A primeira formação específica no país sobre migrações para quadros da administração pública, que decorreu no Fundão, distrito de Castelo Branco, superou as expectativas e já está a dar resultados, garantiu à agência Lusa a organização.
Durante uma semana — terminou no sábado —, decorreu na Academia Mais Integração a primeira formação específica no país sobre migrações para quadros da administração pública, com o objetivo de capacitar esses profissionais e para fomentar o trabalho em rede.
“Tinha expectativas muito altas, mas a formação superou muito as minhas expectativas, porque os participantes já estão a trabalhar em rede“, salientou à agência Lusa Cláudia Pereira, coordenadora da Academia Mais Integração, que resulta de uma iniciativa da Câmara do Fundão, Universidade da Beira Interior e Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).
A iniciativa que envolveu 50 participantes de vários organismos da administração central, local e sociedade civil vai permitir que alguns municípios passem a efetuar procedimentos que não faziam por falta de conhecimento, como, por exemplo, pedir a manifestação de interesse para emissão do abono de família.
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“Nalgumas regiões fazia-se e noutras não se fazia e agora perceberam quais são os decretos e a lei que permite fazer”, disse Cláudia Pereira, salientando que já são 50 pessoas a trabalhar em rede e com contactos estabelecidos para trocarem saberes e conhecimentos.
Segundo a coordenadora, durante a formação, que contou com especialistas da área, foram criados grupos de trabalho com elementos de diversas entidades, que estiveram no papel de migrante ou refugiado.
“Alguns não tinham noção do que as pessoas passam quando são enviadas de uns sítios para os outros nos serviços e alguns, só com essa visualização, é que perceberam o que a pessoa [migrante] passa”, frisou.
Salientando que os formandos “estão muito mais capacitados”, Cláudia Pereira referiu que o grupo tinha muito conhecimento, mas não tinha o conhecimento conjunto de outras áreas, pelo que a “capacitação foi muito imersiva e intensa, que levou os participantes a começar a trabalhar em rede”.
“Não havia uma formação específica sobre migrações e desafios de integração, há sobre igualdade de género e vários outros tópicos, pelo que criámos esta formação juntando universidades e especialistas da administração pública e pessoas da sociedade civil”, disse.
Para o brasileiro Carlos Paiva, da Associação Poeta Aleixo em Loulé, que representa a sociedade civil, a formação não só capacitou mais os participantes, como também os colocou mais em alerta para compreenderem melhor as dificuldades.
“A formação deu a possibilidade de perceber o percurso completo desse caminho que o migrante faz para se regularizar e ter acesso aos serviços”, sublinhou à agência Lusa, realçando o poder do trabalho em rede para dar respostas e soluções mais integradas.
Em representação dos trabalhadores das autarquias, Helena Claim, da Câmara de Torres Vedras, destacou que esta formação “veio dar respostas mais ajustadas ao desafio da migração, atendendo que há imensas dificuldades e ambiguidades na área da interculturalidade”.
A técnica, que integra o Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes de Torres Vedras, criado em 2008, considera que a formação possibilitou outras ferramentas que permitem cada vez melhor ajudar os migrantes, que estão “numa situação de grande vulnerabilidade social“.
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Segundo Rosa Campaniço, do Instituto da Segurança Social em Reguengos de Monsaraz, que representa os formandos que trabalham na Administração Central, a formação “valeu muito a pena e toda a metodologia de trabalho foi extremamente interessante e muito enriquecedora em termos técnicos”.
“Foi muito importante esta relação com a academia que, por norma, nos falta, e ter a sustentabilidade técnica a fundamentar o nosso trabalho e conhecimento com os professores e os técnicos formadores foi de uma riqueza extraordinária”, frisou.
Para 8 de setembro está previsto um novo curso, também com 50 vagas, novamente no Fundão.