Kamala Harris já é oficialmente a candidata democrata à Casa Branca, falta apenas saber quem é a sua escolha para vice-presidente. Apesar de muita especulação nas últimas semanas, a decisão, que se prevê que seja anunciada já esta segunda-feira, permanece envolta em mistério. Muitos nomes foram lançados na corrida, mas nesta fase três surgem em destaque: o governador Josh Shapiro, o senador Mark Kelly e o governador Tim Walz, que se encontraram com a vice-presidente dos Estados Unidos na sua residência em Washington durante o fim de semana. Apesar da ronda de entrevista de domingo, ainda não se exclui figuras como o governador Andy Beshear, que libertou a agenda perto da data do aguardado anúncio, e o secretário dos Transportes Pete Buttigieg, que esteve com a democrata na sexta-feira.
No domingo à noite, depois das conversas com Shapiro, Kelly e Walz, não era claro se Kamaka Harris já tinha tomado uma decisão, segundo disseram à CNN várias fontes familiarizadas com o processo de escolha. A imprensa norte-americana tem relatado que a campanha de Harris planeia anunciar o candidato a vice-presidente através das redes sociais antes de um comício na Filadélfia, marcado para terça-feira, onde Harris e o seu número dois deverão aparecer lado a lado. Até lá, a candidata à Casa Branca espera manter o mistério, indicaram as mesmas fontes à CNN, e a especulação aumenta, com os observadores a analisar todos e quaisquer sinais.
A escolha do vice-presidente não é um detalhe nestas eleições e tradicionalmente, na política norte-americana, serve para tentar alargar a base eleitoral do candidato a eleitores a que normalmente não chegaria. Com Josh Shapiro, por exemplo, Kamala Harris pode aproveitar a reputação de um governador de um estado chave nestas eleições e que tem gozado de elevados índices de aprovação desde que foi eleito. Já Mark Kelly, defensor de um maior controlo nas fronteiras, pode ser importante no tema da imigração, que os republicanos têm atirado contra Harris. Pelas críticas ocasionais à administração Joe Biden também pode ajudar a captar votos independentes e conservadores.
Fora da corrida já ficaram figuras como Roy Cooper, governador da Carolina do Norte, e Gretchen Whitmer, governadora do Michigan. Os seus nomes chegaram a ser falados para o cargo, mas ambos anunciaram na passada segunda-feira que tinham retirado o nome da lista, apesar de continuarem a apoiar Harris. Também chegaram a circular nomes como o governador de Maryland, Wes Moore, o governador de Illinois, J.P. Pritzker, ou o governador da Califórnia, Gavin Newsom.
Eis os principais candidatos a vice-presidente de Kamala Harris:
Josh Shapiro, 51 anos
O seu nome tem sido lançado na corrida porque pode ajudar a conseguir votos num estado chave nestas eleições: a Pensilvânia, um dos chamados swing states. É advogado e foi nomeado governador-geral da Pensilvânia em 2017, cargo que tem em comum com Harris, que foi procuradora-geral da Califórnia. Em 2022, Josh Shapiro foi eleito governador ao derrotar o republicano Doug Mastriano e alcançar 56% dos votos.
Quando os protestos em universidades norte-americanas arrancaram em força, em resposta ao conflito na Faixa de Gaza, Shapiro, que é judeu, denunciou o crescimento do antissemitismo, nota o New York Times por estes dias. O mesmo jornal lembra que foi muito elogiado por supervisionar a reparação célere de um viaduto que desabou numa interestadual fundamental que atravessa a Filadélfia, no ano passado.
Mark Kelly, 60 anos
É um veterano da marinha norte-americana e um astronauta da NASA que chegou a comandar uma expedição à Estação Espacial Internacional, mas já não está no ativo. Ganhou destaque após a mulher, a ex-congressista democrata Gabby Giffords, ter sobrevivido a um tiroteio. Desde então Mark Kelly tem feito campanha por um maior controlo de armas nos EUA.
Está no senado norte-americano desde 2020, pelo Arizona, depois de derrotar a republicana incumbente. Tornou-se o primeiro democrata a assegurar o lugar desde 1962, recorda o Politico, e conseguiu ser reeleito dois anos depois. O New York Times nota que construiu uma coligação apoiada por mulheres brancas e jovens latinos, grupos de eleitores que foram fundamentais na vitória democrata no estado em 2020 e que podem revelar-se úteis para os democratas chegarem à Casa Branca. Além disso, representa uma ala mais moderada, o que pode ser positivo para Harris, já que é vista como uma candidata mais à esquerda.
Tim Walz, 60 anos
A sua carreira na política tem mais de duas décadas. Antes de enveredar por esta área Tim Walz passou pela Guarda Nacional do Exército, do qual se reformou depois de 24 anos de serviço. Pelo caminho foi professor de uma escola secundária, onde também foi treinador da equipa de futebol americano.
Em 2006 venceu pela primeira vez a eleição para a Câmara dos Representantes e foi reeleito por mais cinco mandatos pelo Minnesota. Tornou-se governador deste estado em 2018, tendo sido reeleito novamente em 2020, como se pode ler no seu perfil na página local. Inicialmente não constava entre os nomes que se especulava para vice-presidente, mas desde então parece ter ganhado visibilidade e não se exclui a sua nomeação.
Andy Beshear, 46 anos
Mais um candidato que tem em comum com Kamala Harris o percurso como procurador-geral: Andy Beshear no Kentucky, em 2015. Três anos depois foi eleito governador do estado, feito que repetiria em novembro do ano passado com cinco pontos de vantagem sobre os republicanos. Uma vitória que não pode ser ignorada, especialmente por ser um Estado tradicionalmente republicano e onde Donald Trump venceu Joe Biden por 26 pontos nas presidenciais de 2020.
O governador, um dos mais jovens no país, provém da realeza política do Kentucky, recorda o Politico. O pai, Steve Beshear, também contrariou as expectativas enquanto democrata num estado tipicamente republicano, ao ser eleito governador por duas vezes, em 2007 e 2011. Andy Beshear goza neste momento de uma grande popularidade no Estado, segundo uma sondagem recente da Morning Consult tem o maior índice de aprovação de qualquer governador democrata no país.
Pete Buttigieg, 42 anos
À semelhança de Harris, concorreu à nomeação do partido democrata para as eleições presidenciais dos EUA em 2020, que Joe Biden acabaria por vencer. É atualmente secretário dos Transportes, a primeira pessoa homossexual a ser confirmada para o gabinete presidencial. É frequentemente descrito como um dos melhores comunicadores da administração Biden, nota a imprensa norte-americana.
A carreira política começou em 2011 com a eleição para presidente da câmara de South Bend, no Indiana. Tornou-se o mais jovem a ocupar o cargo, com 29 anos, segundo a ABC News. Pelo caminho foi agente dos serviços secretos na reserva da Marinha norte-americana, serviu durante dois meses no Afeganistão, o que lhe valeu uma medalha pelo trabalho anti-terrorismo, e trabalhou como consultor para a gigante mundial McKinsey & Company.