Mais de 90 líderes e representantes mundiais estão este sábado e domingo reunidos no luxuoso (e por estes dias altamente bem guardado) hotel Bürgenstock, nos arredores de Lucerna na Suíça. No primeiro dia de trabalhos, os líderes europeus deixaram claro que não aceitam a “rendição” nem a “capitulação” da Ucrânia, como Putin pretende. Já a Presidente suíça não escondeu a insatisfação perante a ausência da Rússia (que nem sequer foi convidada para a cimeira). Ainda assim, Viola Amherd ouviu Volodymyr Zelensky dizer que Kiev vai apresentar a Moscovo um plano de ação para colocar fim à guerra.

Logo no início, foi o próprio Presidente ucraniano a dar o mote aos países presentes. “Temos que decidir juntos o que uma paz justa significa para o mundo e como ela pode ser alcançada de uma maneira verdadeiramente duradoura”. Zelensky defendeu que a carta da ONU é bastante clara. “Não há necessidade de reinventar a roda quando a carta da ONU já define os fundamentos da paz e da coexistência normal dos povos”, sublinhou.

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Uma ideia que recolheu amplo consenso. “Será correto que um país maior possa invadir e tomar o território de um vizinho mais pequeno? A resposta é, obviamente, não. Está escrito na Carta das Nações Unidas. E é por isso que é vital que reafirmemos essa Carta. É vital que nos comprometamos de novo a defender firmemente os princípios da Carta das Nações Unidas”, afirmou a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que defendeu “uma paz abrangente, justa e sustentável para a Ucrânia. Uma paz que restabeleça a soberania da Ucrânia e a sua integridade territorial, a inviolabilidade de todas as fronteiras, a soberania de todas as nações”.

Rejeitada foi também a ideia de um congelamento do conflito ou de um cessar-fogo. “Congelar o conflito hoje, com tropas estrangeiras a ocupar o território ucraniano, não é a resposta”, sublinhou Ursula Von Der Leyen, secundada pelo chanceler alemão. “Um cessar-fogo imediato sem negociações sérias, sem um roteiro para uma paz justa e duradoura, apenas com base nas chamadas novas realidades, só legitimaria a apreensão ilegal de territórios pela Rússia”, disse Olaf Scholz, citado pela Deutsche Welle.

Consensual foi também a ideia de que a Ucrânia tem direito a defender-se e não capitular perante a Rússia. “Esta guerra tem um agressor, que é a Rússia, e uma vítima, que é a Ucrânia. O povo ucraniano tem o direito de defender os seus filhos, as suas casas e as suas cidades”, disse o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. “Todos nós estamos comprometidos em construir uma paz sustentável… Tal paz não pode ser uma capitulação ucraniana”, disse o Presidente de França, Emmanuel Macron, que acusou a Rússia de ser “um regime imperialista”. Também o primeiro-ministro rejeitou “a rendição incondicional do regime de Kiev”, uma exigência do Kremlin, que, garantiu, “nunca acontecerá”.

No entanto, o facto de a Rússia não estar presente na cimeira gerou críticas (mais ou menos audíveis de alguns países), entre os quais da própria anfitriã, a Suíça. A Presidente, Viola Amherd, disse ser “inconcebível” não envolver a Rússia no processo com vista à paz. “Uma solução duradoura deve envolver ambas as partes”, avisou a chefe de estado. Na resposta, Zelensky respondeu, dizendo que a Rússia não foi convidada para o encontro porque não está interessada na paz. “A Rússia não está aqui porquê? Porque se a Rússia estivesse interessada na paz, não haveria guerra”.

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Zelensky planeia envolver Moscovo numa solução, mas apenas na próxima cimeira de paz. O Presidente da Ucrânia disse que Kiev vai apresentar à Rússia, numa segunda cimeira de paz, um plano de ação baseado na fórmula de paz que for acordada na atual Cimeira (que está a decorrer na Suíça) de modo a colocar um fim à guerra.

Quando o plano de ação estiver em cima da mesa, acordado por todos e transparente para os povos, será comunicado aos representantes da Rússia”, disse Volodymyr Zelensky, citado pelo Kyiv Independent. “Para que, na segunda cimeira de paz, possamos estabelecer o verdadeiro fim da guerra”.

No domingo, três temas serão abordados nos grupos de trabalho da cimeira: segurança nuclear, liberdade de navegação e segurança alimentar, e aspetos humanitários, nomeadamente o destino das crianças ucranianas deportadas para a Rússia.