O filme ainda não chegou ao fim, os capítulos iniciais mais não foram do que um mero remake ao que antes se tinha visto. Quando a Bélgica passa por uma fase de qualificação de uma grande prova, enche o peito, vai desenrolando exibições atrás de exibições, marca muitos golos e assume de forma natural uma posição entre os favoritos só pelos números que apresenta. Depois, quando chega à fase final, a ambição insuflada começa a ter pequenos furos lentos, perde ar e esvazia bem mais cedo o que é suposto. Não foi assim no Mundial de 2018, começou a ser assim no Europeu de 2020, aconteceu completamente assim no Mundial de 2022. Na hora da redenção, neste Euro-2024 com novo selecionador (Domenico Tedesco, que substituiu Martínez), tornou-se ainda pior. Não só para a Bélgica mas também para um nome em específico: Romelu Lukaku.

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A última imagem que tinha ficado do poderoso avançado belga numa fase final tinha sido aquela cara de criança triste por ver os sonhos desabarem após um encontro com a Croácia no Qatar onde falhou o possível e impossível na área. Chorou, deu murros no banco, olhou para o céu, estava inconsolável. Agora, depois de ter sido o melhor marcador na fase de qualificação com mais golos do que jogos, o Euro-2024 começou com parecenças a esse encontro: dois golos anulados, cinco oportunidades falhadas, a tristeza de uma derrota inesperada a abrir a competição diante da Eslováquia. Não tinha sido ainda uma “eliminação” mas alterava o resto da competição para a Bélgica para a fase de grupos e sempre com os olhos naquele jogador com umas condições físicas únicas, que não tem um equivalente no futebol atual mas que tem dias “maus”.

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Problema? A redenção teria de começar a surgir frente a uma das equipas mais motivadas da prova após a primeira jornada. A Ucrânia até partia com um ligeiro favoritismo mas a Roménia fez um daqueles jogos em que ganha confiança em cada minuto que passa para encher o peito como as melhores equipas e vencer com um encontro para a história. Agora, até um empate poderia ser suficiente para a qualificação para os oitavos, com tudo o que isso poderia depois significar no encontro frente ao conjunto de Domenico Tedesco. “Não sei mais o que podia ter feito, tivemos tudo, demos tudo…”, lamentara o técnico após a derrota.

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Essa necessidade de vitória da Bélgica ficou expressa logo abrir com o terceiro golo mais rápido de sempre em fases finais de Europeus e uma jogada que mostra o futebol que a equipa consegue produzir quando está virada para isso: Doku passou da esquerda para o meio em busca de uma linha de passe, Lukaku trabalhou como se fosse um pivô de futsal e Tielemans rematou de fora da área para o 1-0 (2′). A Roménia reagiu logo de seguida, com Casteels a tirar o golo de cabeça a Dragusin após canto (5′), mas só mesmo de bola parada os romenos conseguiam criar perigo diante de uma Bélgica a criar muito em termos ofensivos mas a não ter a capacidade para concretizar e gerir depois o encontro de outra forma, entre um remate de Lukaku desviado num defesa contrário, uma tentativa de Lukébakio travada com uma grande defesa por Nitá e um cruzamento que levava a direção da baliza de Doku desviado de novo pelo guarda-redes para canto.

O segundo tempo começou com a Roménia a esboçar a reação com um tiro de Mihaila para nova defesa de Casteels antes de mais um festival de golos falhados pela Bélgica e, claro, o golo da ordem anulado a Romelu Lukaku após passe de Kevin de Bruyne. Dennis Man ainda teve pelo meio mais uma tentativa para colocar à prova o guardião belga mas o médio do Manchester City tinha agarrado de vez no encontro e ainda foi a tempo para, depois de várias oportunidades criadas, aproveitar um pontapé de baliza de Casteels e surgir nas costas da defesa contrária para entrar na área com bola controlada e apontar o 2-0 final (80′).

A pérola

  • Há jogadores bons, há jogadores muito bons, há jogadores muito, muito bons, há jogadores que são lendas e há algures pelo meio jogadores Kevin de Bruyne. O que é que isso significa? Que nunca serão recordados como aqueles jogadores top 10 ou top 20 de todos os tempos mas que facilmente entra nas listas do top 10 ou top 5 das últimas temporadas no futebol mundial, não só pelo que faz no Manchester City mas também pelas melhores campanhas da Bélgica. O médio belga, que também esta temporada foi fustigado por lesões que lhe retiraram mais de quatro meses, abriu o livro sobretudo na segunda parte,  esteve em todos os lances ofensivos da equipa e ainda marcou o golo que “fechou” o encontro.

O joker

  • Tielemans foi uma das novidades de Domenico Tedesco para este encontro, depois de ter sido apenas suplente utilizado frente à Eslováquia, e demorou apenas 73 segundos a entrar na história do futebol belga com o golo mais rápido da seleção na fase final de um Europeu após assistência de Lukaku. O médio agora no Aston Villa que teve quatro temporadas de grande nível ao serviço do Leicester não está ainda no seu melhor momento mas justificou a chamada e teve interferência direta no resultado.

A sentença

  • A reviravolta da Ucrânia e a redenção da Bélgica deixaram o grupo E numa autêntica confusão com tudo em aberto e quatro equipas a terem nesta fase três pontos com uma vitória e uma derrota. Como? Qualquer equipa pode ficar em primeiro, em segundo, em terceiro ou em quarto lugares, sendo para isso decisivos os próximos Bélgica-Ucrânia e Roménia-Eslováquia para decidir a qualificação.

A mentira

  • Existe uma especial preocupação na Alemanha com tudo o que sejam artefactos pirotécnicos dentro e fora do estádio. Até aqueles espectáculos de tochas que se viam na chegada dos autocarros em Portugal, por exemplo, estão proibidos por completo no país e nem mesmo aquelas chamadas tochas “frias” que fazem o efeito sem perigo podem ser chamadas para a festa do Euro. Mais uma vez, a bancada da Roménia (à semelhança do que já se tinha visto com Croácia e Sérvia) voltou a ter tochas e potes de fumo até mesmo quando a equipa estava a ser pressionada na segunda parte e em desvantagem, sinal de que essa proibição pode existir mas nem sempre está a ser seguida à risca pelos adeptos no Europeu…