a série tiver o mesmo efeito que tiveram outras séries que fizemos, de reunir famílias à volta da televisão para poderem conversar sobre o que estão a ver; não só rir, mas conversar, partilhar, haver essa experiência ‘social’ de ver uma série, qualquer série sobre o 25 de Abril, é importante nos dias que correm”, considerou.

Na rodagem da série “Sempre”: histórias de vidas anónimas do 25 de Abril em seis episódios

Manuel Pureza defende a pertinência da série, mesmo sendo de ficção, em ano de celebração redonda daquela revolução, mas também em tempos de ascensão de partidos extremistas.

“No meu entender, e faço a título pessoal, tempos obscuros obrigam a resistências mais criativas. E eu sou apologista disto. Uma coisa que nunca nos vão poder tirar e condenar — apesar de tentarem –; a única maneira boa de responder ao obscurantismo é ser criativo”, defendeu.

“Sempre” conta com um elenco extenso, dada a variedade de histórias, incluindo Gabriela Barros, Carla Maciel, Joana Borja, Natalina José, Beatriz Brás, Cristovão Campos, Gonçalo Cabral, Sílvio Vieira, Nuno Nolasco, Rui Pedro Silva, João Vicente e João Arrais, entre outros.

A série teve apoio à produção da Amazon Prime, estreando apenas em território nacional, dividindo os direitos de exibição com a RTP, ficando disponível tanto na plataforma de ‘streaming’ como, posteriormente, na RTP Play.