Podia ser o “efeito Hjulmand” pelo impacto que o selecionador Kasper Hjulmand teve em pouco tempo com a condução da Dinamarca até às meias do Euro-2020 onde só caiu no prolongamento com a Inglaterra, afinal era o “efeito Hjulmand” pelo peso que a entrada do médio Morten Hjulman teve na equipa. No lançamento do jogo frente à Sérvia, o diário Sport falava da importância que a entrada do jogador do Sporting conseguiu ganhar na equipa dinamarquesa, colocando o meio-campo dos escandinavos como um dos pontos mais fortes neste Campeonato da Europa tendo em conta o bom momento que Hjölberg está a atravessar e a ressurreição daquele Eriksen que consegue desequilibrar pelo corredor central. No entanto, isso podia não chegar.

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A linha defensiva a três comandada por Christensen continua coesa, a colocação de Maehle ou Bah no lado direito com Kristiansen à esquerda deixa a estrutura forte na mesma, no ataque estava até aqui o problema. Nomes como Hjölund ou Wind, além dos suplentes utilizados Dolberg, Damasgaard ou Poulsen, conseguem envolver-se na dinâmica coletiva, também beneficiam das suas oportunidades mas têm um rendimento na hora da finalização que não faz jus a tudo aquilo que o conjunto constrói nas anteriores fases. Foi isso que aconteceu com a Eslovénia, com o golpe do empate concedido no último quarto de hora. Foi isso que aconteceu com a Inglaterra, onde tudo ficou por uma igualdade. Agora, num encontro decisivo onde o pior cenário possível poderia mesmo deixar a equipa fora deste Europeu, este era o grande “efeito” procurado.

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Já a Sérvia, que poderia estar apenas a lutar por uma vaga por uma das quatro melhores terceiras posições, ganhou uma redobrada alma com o empate de Jovic no último minuto de descontos frente à Eslovénia que deixou a equipa em último mas com um ponto. E provavelmente até foi uma recompensa justa perante tudo o que os balcânicos conseguiram fazer ao longo dos 90 minutos, entre bolas nos postes e (mais) uma grande exibição de Jan Oblak, sendo que nem isso tinha resolvido os problemas que vinham das duas partidas iniciais com Inglaterra e os eslovenos: tendo grandes jogadores, a Sérvia nunca esteve próxima de ser uma grande equipa como os nomes que tinha em campo, atravessando alguns períodos de autêntico turbilhão emocional que retiravam equilíbrio ao coletivo. Era isso também que Stojkovic tentaria refrear na decisão.

Novak Djokovic desceu ao relvado para dar mais moral a uma equipa sérvia que não teria de início Vlahovic, Tadic, Sergej Milinkovic-Savic ou Jovic (com tudo o que isso terá significado em termos de gestão interna…) mas nem por isso os balcânicos foram diferentes. Assim, e de forma quase natural, a Dinamarca, sempre com uma postura cautelosa para não ser apanhada em transições mas capaz de ir ganhando metros com bolas, foi tendo ascendente e criou as primeiras situações de golo, com Alexander Bah a desviar de cabeça ao lado após cruzamento de Maehle (16′) e Rajkovic a desviar para canto um remate de meia distância de Eriksen (21′). Foi assim que os minutos foram passando, entre mais uma intervenção de Rajkovic a uma tentativa do capitão (32′), mas quem olhasse para o que se passava em Munique dificilmente poderia adivinhar que era a Sérvia que precisava ganhar e não a Dinamarca perante a postura sempre cautelosa dos balcânicos, que não evitaram mais um remate em boa posição de Wind na área que passou por cima após escorregar (39′).

Stojkovic tinha de fazer algo mais e não perdeu tempo, lançando em campo Tadic e Jovic, e foi a dupla que criou o primeiro lance de muito perigo que terminou com um autogolo de Andersen num lance que acabou anulado por fora de jogo (53′). As características da partida tinham mudando, com menos qualidade e uma dose reforçada de entrega, fiabilidade, chegadas à área e um especial cuidado para não errar, o que colocava as bolas paradas como oportunidades como aconteceu num canto com Vingegaard (63′) e as meias distâncias como hipótese de recurso (Hjulmand arriscou duas vezes para a bancada). Depois, entrou também Vlahovic e a Sérvia chamou a Força Aérea para tentar remediar o problema, com Mitrovic a ter um remate perigoso ao lado (80′) antes da entrada da Sergej Milinkovic-Savic. No entanto, já era demasiado tarde…

A pérola

  • Não se pode falar de um jogador que se tenha destacado muitos dos restantes num encontro que teve muito mais de Dinamarca na primeira parte e um pouco mais de Sérvia no segundo tempo mas há um que basta estar para estar um patamar acima dos outros: Cristian Eriksen. Foi pelos pés dele que foram passando todos os lances de perigo dos escandinavos, foi ele que fez os dois remates com mais perigo da equipa, foi pela voz de comando dele que os dinamarqueses respeitaram sempre os momentos do jogo e perceberam quando tinham de avançar ou sofrer sem bola. No final, saiu com o objetivo mínimo garantido, sendo certo que a equipa que foi semi-finalista no último Euro podia ter feito mais…

O joker

  • Há um jogador que nunca será propriamente muito destacado na Dinamarca. Porque há um grande guarda-redes chamado Kasper Schmeichel, porque há um trio de centrais que não prima pelos dotes técnicos mas é quase insuperável no choque e pelo ar, porque o meio-campo é onde entronca agora a maior força da equipa, porque algum dia os avançado marcarão também o seu golo. Entre tudo isto, há Maehle. O polivalente lateral, que foi contratado pelo Wolfsburgo à Atalanta na última época, já tinha sido um dos destaques no Euro-2020 e voltou a mostrar toda a sua importância pela forma como joga em qualquer ala com segurança defensiva e capacidade de esticar também os dinamarqueses na frente.

A sentença

  • Com este empate, e a par do nulo no outro encontro entre Inglaterra e Eslovénia, a Dinamarca segue para os oitavos na segunda posição com os mesmos pontos e golos do que os eslovenos mas com uma vantagem nos critérios que se seguiram, nomeadamente a qualificação, defrontando agora nos oitavos a equipa anfitriã da competição, a Alemanha. Já a Sérvia despede-se com mais um ponto que soube a pouco ou nada, numa noite em que também a Croácia viu confirmada a eliminação do Europeu.

A mentira

  • Mais uma vez, a Sérvia mostrou aquelas duas faces entre o que foi e o que podia ser num jogo. Houve uma correção ao intervalo, com Stojkovic a lançar Tadic e Jovic de uma assentada, mas a primeira parte de uma equipa que estava obrigada a ganhar para manter as esperanças de apuramento não teve nada a ver não só com esse objetivo mas também com os jogadores que tem à disposição. Depois, passou do oito ao 80 e acabou o encontro com a artilharia toda de peso entre Mitrovic, Vlahovic, Tadic e Jovic…