Não foi o melhor início no Europeu, foi ao mesmo tempo um início esperado de Europeu. A falta de pontos no final da primeira ronda unia Geórgia e Rep. Checa mas nem por isso os dois conjuntos estavam em planos semelhantes à partida para a segunda jornada do grupo, em Hamburgo. Longe disso. E em qualquer cenário possível que fosse traçado, que corria sempre o risco de ser fatal no caso de novo deslize, havia também uma vontade comum em deixar uma imagem diferente da que ficou do encontro inaugural quase em resposta ao lado negativo que a estreia trouxe. Mais uma vez, em diferentes proporções. E, claro, com diferentes tipos de pressão tendo em conta que estavam em confronto um estreante na prova e um antigo finalista.

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A atual Rep. Checa nunca poderá ser analisada à luz daquilo que tinha por exemplo há quase três décadas, quando Poborsky, Berger, Nedved, Smicer, Kouba, Kadlec, Nemec, Kuka e companhia tiveram a campanha que passou por cima de Portugal nos quartos (literalmente, com aquele chapéu fantástico de Poborsky a Vítor Baía) e chegaram à final que perderam com a Alemanha no golo dourado em prolongamento. No entanto, não por carácter histórico mas pela qualidade individual que apresenta, estava obrigada a mais do que fez no encontro com Portugal. É certo que a capacidade da Seleção sem bola teve grande peso naquele tipo de jogo a 25/30 metros com bloco baixo e sem capacidade de saída mas quem tem Schick, Soucek, Kuchta ou Coufal com a base grande que vem do Slavia de Praga tem “obrigação” de fazer um pouco mais no jogo e pelo jogo.

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Já do lado da Geórgia, aqueles 15 minutos antes do intervalo com o golo do empate de Georges Mikautadze e a possibilidade de fazer a reviravolta, assim como os derradeiros minutos até sofrer o 3-1 sem guarda-redes na baliza por ter ido à área contrária num canto mostraram uma faceta mais “desconhecida” mas que não teve prolongamento por aquele que é o calcanhar de Aquiles da equipa: o setor defensivo, mesmo jogando com uma linha de três e laterais/alas mais recuados. Foi essa a “injustiça” sentida pelos georgianos quando foram feitas as análises à derrota diante da Turquia: a exibição foi muito analisada à luz das deficiências que o conjunto apresenta e não tanto daquilo que conseguiu fazer no plano ofensivo, onde além de ter uma das potenciais “revelações” sendo já um craque confirmado, Khvicha Kvaratskhelia, marcou um golo, teve uma boca no poste, ainda acertou na trave e teve um caudal atacante quase “anormal” para uma seleção estreante.

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Ambos foram tentando dar essas “respostas”. A Rep. Checa demorou menos de três minutos para na mesma jogada ficar perto do golo em duas ocasiões e a começar num lançamento lateral à direita, com Hlozek a rematar cruzado para defesa com o pé de Mamardashvili e Schick a ver a recarga desviada para canto com uma intervenção fantástica do guarda-redes (3′). A partir daí, a Geórgia foi tentando mostrar-se em termos defensivos e só voltou a “ceder” na sequência de um lançamento longo de Coufal na direita, com Hlozek a marcar no ressalto depois de nova defesa de Mamardashvili mas a bola a bater ainda no braço antes de entrar na baliza (23′). Depois, o jogo entrou numa toada mais calma… até à aceleração para o golo: Hradac cortou a bola com a mão na área, Mikatadze fez o 1-0 de penálti (45+4′) e Mamardashvili ainda teve tempo para logo de seguida tirar o empate a Patrik Schick, que surgiu isolado na área pelo corredor central.

A Rep. Checa teria de fazer algo mais, sendo que as substituições iniciais vieram apenas aos 55′, mas também a Geórgia deu uma “ajuda” nessa redenção ao baixar em demasia o bloco a ponto de perder capacidade de saída. Não se pode dizer que os checos tenham “abafado” os georgianos mas o facto de terem mais bola no meio-campo contrário ajudou a que surgissem também mais bolas paradas, sendo num desses lances que surgiu o empate com Lingr a desviar ao primeiro poste no ferro e Shick quase que a levar com a bola para colocá-la na baliza (59′). Voltava tudo a estar em aberto, sendo que as principais figuras das equipas iam dando sinais de desgaste físico depois de uma primeira parte a todo o gás e o encontro foi mesmo avançando com poucas oportunidades a não ser um desvio de Chytil na área ao lado (77′) até ao empate final a um que chegou de forma dramática, com Lobjanidze a desperdiçar isolado na área a hipótese de vitória (90+5′).

A pérola

  • Tem apenas 23 anos, parece que anda nisto na alta roda do futebol internacional há mais de uma década e para continuar. Giorgi Mamardashvili, guarda-redes que o Valencia contratou em 2021 depois de mais uma exibição fantástica pelo Locomotive Tbilisi, só nunca foi colocado no top 3 da Liga espanhola porque ainda era visto como aquele guarda-redes de “engate”, capaz de travar tudo num dia bom mas incapaz de fazer a diferença quando é preciso num dia mau. Aquilo que este Europeu tem mostrado é que, cada vez mais, o georgiano está acima disso e aquelas duas defesas seguidas ainda nos três minutos iniciais foram apenas um cartão de visita para um daqueles jogos que fica para toda a carreira.

O joker

  • Coufal tem larga experiência internacional reforçada pela troca do Slavia Praga pelo West Ham em 2020 (por quem conquistou uma Liga Conferência), também tinha participado na anterior fase final do Euro e surgia na Alemanha como um dos elementos em maior destaque. Em termos de jogo jogado, não tem sido; em termos defensivos, não compromete mas também já teve melhores desempenhos. Onde faz a diferença? Nas bolas paradas. E foi nos cantos e até nos lançamentos laterais vindos da direita que a Rep. Checa “feriu” a Geórgia, entre o golo do empate, um golo anulado e duas grandes defesas.

A sentença

  • Ninguém ficou propriamente contente com o empate mas as contas são fáceis de fazer qualquer que seja o resultado do Turquia-Portugal: Geórgia e Rep. Checa, com apenas um ponto cada no final das duas jornadas iniciais, terão de ganhar na última jornada a Portugal e Turquia, respetivamente (tudo porque com dois pontos será muito, muito complicado passar como um dos melhores terceiros classificados).

A mentira

  • Nenhum central pode cometer tantos erros crassos em tão poucos jogos chave como tem acontecido a Robin Hranác, central checo que Portugal não esquece por ter marcado na própria baliza e por ter depois um corte defeituoso que permitiu a Francisco Conceição o 2-1 nos descontos. O jogador do Viktoria Plzen continuou na equipa inicial como jogador do meio na linha de três de três defesas mas nem por isso melhorou o rendimento, fazendo desta feita uma grande penalidade desnecessária que valeu um golo aos georgianos em cima do intervalo. Mais: Hranác foi chamado pela primeira vez à seleção A em março numa época em que terminou com o prémio de Melhor Defesa do Ano da Liga checa. No entanto, e neste Campeonato da Europa, parece ter um toque de Midas mas ao contrário…