Para a defesa de Begoña Gómez, o juiz está a conduzir uma investigação “invulgar, errática, perversa e prospetiva”, num “processo geral” para investigar toda a vida da mulher de Sánchez e “tentar determinar” se cometeu algum delito.

O juiz está, assim, prossegue a defesa, a aplicar a lei de forma “incompreensível, forçou as normas aplicáveis” e tomou decisões “sem amparo legal” e, muitas vezes, sem possibilidade de recursos, “com evidente impacto em todos os âmbitos da vida de Begoña Gómez “devido à importantíssima repercussão mediática do processo”.

O advogado de Begoña Gómez acrescenta, no texto da queixa, desconhecer se as decisões do juiz “têm a finalidade premeditada de procurar um impacto político e social ou se obedecem apenas a um desmedido afã de protagonismo mediático”, mas considera haver “indícios evidentes” de que foram adotadas “de forma arbitrária e injusta”.

Também Pedro Sánchez apresentou esta semana uma queixa por prevaricação contra o mesmo juiz, por o ter impedido de testemunhar por escrito, como prevê a lei para os chefes do Governo quando estão em causa processos relacionados com o exercício do cargo.

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A queixa foi apresentada em nome de Sánchez pela Advocacia Geral do Estado, um órgão que, em Espanha, está integrado na estrutura do Governo e que noutros países, como Portugal, está dentro das competências do Ministério Público.

“O que a Advocacia Geral do Estado fez foi defender a instituição da Presidência do Governo de Espanha porque viu como foram atropelados direitos” reconhecidos à instituição, justificou Sánchez, que sublinhou que na queixa que foi apresentada, “defende-se a dignidade da instituição” e “reclama-se a separação de poderes”.

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Sánchez considerou também “uma montagem” a deslocação do juiz na terça-feira ao Palácio da Moncloa, a sede da Presidência do Governo de Espanha, em Madrid, com a intenção de o interrogar e gravar as declarações, negando-lhe o direito de testemunhar por escrito.

Além do magistrado, representantes do Ministério Público, advogados das defesas e uma advogada do partido de extrema-direita Vox, em representação das “acusações populares” que se constituíram neste caso, deslocaram-se à Moncloa para recolher o testemunho de Sánchez, que acabou por invocar o direito ao silêncio de testemunhas quando estão em causa investigações relativas aos cônjuges.

A investigação de que é alvo Begoña Gómez tem como base queixas de associações ligadas à extrema-direita e centra-se, em particular, na sua relação profissional com um empresário cujas empresas negociaram ajudas públicas ou participaram em concursos públicos num período em que Pedro Sánchez já era primeiro-ministro.

Em linha com as conclusões de dois relatórios da investigação policial, o Ministério Público considerou não haver indícios de irregularidades e pediu o arquivamento do caso, não havendo ainda resposta a este recurso.

Pedro Sánchez e o Partido Socialista espanhol (PSOE), que lidera, têm reiterado não haver nada que fundamente a investigação e que está em causa uma perseguição política e pessoal.

Este caso é há meses um dos principais alvos de ataque ao primeiro-ministro por parte da oposição. Foi também o motivo que levou Sánchez a ponderar demitir-se em abril, afirmando-se vítima, com a família, de uma “máquina de lodo” que difunde mentiras e desinformação na Internet que são depois levadas para o debate político pela direita e pela extrema-direita e judicializadas com queixas de associações extremistas.