A polícia queniana anunciou a detenção de mais de 270 pessoas, das quais 204 na capital, Nairóbi, por suspeita de cometerem atos criminosos durante as manifestações antigovernamentais de terça-feira.
Foram registados saques e danos materiais generalizados durante as manifestações organizadas por jovens em várias cidades do país, com alguns manifestantes a admitirem que o movimento foi infiltrado por alguns elementos criminosos.
O Quénia tem sido abalado nas últimas duas semanas por uma onda de protestos, desencadeada pelo projeto de orçamento para 2024—25, que previa novos impostos, e resultou num descontentamento mais amplo contra o Presidente, William Ruto, eleito em 2022.
“As forças de segurança em todo o país identificaram suspeitos que estavam envolvidos em atividades criminosas sob o pretexto de protesto e levaram-nos sob custódia”, afirmou a Direção de Investigação Criminal num comunicado publicado na rede social X (antigo Twitter) na terça-feira à noite. No total, 204 suspeitos foram detidos na capital, Nairóbi, e 68 outros em várias partes do país, acrescentou.
During today's demonstrations that saw massive properties destroyed by various criminal elements, security forces across the country singled out suspects found engaging in criminal activities in the guise of protesting, and took them to custody.
In Nairobi and its environs, 204… pic.twitter.com/pHEbGvjggo
— DCI KENYA (@DCI_Kenya) July 2, 2024
As manifestações de terça-feira começaram de forma pacífica, mas depois degeneraram em violência, com a polícia a disparar gás lacrimogéneo contra multidões que atiravam pedras na capital.
As manifestações ocorreram também noutras cidades, como Mombaça, a segunda maior cidade do país, onde foram incendiados carros e vandalizado pelo menos um estabelecimento comercial.
O movimento de protesto antigovernamental — sem um verdadeiro líder ou organização — transformou-se num banho de sangue a 25 de junho, quando a polícia disparou munições reais contra a multidão que invadiu o parlamento em Nairóbi.
No total, 39 pessoas morreram e 361 ficaram feridas, desde a primeira manifestação, a 18 de junho, com pelo menos 22 mortes registadas a 25 de junho, de acordo com a agência nacional de proteção dos direitos humanos, que na segunda-feira também relatou 32 casos de “desaparecimentos forçados ou involuntários” e 627 detenções de manifestantes.
Apesar de o Presidente ter anunciado que retirava o projeto de orçamento, os apelos às manifestações prosseguiram, mas foram acolhidos com diferentes graus de apoio, nomeadamente entre a “Geração Z” (jovens nascidos depois de 1997), que esteve no centro do movimento.