A NASA fez esta quarta-feira um ponto de situação sobre os dois astronautas que ficaram presos na Estação Espacial Internacional (ISS), depois do voo inaugural da Starliner. A prioridade da agência norte-americana é recuperar a cápsula da Boeing, mas, em último caso, Butch e Sunny podem regressar à Terra apenas no fim da missão da ISS, daqui a oito meses.

Ken Bowersox, administrador de operações espaciais da NASA, começou a conferência de imprensa adiantando que não houve alterações no estado da Starliner ou dos seus dois tripulantes, Barry Wilmore e Sunita Williams. O próximo passo do processo será uma nova reunião de Flight Readiness Review (FRR), em que os diretores dos vários departamentos avaliam a prontidão da nave para uma nova missão. Bowersox detalhou que esta FRR deve acontecer no final da próxima semana. Estas reuniões costumam acontecer apenas antes de a missão partir da Terra, mas em situações anómalas, como é o caso, podem ser uma forma de acompanhamento.

Sobre Wilmore e Williams — Butch e Suni, como chamam os colegas — o ex-astronauta garantiu que “estão ótimos, a comer ótima comida espacial, a desfrutar da vista e a aproveitar o momento”. Apresentando mais detalhes sobre as FRR, o Chefe de Segurança e Garantia de Missão assegurou que a segurança é “um valor essencial”, que está a ser ponderado em todas as decisões” . “O processo está bem encaminhado para um bom resultado”, declarou Russ de Loach.

Também Joe Acaba, astronauta da agência, manteve o tom positivo. Acaba lembrou que este era um voo de teste e que “os astronautas estavam plenamente cientes do que podia acontecer e preparados física e mentalmente para os desafios que se pudessem apresentar”.

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O colega de profissão de Butch e Sunny notou que estes são veteranos da agência e esta é a sua terceira estadia na ISS. Avançou ainda que têm falado regularmente e eles se encontram “comprometidos com a missão e orgulhosos de servir o país”.

Foi o astronauta que explicou aos jornalistas que, no pior cenário, a Starliner não conseguirá ser devolvida à Terra e os dois astronautas terão de concluir a missão atual com os restantes residentes na ISS e regressar quando esta acabar, daqui a oito meses a um ano.

Ainda assim, a prioridade da NASA é recuperar a nave da Boeing. Para isso, a agência norte-americana reuniu especialistas de diferentes áreas do país inteiro, com o objetivo de identificar e resolver o problema. Neste momento a extensa equipa inclui membros da SpaceX, mas a NASA recusa desistir já da Boeing e avançar com uma missão liderada pela empresa de Elon Musk.

Para responder às questões dos jornalistas, juntaram-se à conferência Joel Montalbano, também administrador de Operações Espaciais, e Emily Nelson, diretora de voos.

Os cinco oficiais da NASA relataram então que a equipa construiu um modelo da nave na Terra, para ser mais fácil avaliar os problemas que são partilhados pelos astronautas na estação espacial e já foi identificado um problema nos sistemas de propulsão.

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Contudo, argumentam que ainda não têm dados suficientes sobre este problema para o classificar como um defeito de design da nave ou como um problema de funcionamento no voo. A maior preocupação neste momento é a segurança dos astronautas ao reentrarem a atmosfera na Starliner. Tendo em conta estas conclusões, a agência é clara: “não temos dados suficientes para tomar uma decisão final” e o trabalho continua.

A NASA relatou ainda que tem sido pedida a opinião de Sunny e Butch, mas a decisão final será sempre dos engenheiros na Terra e os dois astronautas terão de a cumprir. Os norte-americanos garantiram que os conhecimentos técnicos e os protocolos de segurança se desenvolveram bastante nos últimos anos e que o perigo de se repetir a tragédia do Columbia é mínimo. Em 2003, o Space Shuttle Columbia desintegrou-se ao reentrar a atmosfera, matando todos os sete astronautas a bordo.

A decisão final da NASA, sobre se vai tentar devolver a Starliner à Terra, deve ser tomada na próxima FRR e anunciada antes do fim deste mês. Ainda assim, a agência recusa um prazo definitivo.

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A missão da Boeing foi planeada ao longo de quase uma década e chegou a ser adiada. A estadia de Sunny e Butch na ISS, que devia ter durado sete dias, prolonga-se desde o final de junho e continua sem fim da vista. Mas a NASA recusa o contratempo como um falhanço total da agência espacial ou da Boeing.