Era uma das seleções de quem mais se esperava dentro do perfil do outsider que se quer mostrar com uma motivação extra que preferia não ter mas que há mais de dois anos se tornou uma inevitabilidade quotidiana, foi uma das seleções que mais desiludiu no encontro de estreia. Não se pode falar propriamente de uma lei de Murphy em torno da Ucrânia mas tudo o que podia correr mal, o conjunto de Leste fez com que fosse pior. Com bolas oferecidas no primeiro terço que acabaram em golo, com uma falta de velocidade nas transições que facilitavam a tarefa de quem defendia, com muita circulação de bola sem que se percebesse qual era o seu objetivo. A Roménia é tudo menos uma super potência mas ganhou de forma natural por 3-0 diante de um conjunto ucraniano que a anos luz do que pode fazer. De forma inevitável, surgiram ondas de choque.

Dia 8 do Europeu. Ucrânia vence Eslováquia com golo da reviravolta marcado por Yaremchuk

Logo à cabeça, a questão da baliza. Lunin teve um jogo completamente falhado e Trubin, que foi notícia neste Europeu por partilhar uma imagem onde surgia a estudar português no estágio, surgia como candidato mais do que natural à baliza no segundo jogo. Depois, o peso das opções ofensivas, com a entrada em campo do “líder” Yarmolenko a valer uma quase garantia de titularidade na partida seguintes. Ambas se confirmaram, entre mais duas substituições feitas pelo selecionador Rebrov. No entanto, também ele não passou ao lado desses 90 minutos falhados diante dos romenos, com o Bild a escrever que os jogadores pediram para que o técnico não entrasse no balneário enquanto estavam a dissecar entre eles o que se passara. Era aquele tipo de situações limite entre o caminho para a redenção ou a continuação para um final precoce.

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Problema? A Ucrânia tinha pela frente a equipa mais motivada do Europeu depois da primeira jornada, que coincidia também com a equipa que causou a maior surpresa da primeira jornada. Não se pode dizer que a Bélgica não merecesse no mínimo dos mínimos o empate (provavelmente até mais) mas a Eslováquia teve os seus argumentos em campo de forma pragmática: saiu quando tinha de sair, baixou blocos quando teve de baixar blocos, cedeu a posse quando tinha de ceder a posse, marcou quando teve a oportunidade. Com isso, entre dois golos anulados e um sem número de chances criadas e falhadas, bateu os Diabos Vermelhos, com essa garantia de que uma vitória ou até um empate podia chegar para a qualificação. Tinha a palavra a equipa ucraniana, de novo com largo apoio nas bancadas de pessoas que em muitos casos fugiram da guerra.

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Apesar de todo esse contexto, e até com alguma surpresa à mistura, foi a Eslováquia que entrou melhor no encontro e a criar várias oportunidades para inaugurar o marcador. Problema? Trubin. Que tirou o golo a Haraslin com uma defesa apertada ao primeiro poste (10′), que tirou o golo a Schranz com uma intervenção fantástica como um guarda-redes de andebol em cima da linha ao segundo poste (10′), que ainda tirou o golo a Hancko na marcação de um livre direto descaído sobre a direita (17′). O guardião do Benfica parecia ter a solução para tudo menos os movimentos em contra pé e foi dessa forma que os eslovacos chegaram mesmo ao 1-0 na sequência de um lançamento lateral com cruzamento para a cabeça de Schranz (17′). Tudo nesse lance era o que uma equipa sem margem não podia fazer, tudo nesse lance foi o que os ucranianos fizeram, da passividade aos cortes em falso. E a sorte também não estava propriamente do seu lado, com Tymchyk a ganhar uma segunda bola na área e a rematar rasteiro ao poste da baliza de Dúbravka (34′) antes de nova intervenção de Trubin a remate rasteiro de Haraslin na sequência de uma saída rápida (43′).

A forma como a Ucrânia tinha reagido nos últimos 20 minutos antes do intervalo fez com que Rebrov não mexesse na equipa e essa opção acabou por trazer frutos, com Zinchenko a subir pela esquerda e a fazer o cruzamento para o remate na passada de Shaparenko na área que fez o empate (54′). Com muito tempo ainda pela frente, o conjunto de Leste ganhava um redobrado ânimo frente a uma Eslováquia que parecia de pilha em baixo demasiado cedo na partida, o que foi estendendo a passadeira para que existisse o forcing final em busca do golo que reabrisse de novo as contas do grupo. Mudryk, após um passe um pouco mais longo de Dovbyk, deixou a ameaça (72′), Yaremchuk conseguiu mesmo confirmar esse ascendente e, depois de uma assistência fantásticas de Shaparenko, teve um grande domínio antes do remate para o 2-1 (80′).

A pérola

  • Shaparenko, médio de 25 anos do Dínamo Kiev, é daqueles jogadores que se vê, analisa e questiona o porquê de não estar noutros patamares mais altos. Tem qualquer coisa na forma como recebe e toca na bola que é diferenciado e diferenciador. Provavelmente, é uma questão de tempo. Contra a Roménia, foi um daqueles jogadores que mais sentiu o peso da estreia. Nada saiu bem. Agora, mudou. E mudou de forma radical, sobretudo na segunda parte: marcou o golo do empate com uma boa desmarcação na área vindo de trás para o remate na passada após cruzamento de Zinchenko (54′) e fez depois uma assistência fantástica para o 2-1 da reviravolta por Yaremchuyk (80′). Foi dele que saiu o grito de revolta.

O joker

  • Trubin teve uma entrada fundamental para a baliza da Ucrânia, negando por quatro ocasiões mais um golo da Eslováquia que podia ter acabado de vez com as contas do encontro. Ainda assim, foi outro jogador com ligação no passado ao Benfica que fez a diferença: mais do que o golo da reviravolta, a forma como Yaremchuk sai do banco, domina aquele passe longo de Shaparenko de forma orientada e toca de lado a enganar Dúbravka é de jogador. No fim, as lágrimas que corriam pela cara enquanto agradecia o apoio dos adeptos na bancada diziam tudo em relação à importância do momento.

A sentença

  • Com este resultado, volta a estar tudo em aberto. Mais: confirmando-se o favoritismo teórico da Bélgica frente à Roménia este sábado, o grupo E corre o risco de ser o único a entrar na última jornada da fase inicial com todas as equipas empatadas com três pontos. Questão? Bélgica e Ucrânia, os dois teóricos favoritos à passagem, vão jogar entre si na derradeira ronda e só um poderá ser feliz…

A mentira

  • Artem Dovbyk foi uma das grandes sensações da última Liga espanhola, sendo o melhor marcador da equipa revelação da temporada, o Girona. Chegar a um campeonato tão competitivo e fazer 24 golos e dez assistências em 39 encontros não é para qualquer um. No entanto, e à semelhança do que aconteceu no jogo inaugural, o avançado continua a passar ao lado do Europeu. É certo que também não tem jogo pelo chão e pelo ar para fazer a diferença no último toque, mas as próprias movimentações na frente estão longe daquilo que conseguiu produzir ao longo da época no conjunto catalão…