Inglaterra nunca ganhou um Campeonato da Europa e só ganhou um Campeonato do Mundo em 1966, há quase 60 anos. Essas quase seis décadas que se seguiram têm trazido frustração, ansiedade, esperanças goradas e sonhos destruídos — mas sempre que começa um novo Europeu ou um novo Mundial, sempre que é possível voltar a acreditar, não existe país que esqueça tão depressa as desilusões para tentar novamente.

O Euro 2024, naturalmente, não é exceção. Depois do trauma de há três anos, com a final perdida em Wembley para Itália, Inglaterra entrou no Campeonato da Europa com uma vitória contra a Sérvia e a ideia de que tinha começado uma nova aventura. Seguiu-se o empate contra a Dinamarca, que trouxe as já habituais críticas a Gareth Southgate, às escolhas de Gareth Southgate e à equipa de Gareth Southgate.

A história da Dina que quer voltar a ser máquina e de uma equipa que está longe de ser uma equipa (a crónica do Dinamarca-Inglaterra)

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E entre acusações de falta de patriotismo, porque estamos a falar de Inglaterra, Alan Shearer tomou a dianteira das críticas. “É importante que isto nunca se torne pessoal. Eles foram terríveis e temos de o dizer. Se Inglaterra tivesse sido brilhante, dizíamos que foram brilhantes. É assim que funciona. E Inglaterra foi mesmo má. Penso que a grande maioria do país, e até mesmo os rapazes da equipa, sabe que fomos horríveis frente a Dinamarca. Praticamente não houve aspetos positivos”, atirou o antigo avançado, que marcou 30 golos pela seleção inglesa.

Era neste contexto que Inglaterra defrontava esta terça-feira a Eslovénia, na última jornada do Grupo C e à procura de uma vitória que garantisse o primeiro lugar e a fuga ao lado do quadro que já conta com Espanha, Alemanha, Portugal e França. Southgate só fazia uma alteração, trocando Alexander-Arnold por Conor Gallagher no meio-campo, e Matjaž Kek não mexia numa Eslovénia que trazia dois empates e a ambição de chegar aos oitavos de final na bagagem.

Ob-la-ki, ob-la-ka e com Jovic life goes on (a crónica do Eslovénia-Sérvia)

Numa primeira parte que terminou sem golos e que não teve muitas oportunidades, Inglaterra teve sempre mais bola mas raramente conseguiu aproximar-se com perigo da baliza de Oblak, enquanto que a Eslovénia demonstrava facilidade em soltar a transição rápida em superioridade numérica, mas preferia atuar no erro do adversário e oferecer a iniciativa aos ingleses.

Sesko protagonizou o primeiro lance de perigo, com um cabeceamento que Pickford encaixou (5′), Saka colocou a bola no fundo da baliza mas a jogada foi anulada por fora de jogo de Phil Foden (20′) e o mesmo Foden assustou Oblak com um livre direto que o guarda-redes segurou à segunda (35′). Tirando isso, as bancadas de Colónia não suspiraram com mais nada durante toda a primeira parte.

Gareth Southgate mexeu ao intervalo, trocando Conor Gallagher por Kobbie Mainoo no meio-campo, e o domínio de Inglaterra intensificou-se — mas sem consequências práticas. Os ingleses tinham praticamente a totalidade da posse de bola, mas a Eslovénia mantinha a organização e não permitia desequilíbrios, o que fazia com que o nulo se mantivesse e as oportunidades escasseavam.

O selecionador inglês ainda lançou Cole Palmer e Alexander-Arnold, Declan Rice teve um dos únicos lances de perigo da segunda parte com um remate ao lado (75′), mas já nada mudou. Inglaterra e Eslovénia não foram além de um empate sem golos em Colónia e, com outro nulo entre Dinamarca e Sérvia, os ingleses garantiram o primeiro lugar do Grupo C — com pouco ou nenhum brilho.

O joker

  • Num jogo onde ninguém conseguiu evidenciar-se, Adam Gnezda Čerin foi claramente o elemento mais esclarecido da Eslovénia. A equipa de Matjaž Kek assinou uma exibição coletiva louvável, com enorme organização defensiva e permitindo muito pouco a Inglaterra, e o médio do Panathinaikos é o equilíbrio entre essa solidez no próprio meio-campo e as perigosas transições ofensivas que se viram na primeira parte.

A pérola

  • Os adeptos ingleses. Numa das partidas mais aborrecidas do Euro 2024, os apoiantes de Inglaterra que viajaram até Colónia assistiram a um jogo com poucas oportunidades, poucos lances de perigo e poucos momentos de destaque, com a equipa de Gareth Southgate a demonstrar um bloqueio ofensivo alarmante numa competição deste calibre.

A sentença

  • Com este resultado e com um nulo também no jogo entre Dinamarca e Sérvia, Inglaterra segue para os oitavos de final no primeiro lugar do Grupo C e vai defrontar o terceiro classificado do Grupo D ou E — ou seja, caiu para o lado contrário a Portugal, Espanha, Alemanha e França. A Dinamarca tem o apuramento assegurado, através do segundo lugar, e a Eslovénia deve conseguir fazer história e chegar aos oitavos de final pela primeira vez com o terceiro lugar.

A mentira

  • Inglaterra não é candidata a nada. Se é certo que tudo pode acontecer num Campeonato da Europa e que a história está cheia de vencedores que não deslumbravam dentro de campo, também é certo que a equipa de Gareth Southgate está muito longe dos níveis exigidos e demonstra uma fragilidade defensiva e uma limitação ofensiva que a deixa num patamar inferior aos verdadeiros favoritos a uma presença na final.