O Parlamento Europeu que agora chega ao fim tem uma média de idades de 54 anos. Para equilibrar os anos de experiências dos veteranos há talentos cada vez mais jovens a provar que a idade não é critério para conquistar um lugar na Europa.

Em 2019, Kira Marie Peter-Hansen bateu o recorde de eurodeputada eleita mais jovem de sempre com os seus singelos 19 anos. Agora, com 24, a dinamarquesa regressa a Bruxelas pelo Partido Popular Socialista dinamarquês e pela sua agenda “verde”. Jordan Bardella é o rosto que está a renovar a imagem da ex-Frente Nacional (agora União Nacional) e é o benjamim de Marine Le Pen. O francês também regressa ao Parlamento Europeu e leva consigo o título de presidente do partido que conquistou estas eleições europeias em França. Lena Schilling vai trocar a Áustria pela Bélgica para se estrear como eurodeputada aos 23 anos. Leva consigo a agenda do partido verde austríaco e a experiência do protesto e uma polémica. Destacamos três jovens promessas no novo Parlamento Europeu que se juntarão a Sebastião Bugalho na constelação de estrelas com menos 30 anos.

Kira Marie Peter-Hansen, a ecologista dinamarquesa

Quando em maio de 2019 Kira Marie Peter-Hansen foi eleita para o Parlamento Europeu, tornou-se na pessoa mais jovem de sempre a ser eleita eurodeputada. Tinha feito 21 anos há três meses e era ainda estudante de economia na Universidade de Copenhaga, lugar que viria a deixar para assumir o seu novo cargo. Destronou a alemã Ilka Schröder por apenas um mês, que detinha o recorde de juventude desde 1999. Ao site Politico contou que a juventude lhe pregou algumas partidas, como por exemplo os guardas acharem que é estagiária e a encaminharem para uma entrada diferente, mas também disse que esperava “mais oposição sendo uma jovem mulher” do que aquela que teve.

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Kira representa o Partido Popular Socialista dinamarquês (Socialistisk Folkeparti), que pertence à chamada “esquerda verde”. Nestas eleições de 2024 foi a cabeça-de-lista e voltou a estar entre os três eleitos que vão rumar ao Parlamento Europeu. Lá voltará a integrar o grupo dos Verdes, do qual durante os últimos cinco anos foi vice-presidente.

Passado um ciclo de cinco anos no Parlamento Europeu deu uma entrevista para a revista daquela instituição em fevereiro de 2024. “Sou uma pessoa bastante normal que não escalou montanhas, fez desportos extremos ou viajou para sítios desconhecidos”, disse. Perguntaram-lhe que língua gostaria de aprender num instante se tivesse essa oportunidade e não foi difícil escolher francês. Confessou que gosta de fazer massa caseira, mas tem dificuldade em arranjar tempo para ler. “Algumas pessoas olham para o Parlamento Europeu como um edifício de burocratas, mas eu acho-o um maravilhoso espaço, com pessoas extremamente dedicadas e competentes que estão a fazer tudo o que podem para mudar o mundo para melhor”, disse a jovem deputada. “Acho isto extremamente inspirador e mantém a minha motivação quando a política é frustrante e me apetece desistir.”

Em 2019 partiu para Bruxelas determinada a lutar contra a crise climática e a tentar poupar nas viagens de avião. Na noite de 9 de junho de 2024 recorreu à sua conta de Instagram para agradecer o novo mandato dado pelos dinamarqueses. É também por esta rede social que partilha com os seus 14,5 mil seguidores as suas causas, como por exemplo a luta contra os resíduos têxteis, na qual diz que já ajudou a aprovar diferentes leis que “obrigam a indústria do vestuário a ser mais sustentável e tornam a roupa e o calçado muito mais fáceis de reciclar do que são atualmente”, escreve a própria.

Jordan Bardella, a estrela que está a mudar a imagem da extrema-direita

Jordan Bardella tem 28 anos e para quem ainda não ouviu o seu nome, convém não o esquecer. É o presidente da União Nacional, o partido francês de Marine Le Pen, que acaba de ganhar com estrondo as eleições europeias em França. Le Pen já disse que, se chegar a presidente de França em 2027, fará de Bardella primeiro-ministro. Por enquanto, o jovem político vai rumar a Bruxelas, ou melhor, vai regressar, para o seu segundo mandato como eurodeputado. Foi cabeça-de-lista, estrela do partido e o resultado que conseguiu traduziu-se no dobro dos votos do partido do Presidente Macron, o Renascença, levando este a dissolver o Parlamento e a convocar novas eleições legislativas em França.

Bardella estudou Geografia na prestigiada Sorbonne, mas trocou os estudos pela política. Juntou-se ao partido em 2012, quando tinha 16 anos, e, segundo o próprio, “mais por Marine Le Pen do que pela Frente Nacional”. Uma década mais tarde já era um dos líderes do partido. Começou cedo a conquistar terreno e a ascensão foi rápida. Marine Le Pen tem tentado transformar a imagem do partido de extrema direita e afastá-lo do cunho racista que o pai deixou, tal como outras características, bem enraizadas. Bardella tem sido um dos principais aliados nessa tarefa ou até mesmo o rosto da mudança. Os críticos acusam-no de pouca substância, mas os jovens parecem em grande parte conquistados.

Jordan Bardella, o protegido de Marine Le Pen que foi eleito líder do partido de extrema-direita

Bardella tem transformado a imagem da União Nacional, aliando a sua juventude a uma hábil capacidade para se manter longe das causas fraturantes do partido. Os fatos e o cabelo bem cortado darão uma ajuda significativa na sua imagem irrepreensível. Entre os 601 mil seguidores no Instagram e 1.2 milhões no Tik Tok, Bardella parece estar a passara a sua mensagem. “Eu não sou contra a Europa. Sou contra a forma como a Europa funciona agora”, declarou.

Lena Schilling, a ecologista austríaca que se vai estrear na Europa

“Revolucionária com açúcar. Ativista, porque temos um mundo a ganhar.” Assim se descreve Lena Schilling na sua conta de Instagram. A estudante de Ciência Política na Universidade de Viena tem 23 anos vai estrear-se no Parlamento Europeu. Foi cabeça-de-lista e uma das duas pessoas eleitas pelo partido ecologista austríaco Die Grünen com o colega Thomas Waitz. Foi ativista climática num movimento chamado Fridays dor Future (Sextas-feiras pelo Futuro, as mesmas que Greta Thunberg popularizou) e publicou um livro sobre a importância dos protestos. Enquanto candidata declarou que defendia “uma Europa democrática amiga do clima”.

Nas semanas que antecederam as eleições a candidata esteve envolvida num escândalo. O jornal Der Standard acusou-a de ter enviado uma mensagem a um amigo no final do ano passado a dizer que “não odiava tanto ninguém como os Verdes” e depois que também terá discutido com “várias pessoas” sobre mudar daquela família para a Esquerda Unitária no Parlamento Europeu — o que Schilling viria desmentir, conta a The Parliament Magazine. A história fez correr muita tinta, mas não terá afetado os resultados do partido nas eleições.

Na noite eleitoral, o palco onde os políticos dos Verdes iriam discursar foi invadido por ativistas pró-palestinianos, mas rapidamente foram retirados do local. Mais tarde, não faltariam elogios à jovem candidata: o líder do partido confirmou que a decisão de apostar em Lena foi “certa”, a atual ministra Alma Zadic disse que ela “pode lutar como uma leoa” e a própria discursou depois ao som de aplausos, segundo descreve o jornal Kurier. “Nos próximos cinco anos lutarei todos os dias pela proteção climática com a  mesma energia e paixão”, declarou Lena em jeito de agradecimento. Comprometeu-se ainda a “fazer campanha por mais transportes públicos, por uma verdadeira proteção ambiental em toda a Europa e por uma proteção climática que tenha em conta quem tem pouco dinheiro”.