Parece que no futuro, os sindicatos já não funcionam, ou não têm força. Se tivessem, a jovem Rain Carradine (Cailee Spaeny), a protagonista de Alien: Romulus, do uruguaio Fede Álvarez (Nem Respires), trabalhadora agrícola num planeta em terraformação explorado pela poderosa megacorporação Weyland-Yutani, não veria o seu contrato ser trapaceado pela entidade patronal, e ser obrigada a dar-lhe mais meia dúzia de anos de trabalho. Em vez de se libertar desse vínculo laboral e poder mudar-se para um planeta próximo, onde não se vive num negrume permanente, como no seu, por ser iluminado e aquecido por um acolhedor sol. Levando consigo Andy, o andróide que o seu falecido pai resgatou do lixo e reprogramou para a proteger, e ao qual chama irmão.

[Veja o “trailer” de ‘Alien: Romulus’:]

Rain não precisaria assim de ter deixado o planeta clandestinamente, com Andy e mais quatro amigos, na nave de carga de um deles. E rumado a uma enorme estação espacial abandonada que detectaram na órbita daquele, que planeiam abordar para usarem as cápsulas de sono criogénio da mesma, que lhes permitirão fazer em segurança a viagem de nove anos para esse planeta onde o sol brilha e aquece, e a Weyland-Yutani não tem presença. Só que Rain, Andy e os amigos ignoram que a estação espacial, com uma metade chamada Rómulo e outra Remo, leva a bordo, em hibernação, vários espécimes da mais mortífera criatura alienígena do universo. O resto é fácil de calcular.

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[Veja uma entrevista com o realizador Fede Álvarez:]

Situado cronologicamente entre o primeiro filme da série, Alien-O 8º Passageiro, de Ridley Scott, e o segundo, Aliens-O Recontro Final, de James Cameron, Alien: Romulus, constitui um regresso ao espírito, aos enredos, aos ambientes e ao formato de fita de terror em enquadramento de ficção científica da série original com Sigourney Weaver no papel da corajosa Ripley. Não só no coração da história está uma situação muito semelhante à do filme inicial – um grupo de humanos perseguido já não por um alien monstruoso, mas por uma quantidade deles, no interior de uma nave espacial –, com acrescentos espectaculares do segundo, como também Rain faz figura de jovem Ripley; e há andróides que desempenham um papel fundamental na intriga (uma das surpresas desta fita de Álvarez tem, aliás, a ver com estes humanos artificiais).

[Veja uma entrevista com o elenco do filme:]

Alien: Romulus é, assim, um compósito, uma sabatina narrativa, visual, de ambientes, situações e horrores que remetem para os filmes de Scott e de Cameron. Bem como para o quarto e último título da série interpretada por Sigourney Weaver, o muito mal-amado Alien O Regresso, de Jean-Pierre Jeunet, ao envolver uma monstruosa mutação que não ficaria deslocada num filme dos tempos áureos de David Cronenberg, e que poderá ainda recordar a alguns adeptos do género títulos como O Monstro Está Vivo e O Monstro Volta a Nascer, de Larry Cohen. Os efeitos especiais e visuais, que juntam o digital e o artesanal, dão à fita o ar de série B encardida que tinha Alien-O 8º Passageiro, e piscam o olho ao brutalismo tecnológico e marcial de Aliens-O Recontro Final.

[Veja uma sequência do filme:]

Está bem visível por todo o filme o esforço feito por Fede Álvarez para que Alien: Romulus reconduza a série ao seu ecossistema cinematográfico de origem, afastando-a das duas frustrantes fitas assinadas antes por Ridley Scott, Prometheus e Alien: Covenant, ao mesmo tempo que tenta introduzir-lhe algo de novo, no terceiro acto da história. Só que é difícil tirar pouco mais do que algumas gotas de sumo de um limão que já foi muito espremido, e com bastante força, e não é suficiente maquilhar de novidade o que é muito familiar, pese embora toda a garra de Cailee Spaeny no papel de Rain. Alien: Romulus deixa-nos a sensação de estarmos a ver, em registo menor e modo reciclado, algo que já foi feito anteriormente de forma superior. E que vai perdendo singularidade, emoção e impacto a cada iteração. Estamos a ficar um bocado cansados de ouvir gritar no espaço.

E já que falamos de regresso à fonte, é pena que Alien Xeno, a continuação de Alien-O Recontro Final, realizado por Neill Blomkamp, que teria voltado a juntar a Ripley de Sigourney Weaver com o cabo Dwayne Hicks de Michael Biehn e os seus Marines Coloniais, num enredo relacionado com mais manigâncias da Weyland-Yutani em redor da manipulação genética dos aliens, nunca tenha saído do papel, e das redes sociais do autor de Distrito 9. Esse sim, seria o Alien que teríamos gostado de ver.