Oito pessoas foram detidas na Nova Caledónia incluindo Christian Tein, líder do movimento de revolta contra a reforma eleitoral, confirmou o Ministério Público à agência France Presse.

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Christian Tein é apontado como o líder da Célula de Coordenação das Ações de Terreno (CCAT), uma organização criada em novembro de 2023 e cujos dirigentes são acusados pelas autoridades de provocarem os atos de violência que afetam o arquipélago francês no Pacífico Sul.

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Sete outras pessoas foram igualmente detidas na mesma altura, mas as identidades ainda não são conhecidas.

Os oito suspeitos podem agora ficar sob detenção durante um período de 96 horas, “uma vez que se tratam de infrações relacionadas com a criminalidade organizada”, disse o Procurador-Geral de Numeá, Yves Dupas, em comunicado.

A sede do partido Union Calédonienne (UC), que alberga igualmente os escritórios do CCAT, foi isolada esta quarta-feira de manhã pela polícia, referem os repórteres da France Presse no local.

O bloqueio montado na rua pelos ativistas foi, entretanto, desmobilizado pelas autoridades.

Segundo vários relatos de testemunhas recolhidos pela AFP no local, a sede do partido, na capital do território ultramarino francês, foi alvo de buscas.

A polícia entrou nos gabinetes e tirou fotografias, nomeadamente de documentos”, declarou Reine Hue, deputado eleito (UC) pela província das Ilhas. “Foram os escritórios do CCAT que foram visados”, disse o procurador público acrescentando que a que operação decorreu sem incidentes.

Num comunicado de imprensa, o partido Union Calédonienne condenou as detenções, efetuadas quando Tein, que é também Comissário Geral da UC, se dirigia a Numeá, onde previa estar presente numa conferência de imprensa.

A Union Calédonienne “denuncia estas detenções abusivas no momento em que os dirigentes locais anti-independência e as milícias criminosas se passeiam livremente” e “exige explicações imediatas para todas as detenções gratuitas”.

No entanto, o partido pede aos militantes e apoiantes que “não respondam às provocações” e apela à calma “enquanto aguarda mais informações sobre as detenções”.

No centro de Numeá, foi montado um vasto perímetro de segurança frente ao quartel-general da gendarmeria, onde se encontram as pessoas sob custódia policial.

Segundo a AFP, as ruas circundantes foram encerradas ao trânsito e muitas lojas, bancos e serviços públicos decidiram fechar as portas ao fim da manhã.

Na segunda-feira, o Ministério Público de Numeá abriu um inquérito contra vários alegados “instigadores” dos motins, incluindo “certos membros do CCAT”.

A Nova Caledónia enfrenta tumultos desde 13 de maio, altura em que a Assembleia Nacional, em Paris, adotou um projeto de reforma constitucional que permite alargar o eleitorado no território ultramarino, o que, segundo os opositores locais, marginaliza o povo Kanak natural do arquipélago.

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Os motins, sem precedentes desde os anos 1980 causaram nove mortos, entre os quais dois gendarmes, centenas de feridos e danos materiais no valor de 1,5 mil milhões de euros.

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O CCAT, que se opõe frontalmente à reforma eleitoral, tem estado na mira do governo desde o início dos motins, com as autoridades a acusarem os dirigentes de serem os mentores dos atos de violência.

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