Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul desde 2018 e líder do Congresso Nacional Africano desde 2017, foi reeleito pela Assembleia Nacional sul-africana na Cidade do Cabo, com 283 votos graças a uma coligação entre o seu partido e a Aliança Democrática.
Depois de garantir o segundo mandato, em discurso à Assembleia Nacional, Ramaphosa, de acordo com as suas mais recentes declarações relativas aos resultados das eleições, comprometeu-se a governar com todos: “Servirei e governarei com todos, até para aqueles que não me apoiaram“, como avançou o Africanews.
Há uma semana, e depois de terem sido anunciados os resultados das eleições que puseram fim à maioria absoluta do seu partido, Ramaphosa considerou que as eleições mostravam que a África do Sul tinha uma democracia “robusta” e que via vontade do povo sul-africano em querer “um país melhor”. Para Ramaphosa, o fim da maioria absoluta do ANC na Assembleia mostra que os sul-africanos querem que “as organizações políticas encontrem terreno comum para resolver as suas diferenças e trabalhar em prol do bem de todos”. “O povo falou, quer se goste ou não” sublinhou ainda o Presidente sul-africano.
Ramaphosa diz que África do Sul tem democracia “robusta” após eleições
Embora o principal partido da oposição fosse o DA (sigla em inglês de Democratic Alliance), foi contra Julius Malema, líder do EEF, (sigla em inglês de Economic Freedom Fighters), o quarto partido mais votado, que Ramaphosa concorreu pela presidência da África do Sul. Pela primeira vez, o ANC e a DA deixaram de lado a sua rivalidade histórica, garantindo a vitória esmagadora de Ramaphosa com 283 votos contra os 44 de Malema.
A reeleição de Ramaphosa deu-se poucas horas depois da formação de uma coligação improvisada e inédita entre o ANC e a DA (que ficou em segundo lugar nesta eleições) – até agora, o principal partido da oposição. Em linha com as declarações de Ramaphosa, John Steenhuisen, líder da DA, garantiu que o apoio da oposição deve-se à vontade do povo: os sul-africanos decidiram que “não queriam que um único partido dominasse a sociedade. As pessoas avisaram-nos ainda que se acabou o tempo da responsabilização e que é o momento para uma nova política de colaboração e de resolução de problemas” como avançou o jornal britânico The Guardian.
Malema, que fundou o EEF em 2013, aquando da sua expulsão do ANC, garantiu não participar num governo que conta com o apoio da DA, que descreveu como um partido “neo-colonial” e definiu como o “principal inimigo” do seu partido marxista. Clarificando ainda que “isto não é um governo de união nacional, mas sim “uma grande coligação entre o ANC e o monopólio branco do capital. A história julgar-vos-á duramente“, como avançado pelo France24.
Assim mesmo, Nhlamulo Ndhlela, líder do MK (uMkhonto weSizwe), o terceiro partido mais votado, garantiu que a coligação entre os dois partidos era “ilegal” e “inconstitucional”.
Reações Internacionais
Numa publicação na rede social X (antigo Twitter), a presidente da Comissão Europeia saudou a reeleição de Ramaphosa: “Com a sua liderança e experiência, a África do Sul está em boas mãos”. Sublinhando ainda o trabalho conjunto entre a União Europeia e a África do Sul para a transição energética.
Dear @CyrilRamaphosa, congratulations on your reelection as President of South Africa!
With your leadership and experience, South Africa is in good hands.
We will continue to strengthen our partnership, like our joint work on a fair energy transition. pic.twitter.com/KhaWKRvEh2
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) June 15, 2024
O Presidente russo, por sua vez, mostrou-se confiante quanto à continuação de um “diálogo construtivo” sobre as questões que marcam a agenda bilateral internacional.
Apreciamos muito a sua contribuição pessoal para o desenvolvimento de relações de parceria estratégica entre os nossos países, bem como para a interação produtiva entre a Rússia e a África do Sul no âmbito da ONU [Organização das Nações Unidas], do BRICS [grupo que defende que as economias emergentes devem ter mais influência na política internacional], do G20 [Grupo de ministros das Finanças e governadores de bancos centrais das maiores economias] e de outras estruturas multilaterais”, lê-se na mensagem de Putin, publicada no site do Kremlin.
“Terei o maior prazer em recebê-lo na cimeira do BRICS, que se realizará em Kazan, de 22 a 24 de outubro”, sublinhou ainda Putin, desejando ao seu homólogo sucesso no seu trabalho.
Eleições e previsões
O partido que venceu as eleições foi o Congresso Nacional Africano (ANC) com 40,18%, equivalente a 12.698.759 votos e 159 deputados na Assembleia Nacional sul-africana. Em segundo lugar, ficou a Aliança Democrática (DA) com pouco mais de metade que o ANC: 21,81%, equivalente a 87 deputados. Em terceiro o MK com 14,58% e 58 deputados. E, em quarto lugar, ficou o EEF com 9,52% e apenas 39 deputados.
As eleições decorreram durante o dia 29 de maio. Os resultados souberam-se durante o mesmo fim-de-semana. A Assembleia elegeu o Presidente este sábado, 15 de junho. Cerca de 27,6 milhões de eleitores registados escolheram entre 52 partidos, para eleger 400 deputados através de um sistema de representação proporcional.
As sondagens pré-eleitorais acertaram na sua previsão para as eleições de 2024: nenhum partido, pela primeira vez em 30 anos, conseguiu maioria absoluta, constituindo assim um revés histórico para o ANC.
Eleições na África do Sul podem ditar o fim da maioria absoluta do ANC
John Steenhuisen, líder da Aliança Democrática – principal partido da oposição –, quando foi votar em Durban, em maio, não perdeu a oportunidade para frisar as previsões das sondagens “Nenhum partido ganhará a maioria absoluta nestas eleições” e de garantir que “a África do Sul tem oportunidade de mudar”.
Em contrapartida, Ramaphosa não hesitou em dizer que “não há dúvida de que o povo vai uma vez mais expressar a sua confiança” no partido no poder desde o fim do apartheid, em abril de 1994.
As sondagens apontavam como a maior ameaça para o ANC o pequeno partido MK (nome do antigo braço armado do ANC, que o antigo presidente Jacob Zuma deu ao partido que formou em dezembro de 2023 para concorrer a estas eleições), dando-lhe até 14% dos votos. Mas acabou por ter mais: 14,58%. Porém, este resultado não permitiu que o partido impedisse a reeleição de Ramaphosa.
História
1994: primeiras eleições democráticas na África do Sul. Nelson Mandela será o primeiro Presidente não-branco deste país e o seu partido, ANC, ganhará com uma maioria absoluta de 62,65%, elegendo 252 deputados dos 400 que compõem a Assembleia Nacional sul-africana.
30 anos mais tarde, as sondagens pré-eleitorais não se enganaram. Não houve uma derrota ‘histórica’ do ANC – continua a ser o partido mais votado na África do Sul – porém, este perdeu, pela primeira vez, a sua habitual maioria absoluta, conseguindo apenas 40,18% dos votos.
Primeiros resultados eleitorais na África do Sul tiram maioria absoluta ao partido de Mandela
Desde 2004 – ano em que obteve 69,69% dos votos – que o partido tem vindo a perder apoiantes. Dez anos depois e duas eleições mais tarde, em 2014, o partido conseguiu 62,15%. O resultado mais baixo (antes do atual) deu-se em 2019 com 57,5%.
Este resultado, bastante mais baixo que o de 2014, é atribuído às políticas do partido, mas também a Jacob Zuma – líder do partido entre 2007 e 2017 – e Presidente da África do Sul desde 2009 até 2018. Ano em que foi afastado do partido (ANC) devido a suspeitas de corrupção e de fraude. O seu julgamento está agendado para 2025.
Quanto às políticas do partido que levam à desilusão crescente com o ANC são as associadas ao desemprego endémico, à pobreza, à corrupção e à escassez de água e eletricidade, custou ao partido um resultado abaixo dos 50% dos votos.