Roger Hallam, fundador do movimento ecologista Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção, em português), que se identifica com a sigla XR, foi condenado a cinco anos de prisão após ser considerado culpado de conspirar para bloquear o trânsito da autoestrada M25, a mais movimentada do Reino Unido. Segundo o The Telegraph foram também condenados outros quatro ativistas, mas com uma pena mais leve: quatro anos de prisão.

A 7 novembro de 2022 uma campanha do movimento ambientalista Just Stop Oil levou a uma interrupção da circulação da autoestrada M25, com uma duração de quatro dias. Esta sexta-feira, o Tribunal sentenciou cinco ativistas que terão recrutado outros manifestantes a um pena de prisão de cinco anos (no caso de Hallam) e quatro anos (no caso dos restantes condenados).

As penas atribuídas constituem um recorde, tendo superado as sentenças atribuídas em 2023 a dois ativistas do Just Stop Oil que escalaram a ponte Rainha Isabel II. Desta vez, os ativistas foram julgados à luz de uma nova lei da conspiração, introduzida pelo último governo, do conservador Rishi Sunak, com o objetivo de reprimir alguns dos protestos mais disruptivos.

De acordo com o Tribunal da Coroa de Southwark, os cinco ativistas agora condenados recrutaram outros participantes através de uma videochamada por Zoom. De acordo com o The Telegraph, na chamada de recrutamento, Roger Hallam sublinhou o “potencial para criar engarrafamentos” se todos estivessem presentes e disse que seria “impossível o governo ignorar”.  E repetiu duas vezes que “tem de ser feito”.

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O juiz responsável pelo caso, Christopher Hehir, acusou os ativistas de terem passado “já há algum tempo, a linha de ativista preocupado para fanático” e disse que o recrutamento por videochamada foi “intrinsecamente planeado”. “Vocês nomearam-se a vocês próprios como os únicos decisores daquilo que deve ser feito em relação às alterações climáticas”, acrescentou.

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No dia do bloqueio, 45 pessoas (duas das quais foram agora condenadas) subiram a diferentes pórticos da autoestrada, tendo sido ensinadas a fazê-lo pelos cinco ativistas agora condenados, escreve o The Telegraph. Contas feitas, segundo o Tribunal, a polícia gastou um milhão de libras (quase um milhão e 200 mil euros) na atuação que levou a cabo e foram causados danos económicos no valor de 750 mil libras (quase 900 mil euros).

A perturbação causada terá originado mais de 50 mil horas de atraso no tráfego e afetou as rotas de mais de 700 mil veículos. Além disto, dois camiões colidiram e um polícia ficou ferido após ter sido derrubado da mota que conduzia.

“As pessoas perderam voos, funerais e alguns estudantes atrasaram-se para exames. Uma criança com necessidades especiais a caminho da escola perdeu parte do dia de aulas e falhou a toma da medicação, deixando o taxista em risco porque pode tornar-se volátil se [a criança] não estiver medicada”, elencou o juíz. E continuou: “Um doente oncológico perdeu uma consulta importante e teve de esperar mais dois meses por outra.”

Hallam acusa juiz de ignorar receios em relação às alterações climáticas

Depois de conhecer a pena, Roger Hallam afirmou que o seu único crime tinha sido “dar uma palestra [ao juiz] sobre desobediência civil como sendo um método eficaz para impedir a elite de colocar carbono suficiente na atmosfera para nos levar à extinção”. E acusou o Tribunal de o tratar com indignidade, ao ver os seus receios em relação às alterações climáticas serem ignorados pelo juiz.

Michel Forst, relator especial da ONU (organização das Nações Unidas) para os defensores do ambiente criticou a decisão do Tribunal britânico. “É um dia negro para os protestos ambientais pacíficos, para a proteção dos defensores do ambiente e para todos os que se preocupam com o exercício das suas liberdades fundamentais no Reino Unido”, disse, citado pelo The Telegraph.

Já Suella Braverman, secretária de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido quando o protesto ocorreu, reconheceu que, “apesar de o direito de protestar ser fundamental numa democracia” há que ter consciência que os danos e perturbações causados a terceiros são ilegais.”