A Inapa apresentou esta segunda-feira ao tribunal da comarca de Lisboa o pedido inicial de insolvência, na sequência da rutura de tesouraria da sua filial alemã comunicada na semana passada. E isto depois de não ter sido possível encontrar “uma solução de financiamento até 22 de julho”, data imposta pela legislação alemã.

A empresa de distribuição de papel procurou obter 12 milhões de euros junto da Parpública, sua maior acionista, mas o pedido foi recusado pela holding do Estado depois do não do Governo.

Agora a administração da Inapa dá mais detalhes sobre os problemas de tesouraria que arrastaram a empresa para a falência, ainda que considere que a filial alemã — a Inapa Deutschland — apresentava uma “carência pontual de tesouraria”. A cabeça do grupo que tem sede em Portugal tinha emitido uma carta conforto a favor de um consórcio de bancos alemães para estes financiarem a filial naquela país que é o principal mercado da Inapa com cerca de 60% das receitas. Entre os bancos desse consórcio, a Inapa refere o Deutsche Bank, o Hamburger Sparkasse e o Norddeutsche Girozentrale.

A Inapa Deutschland ativou a carta conforto — na qual a casa-mãe se comprometia a contribuir com os fundos necessários ao cumprimento das obrigações — a 19 de julho, tendo a Inapa sido incapaz de cumprir na data prevista de 22 de julho. O grupo entrou assim em incumprimento, o que determinou o vencimento antecipado do financiamento obtido junto do consórcio alemão de 17,7 milhões de euros que estavam cobertos pela carta conforto.

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Como a holding em Portugal deu as ações desta participada alemã como penhor de garantia a um empréstimos de 34,6 milhões de euros, à data de 30 de junho, contraídos junto do Millennium BCP, “tornou-se inevitável apresentar igualmente à insolvência no dia 22 de julho”, como foi comunicado ao mercado. Isto porque, explica a administração, a “declaração de insolvência da sociedade Inapa Deutschland Holding implicava o vencimento antecipado dos referidos financiamentos contraídos pela Inapa IPG junto do
Millennium BCP, não tendo a Inapa IPG capacidade para liquidar tal dívida”.

Para além desta situação, outros contratos de financiamento ao grupo têm cláusulas de cross-default pelas quais a Inapa dava garantias às suas participadas e que se tornaram impossíveis de cumprir. Outra consequência da insolvência foi o não pagamento dos três milhões de euros de reembolso de obrigações convertíveis em ações subscritas pela Papyrus, a empresa que a Inapa comprou em 2018.

São várias situações a documentar as “sérias dificuldades” da empresa em prosseguir a sua atividade, “em face dos impactos que as circunstâncias descritas têm na sua relação com entidades financiadoras, fornecedores, seguradoras de crédito e demais stakeholders”.

A gestão liderada por Frederico Lupi apresentou logo a demissão, tendo emitido na quinta-feira passada um comunicado onde acusa a acionista pública de ter recusado por várias vezes e ao longo dos últimos quatro anos ajudar a empresa. O Observador revelou que também o governo socialista recusou pedidos de capital feitos à acionista Parpública em 2022.

Inapa. Governo socialista também recusou pedido de fundos à Parpública porque só envolvia dinheiro do Estado

A Parpública tem 45% do capital da Inapa a que correspondem 33% dos direitos de voto. Os outros acionistas são a Nova Expressão com cerca de 10% e o Novo Banco com pouco mais de 6%. O BCP é o maior credor com créditos totais na casa dos 80 milhões de euros, de acordo com informação dada por fonte da empresa.

O pedido de insolvência foi feito no Juízo do Comércio do Tribunal da Comarca de Lisboa Oeste e a aguarda-se agora pela nomeação do administrador da insolvência.

A Comissão de Mercado de Valores Mobiliários determinou entretanto o  levantamento da suspensão da negociação das ações da Inapa-Inv.Part.Gestão na sequência da prestação de informação relevante ao mercado sobre a apresentação de pedido de insolvência.

O grupo Inapa tem cerca de 1.400 trabalhadores, a maioria dos quais na Alemanha e França. Em Portugal estão menos de 200.