No comunicado enviado ao final da tarde à imprensa, a organização do Primavera Sound Porto refere-se a esta edição como a “mais audaz de sempre”, contabilizando 100 mil pessoas durante os três dias de festival. Em 2025 o Primavera Sound está de regresso à cidade do Porto, durante os dias 12 e 14 de junho.
Sobre os problemas que obrigaram a cancelar a totalidade da programação do palco Vodafone no segundo dia do festival, José Barreiro confirmou, em entrevista a alguns meios de comunicação, que a causa do cancelamento se deveu a um problema na estrutura do palco relacionado com a quebra de uma anilha onde a clássica cruz dos Justice iria ficar suspensa. “Tínhamos a certeza que tínhamos um palco que aguentava a carga”, diz o diretor do festival, referindo que as 13,5 toneladas do material da dupla francesa (abaixo das 19 toneladas que a banda trouxe ao festival em 2016) representavam 66% do total de carga suportada pelo palco.
A cruz dos Justice ficou suspensa apenas durante 10 a 15 segundos, momento em que a anilha abriu, provocando “um estrondo” nas montagens. “Nem nós nem a banda tínhamos garantias de segurança. Chamámos engenheiros durante a tarde, mas era preciso estudar e reformular tudo”. O incidente aconteceu às 10h30 da manhã de sexta-feira e a organização tentou solucionar a situação até às 19h30. “Estivemos até ao limite”, diz José Barreiro, acrescentando ainda que era impossível reagendar a atuação dos Justice durante esta edição, uma vez que Gaspard Augé e Xavier de Rosnay têm concerto marcado no Best Kept Secret Festival, nos Países Baixos, este domingo, dia 9 de junho. Passar Justice para o palco principal, depois da atuação de Lana Del Rey, seria igualmente impraticável, dado que eram necessárias quatro horas de montagens para ter tudo pronto para a atuação, sem contar com o tempo de desmontagem do cenário complexo que a artista norte-americana trouxe consigo.
Em 2025, a estrutura do palco Vodafone será “completamente nova”, garantiu o diretor e responsável da Pic Nic Produções, promotora do Primavera Sound Porto. O palco desta edição, ao qual durante a noite foi substituída a peça danificada, reúne todas as condições de segurança para a realização dos concertos agendados para este último dia do festival, garantiu. Em mais de 300 concertos contabilizados nesta mesma estrutura, foi a primeira vez que foi registado um incidente deste tipo.
Para além deste “azar”, José Barreiro fez ainda menção ao cancelamento de Ethel Cain, que chegou inclusivamente a voar para Portugal na esperança de que a sua saúde melhorasse a tempo da atuação, e a de Lankum, que tiveram problemas pessoais “graves”, sem, contudo, querer entrar em detalhes. “O festival já merecia mais tranquilidade”, desabafou, depois de duas edições especialmente exigentes do ponto de vista técnico (no ano passado, a tempestade Óscar provocou vários danos no recinto junto ao palco principal).
Ainda assim, nota Barreiro, nem tudo foram coisas negativas nesta 11ª edição do Primavera Sound Porto: as mudanças na área do palco principal levaram a que as 40 mil pessoas que encheram o dia de Lana Del Rey (a maior enchente da história do festival) “não sentissem pressão” no recinto: “Garantimos os níveis e padrões de conforto que queremos continuar a manter no festival”, diz, ressalvando, contudo, que o terreno do palco principal necessita de pelo menos três anos de sedimentação para atingir o seu potencial máximo. “No ano passado tivemos que remover muita brita e reconstruir o relvado. Este ano está claramente melhor e ontem [7 de junho] comportou-se muito bem. Mal acabe o festival, vamos fazer novas intervenções e corrigir algumas coisas para melhorar a fruição dos espetadores.”
A 11ª edição do Primavera Sound Porto ficou marcada pelas estreias de SZA e de The Last Dinner Party em Portugal, pelo regresso de Lana Del Rey e a sua consagração como indiscutível diva da pop e pela presença majestosa de PJ Harvey, num cartaz paritário em que a forte presença feminina se espelhou nos números do público: cerca de 67% do total do público inquirido pelo Instituto Superior de Administração e Gestão (ISAG) era do sexo feminino, com a média de idades geral a fixar-se nos 25,6 anos. O último dia do Primavera Sound, que começou chuvoso, terá ainda concertos de The National (23h30), Pulp (21h55) e Arca (01h25).