Uma nova estirpe do vírus Monkeypox foi detetada na República Democrática do Congo em setembro de 2023. Foi apelidada de “Clade Ib” e tudo indica que seja mais mortal e mais transmissível do que as anteriores. A nova variante associada ao aumento de casos da doença, mais 160% em 2024 em comparação com o ano passado, fez com que o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) declarasse, na terça-feira, “emergência de saúde pública” no continente, o mais alto nível de alerta, face à epidemia da também conhecida como varíola dos macacos.
A “Clade Ib” provoca o aparecimento de erupções cutâneas por todo o corpo, enquanto as estirpes anteriores eram caracterizadas por erupções cutâneas localizadas e lesões na boca, face ou genitais.
Esta quarta-feira, o comité de urgência da Organização Mundial da Saúde (OMS) esteve reunido em Genebra para avaliar a epidemia e decidiu declarar “emergência de saúde internacional”, além de terem sido prolongadas por um ano as recomendações permanentes contra o risco crónico do vírus Mpox em vários países africanos.
Na reunião foi divulgado que quatro países da África Oriental — Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda — notificaram nas últimas semanas os seus primeiros casos de Monkeypox. Segundo a OMS, todos os casos sequenciados nestes países são da estirpe do “Clade I”, a mais comum e menos grave. Já a Costa do Marfim está a sofrer um surto ligado à estirpe mais grave, que surgiu em setembro do ano passado.
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Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, justificou a convocação do comité para esta quarta-feira com a “expansão do surto na África Central e Oriental e o potencial de propagação internacional dentro e fora de África”. “Na semana passada, dei início ao processo de inscrição na lista de utilização de emergência para as vacinas contra a Monkeypox, o que irá acelerar o acesso às vacinas por parte dos países de baixo rendimento que ainda não emitiram a sua própria aprovação regulamentar nacional”, adiantou o diretor da ONG que disponibilizou 1,45 milhões de dólares do Fundo de Contingência para Emergências da OMS para distribuir vacinas nos próximos dias.
Há risco de a nova estirpe chegar à Europa?
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) já classificou o risco para a União Europeia da chegada da nova variante que surgiu na República Democrática do Congo como “muito baixo” e garante estar a trabalhar em estreita colaboração com o CDC de África e com parceiros locais e internacionais para monitorizar e responder ao agravamento do surto de Monkeypox em África.
“Depois do que aconteceu com o Covid-19 temos de conseguir pensar que há um perigo de os vírus chegarem a outra região“, ressalva, ainda assim, Maria João Amorim, virologista e Professora Associada na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, em declarações ao Observador. “É absolutamente credível, ainda mais quando se vê um aumento de casos brutais como este”, alerta.
OMS reúne esta quarta-feira comité de urgência para avaliar epidemia do vírus Mpox em África
Segundo a especialista, esta nova estirpe identificada em África é “mais transmissível e mais perigosa” e, por abranger um maior número de pessoas, corre-se o perigo de “deixar a região em que está confinada e chegar à Europa”.
Se em território europeu a vacinação contra a doença transmitida pelo vírus Monkeypox está praticamente universalizada e é recomendada aos grupos de risco — em África a luta é por vacinas suficientes para que o atual surto seja contido. A virologista destaca que a reunião da OMS desta quarta-feira servirá para colmatar essa questão: “Mobilizar recursos declarando a região como de interesse e de perigo.”
Desde janeiro de 2022, foram registados 38.465 casos em 16 países africanos, com 1.456 mortes. Em 2024, registou-se um aumento de 160% dos casos em comparação com o ano anterior, de acordo com dados publicados na semana passada pelo CDC África.
“Deixem-me ser claro: esta não é apenas uma questão africana. O Mpox é uma ameaça global, uma ameaça que não conhece fronteiras, nem raça, nem credo. É um vírus que explora as nossas vulnerabilidades, atacando os nossos pontos mais fracos”, afirmou Addis Ababa, diretor-geral do CDC África, numa conferência de imprensa esta terça-feira.