O Banco BPI, que lucrou no primeiro semestre 327 milhões de euros (mais 28% que em igual período do ano passado), acredita que a banca hoje está muito mais resiliente e mais bem preparado, com a supervisão também a ter feito um caminho em prol de maior eficácia. A leitura é de João Pedro Oliveira e Costa, presidente da instituição financeira, que, em conferência de imprensa, comentou os 10 anos da queda do BES que foi “para todos nós uma enorme lição”.

Tendo o BPI sido, nas suas palavras, pouco afetado então com essa situação — “estamos a pagar o Fundo de Resolução” — houve, não esconde, um impacto ao nível da credibilidade da própria banca e houve muita gente prejudicada. Também ao nível da supervisão, na altura, “não foi devidamente clarificado o que podia ter sido feito”. E considera que, em Portugal, “há um problema de memória”, à qual associa ao caráter de algumas pessoas — não identificadas — que têm de “se lembrar das coisas que fazem e assumir mais responsabilidade”. A falta de memória, acrescenta, é tanto na área económica como na política, referiu, sem concretizar.

A supervisão, por seu lado, acredita que “hoje é mais eficaz, eficiente e intrusiva e os agentes são mais preparados”, com um sistema regulatório que diz ser “muito robusto”, mais “colaborativista e exigente”. Antes, acrescenta, “curva-se menos perante sensações de poder que possam existir”. O Banco de Portugal “tem tido uma intervenção bastante positiva e pedagógica”. Também do lado do sistema financeiro, João Pedro Oliveira e Costa acredita que “está muitíssimo mais bem preparado”, havendo “menos banqueiros e mais bancários, e isso é bom”.

Para o gestor, “a supervisão é bastante sólida” e os bancos fizeram um caminho elogiado por João Pedro Oliveira e Costa que fala de um trabalho extraordinário dos bancos.

O BPI, realça, tem uma posição financeira sólida e capitalização confortável. Acredita que a margem financeira, que cresceu nos últimos trimestre por via do aumento dos juros, começa a normalizar, normalização que vai manter-se no segundo semestre de 2024 e 2025. Aliás, essa normalização vem com a descida das taxas de juro. Se as Euribor estão em 3,4%, o BPI estima para o final do ano um valor de 3% e para 2025 de 2,5%. Pelo que o objetivo do BPI é aumentar a atividade, sendo o crédito à habitação um dos pontos de aposta, até porque, diz, tem risco baixo.

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O BPI atingiu, no primeiro semestre, um produto bancário de 669 milhões de euros, mais 18% que igual período do ano passado, com a margem financeira a atingir os 491 milhões (mais 13%) e as comissões a subirem 14% — que o BPI atribui a um ganho extraordinário com a liquidação antecipada em resultados de apólices de seguro, sem o qual as comissões tinham estabilizado. A carteira de crédito a clientes aumentou 2% para 30,3 mil milhões, sendo de 14,7 mil milhões a carteira na habitação. Os recursos aumentaram, por sua vez, 5% para 39,3 mil milhões, com os depósitos a atingirem os 30,4 mil milhões.

O gestor assumiu, novamente, que espera para ver a venda da posição pública dos bancos em Angola para ver se consegue também diminuir a sua posição, estando vendedor da participação, assume.

Garantia pública? Verão não é bom momento

O BPI não tem ideia de quando poderá estar disponível a garantia pública para jovens até 35 anos que comprem a primeira casa. “Não tenho mesmo ideia”, diz João Pedro Oliveira e Costa, perante a ambição do Governo de ter a medida a partir de 1 de agosto (mas ainda falta regulamentar). “Esperava que não fosse durante as férias”, desabafa, salientando que essas medidas “calham sempre nos piores momentos”. Ainda assim, assumindo que o BPI irá aderir consoante as condições que venham a ser decididas, diz que “cá estaremos para trabalhar”. Vai aderir, indica, “se vier nas condições que os bancos possam aceitar”, já que há limites, recorde, de financiamento a cada pessoa impostos pelo regulador. João Pedro Oliveira e Costa considera, no entanto, que esta medida, “muito específica”, “não vai abranger muita gente. É mais uma medida”.

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Recorda que as pessoas vão ter de pagar, no entanto, 100% do crédito, tendo de ter em conta a taxa de esforço. “Tudo isso vai ter impacto”, declarou, para depois garantir que não haverá penalização no spread por causa disso.

Para João Pedro Oliveira e Costa o principal problema, em Portugal, com a compra de casas não está nos créditos à habitação. “É na própria habitação. Não há oferta”, para permitir baixar os preços. Considerando que os spreads em Portugal são competitivos.

Cartel da banca? BPI descarta

“O nome faz lembrar os filmes americanos. Não é para a banca, é para outras coisas, mas o tema está na justiça”. João Pedro Oliveira e Costa recusa falar em cartel, como ficou conhecido o caso em que a Autoridade da COncorrência considerou que os bancos concertaram práticas de preços nos spreads.

O BPI aguarda, agora a decisão do tribunal nacional, depois do Tribunal de Justiça da União Europeia ter considerado que revelar spreads entre os bancos pode ser uma prática anticoncorrencial, dando força à acusaão da Autoridade da COncorrência.

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O BPI, no entanto, recusa qualquer ação que tenha prejudicado o consumidor. “Não prejudiquei ninguém. Não tive atuação que prejudicasse os clientes, considerou, em conferência de imprensa.

“País deve estar à frente das prioridades políticas”

Num outro tema o da estabilidade política nacional e da incerteza sobre o Orçamento do Estado, o líder do BPI realça que é sempre melhor haver estabilidade e o país ter um orçamento. “A prioridade do país deve estar à frente das prioridades políticas”, atira, realçando que há necessidade de endereçar temas como a execução do PRR, o défice na habitação, o novo aeroporto, a nova travessia do Tejo e por isso considera que tem de haver “um enorme espaço e compromisso importante para atrair investimentos e devia prevalecer em todos os agentes uma grande maturidade para se chegar a consensos e termos estabilidade”.

As contas equilibradas é necessário manter, mas o gestor admite que havia temas que tinham de ser endereçados. “Tem havido mais ação e tem-se apresentado mais medidas, desde que se faça no sentido positivo sou a favor”, disse, deixando novo desabafo: “Fale-se menos e faça-se mais”. “Penso que aquilo que foi até agora decidido era preciso ser feito”, mas agora, diz, devia olhar-se para “o elefante na sala” que são os custos de funcionamento do Estado. “Conseguimos suportar o nível de impostos que temos?”, questiona voltando a referir que para as empresas era importante a descida de impostos.

O BPI paga, diz, 37% de impostos. “Pagamos o que temos de pagar”, mas, acrescentem, não chamem extraordinária à contribuição bancária. Já é “uma contribuição permanente” à banca. João Pedro Oliveira e Costa considera que há um estigma específico sobre o setor que não se aplica a outros. “Já devíamos ter perdido estes estigmas”.