Terminou o percurso olímpico do único homem vivo a conquistar duas vezes o ouro na maratona dos Jogos Olímpicos, feito que alcançou de forma consecutiva (Rio-2016 e Tóquio-2020). Aos 39 anos, Eliud Kipchoge chegava a Paris como uma dos candidatos às medalhas, mas longe de ser o favorito de outros tempos. Antigo campeão do mundo e vencedor das maratonas de Londres, Chicago, Berlim, Roterdão e Tóquio, quis o destino que a sua última maratona olímpica tenha terminado com a primeira desistência da sua carreira.
A primeira fase da prova disputada durante a manhã deste sábado até contou com o queniano no grupo da frente, mas tudo mudou após o primeiro terço. Nessa altura, Kipchoge ficou para trás e começou a cair na classificação com o passar dos quilómetros. Até que, ao quilómetro 30, desistiu, numa altura em que era 71.º e se encontrava a mais de oito minutos da liderança. Kipchoge esperou para ser ultrapassado por todos os rivais e, aplaudido pelos espectadores, deu por terminada a sua prestação olímpica. Por fim, entregou os seus sapatos e as meias aos adeptos, antes de entrar no carro-vassoura.
Eliud Kipchoge at 31k, dropping out after waiting for last-place Ser-Od Bat-Ochir pic.twitter.com/qzGvYA0F8u
— Japan Running News (@JRNHeadlines) August 10, 2024
Depois da prova, o atleta mostrou-se dececionado em declarações ao site dos Jogos Olímpicos. “É um momento difícil para mim. Esta é a minha pior maratona. Nunca tive uma desistência. Isto é a vida. Como um atleta de boxe, fui derrubado, venci, fiquei em segundo, oitavo, décimo, quinto. Agora não consegui terminar. Isto é a vida”, admitiu.
Quanto ao futuro, o queniano garantiu que não vai estar em Los Angeles-2028 como atleta. “Vocês vão ver-me de uma maneira diferente, talvez a motivar as pessoas, mas não vou participar. Não sei o que vem a seguir. Preciso de voltar [para casa], sentar-me e pensar sobre os meus 21 anos de corrida ao mais alto nível. Preciso de evoluir e participar noutras coisas”, partilhou.
O ano para esquecer
2024 está longe de ser um ano para Kipchoge recordar. Em entrevista recente à BBC África, o queniano confidenciou que começou a temer pela própria vida depois de a sua família ter começado a receber ameaças devido à morte de Kelvin Kiptum, recordista mundial. O queniano partilhou que foi vítima de uma campanha de abusos online, depois de o seu nome ter sido ligado à morte do compatriota.
“O que aconteceu fez com que eu não confiasse em ninguém. Nem mesmo na minha própria sombra. Fiquei chocado quando as pessoas nas redes sociais disseram: ‘Eliud está envolvido na morte deste rapaz’. Disseram-me coisas piores, que iriam queimar o campo [de treinos], que iriam queimar os meus investimentos na cidade, que iriam queimar a minha casa, que iriam queimar a minha família”, partilhou, emocionado.
“What happened has made it so that I don’t trust anybody.”
Two-time Olympic champion Eliud Kipchoge has told the BBC he feared for the lives of his family during a campaign of online abuse wrongly linking him to the death of fellow Kenyan marathon runner, Kelvin Kiptum. pic.twitter.com/dbPsulzmZv
— BBC News Africa (@BBCAfrica) May 7, 2024
Perante as ameaças, Kipchoge começou a temer pela própria vida e tomou precauções. “Fiquei com muito medo de os meus filhos irem para a escola e voltarem. Às vezes eles andam de bicicleta à noite, mas tivemos que impedi-los porque nunca se sabe o que vai acontecer. É difícil para os meus meninos ouvirem: ‘O teu pai matou alguém’. O meu pior momento foi quando tentei ligar à minha mãe. Percebi que as redes sociais podem chegar a qualquer lado, mas ela deu-me coragem”, afirmou o atelta.