Quatro membros da família mais rica do Reino Unido foram condenados a prisão por exploração de trabalhadores na sua casa de Genebra. Com uma fortuna avaliada em 43 mil milhões de euros, Kamal e Prakash Hinduja, o filho Ajay e a nora Namrata, enfrentam penas entre os quatro e os quatro anos e meio de prisão, decidiu um tribunal suíço.

A acusação foi feita por três trabalhadores indianos que foram trazidos da Índia para trabalhar na mansão da família Hinduja, avançaram diversos media britânicos. Segundo a acusação, os Hinduja retiraram os passaportes aos trabalhadores e limitavam as suas saídas da propriedade. Por 18 horas de trabalho diário, chegavam a receber apenas oito dólares (menos de 7,5 euros) – um pagamento significativamente abaixo do salário mínimo, por hora, no cantão de Genebra, que é de 32 francos suíços (cerca de 25 euros).

Apesar de os Hinduja terem assinado com os trabalhadores um acordo – cujos valores não foram divulgados –,  a procuradoria suíça decidiu avançar com as acusações, entre elas a de tráfico humano, como noticiou, na altura, a BBC.  Na leitura da sentença, no passado sábado, os quatro membros da família Hinduja foram absolvidos do crime de tráfico humano, mas considerados culpados de exploração ilegal de mão de obra.

Durante o julgamento, o procurador Yves Bertrossa comparou os 10.000 dólares que a família gastava todos os anos com o cão de estimação, com os baixos valores que estavam dispostos a pagar aos seus trabalhadores. Bertrossa denunciou a forma como os Hinduja se aproveitavam da “situação assimétrica” entre a família e os trabalhadores e acusou-os de “lucrarem com a miséria do mundo”, em declarações citadas pelo The Guardian.

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Do outro lado, os advogados de defesa disseram que o valor pago aos funcionários tinha de ser vistos no contexto em que trabalhavam: recebiam alimentação e alojamento. Em tribunal, Robert Assael argumentou ainda que a tarefa de ver um filme com as crianças da família não era necessariamente trabalho.

A defesa chamou alguns antigos funcionários da família a testemunhar a seu favor. À saída do tribunal, Assael afirmou que estes empregados “estavam gratos aos Hinduja por lhes terem oferecido uma vida melhor”, relatou a BBC.

No sábado, depois da leitura da sentença, Assael disse-se “chocado” com a mesma. “Vamos lutar até ao fim”, declarou o advogado, que já confirmou que vai recorrer da decisão. Também o advogado de Ajay Hinduja criticou a decisão, dizendo que a família está a ser utilizada pelo tribunal como exemplo e acusando o juiz de querer fazer “justiça social” em vez de justiça.

Nenhum dos quatro arguidos esteve presente na leitura da sentença. Ajay e Namrata, que foram condenados a quatro anos de prisão, estiveram presentes durante o julgamento, mas faltaram à última sessão para prestar apoio a Kamal. A matriarca, de 75 anos, encontra-se internada num hospital no Mónaco, onde tem sido acompanhada por Prakash, de 78. O casal mais velho foi condenado a quatro anos e meio de prisão.

Os procuradores pediram a detenção imediata dos quatro membros da família Hinduja, mas o pedido foi recusado pelo juiz, que considerou o estado de saúde de Kamal e o apoio necessário da parte dos restantes membros.

A família Hinduja, de origem indo-britânica, acumulou uma fortuna de 37 mil milhões de libras (43 mil milhões de euros) com negócios no ramo do petróleo, do gás e da banca, sendo ainda donos do hotel Raffles, em Londres. A multinacional trabalha em mais de 38 países e emprega cerca de 200.000 trabalhadores.