Era talvez a última homenagem que faltava fazer entre dois nomes que andaram lado a lado durante quase duas décadas: Cristiano Ronaldo e Liga dos Campeões. Entre Manchester United, Real Madrid e Juventus (pelo Sporting entrou apenas nas qualificações da prova, frente ao Inter, em 2002/03), o avançado de 39 anos que atua desde o ano passado na Arábia Saudita pelo Al Nassr bateu inúmeros recordes na principal competição da UEFA, tendo visto reconhecido esse trajeto durante a cerimónia do sorteio da Liga milionária que estreia na presente temporada um novo modelo competitivo com mais equipas, jogos… e ambições.
Em termos coletivos, o português ganhou por cinco vezes a Champions, uma pelo Manchester United em 2008 (Chelsea, 1-1 e 6-5 nas grandes penalidades) e quatro pelo Real Madrid em 2014, 2016, 2017 e 2018 (Atl. Madrid, 4-1 após prolongamento; Atl. Madrid, 1-1 e 5-3 nas grandes penalidades; Juventus, 4-1; e Liverpool, 3-1), tendo perdido apenas uma decisão ainda pelos red devils em 2009 (Barcelona, 2-0). A nível individual, continua a ser o melhor marcador de sempre da prova, foi o jogador com mais golos em sete edições, entrou em seis ocasiões no Melhor Onze e ganhou por três vezes o prémio de Melhor Golo.
Não ficou por aí. Entre vários recordes, foi o primeiro a passar a barreira dos 100 jogos e dos 100 golos feitos na competição, tem o registo de 140 golos em 183 partidas e somou um total de 115 vitórias – mais três registos que o deixam destacado como grande referência da Liga milionária. “Cristiano Ronaldo é uma das estrelas mais brilhantes da constelação da Champions. Os seus extraordinários feitos goleadores na competição parecem destinados a resistir ao teste do tempo, representando um desafio notável a ser superado pelas gerações futuras (….) O seu profissionalismo, ética de trabalho, dedicação e habilidade para brilhar no palco mais grandioso são qualidades que os jogadores de futebol de todo o mundo deveriam aspirar a imitar”, destacara Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, no anúncio do “prémio especial”.
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“É um prazer estar aqui, este troféu significa muito. A Liga dos Campeões significa muito no futebol. Os recordes falam por si, mas o prazer em jogar a competição… Os jogadores ouvem a música e ligam outro modo. Marquei muitos golos, fiz muitos jogos. É muito bom estar aqui. O futebol, e nós próprios, a nossa vida é feita de memórias. E eu tenho memórias muito boas. Nunca sabemos o que vai acontecer, mas veremos o que o futuro nos traz. Final favorita? É difícil escolher uma mas a primeira é sempre a mais especial. Ganhámos, marquei na final, apesar de ter falhado um penálti… Mas tenho de fazer uma referência ao Real Madrid. Ganhei lá quatro vezes. 2008, em Lisboa… Ver todos os adeptos foi muito especial. Naquele período, o Real Madrid tentava ganhar a Liga dos Campeões e eu falhei, havia sempre essa pressão. Mas como sabem, a Champions e os golos são como o ketchup, quando começam não param”, comentou Ronaldo.
Se quisermos falar sobre o Cristiano íamos demorar uma ou duas horas. É fantástico ter uma carreira tão bem sucedida. Se pensarmos na Liga dos Campeões, pensamos no Cristiano. Se pensarmos em futebol, pensamos no Cristiano. É um jogador incrível. Tenho um problema com ele porque infelizmente já não joga na melhor competição do mundo. Ainda assim, é a única pessoa que conheço que não envelhece…”, salientou Ceferin na entrega do prémio.
“Diria que se trata da robustez do futebol português. Todos sabemos, com esta reestruturação da Champions, o quão difícil era para as equipas portuguesas conseguirem qualificar-se. Mais uma vez mostraram o seu talento e a sua capacidade. Mas será mais um momento de apoteose, pois, além disso, será homenageado aquele que tem sido a grande marca do futebol português: Cristiano Ronaldo. É um reconhecimento muito mais do que justo, o Cristiano tem sido uma marca absolutamente transversal e mundial, tal é a sua capacidade de mobilização pelo seu talento. É isso que temos vindo a traduzir nestes últimos anos: a capacidade de gerar este talento continuado, não só nos jogadores, mas também nos treinadores, nos árbitros e nos dirigentes. É esta a marca de água do futebol português”, tinha também comentado Pedro Proença, líder da Liga e da Associação de Ligas Europeias (o que faz com que esteja no Comité Executivo da UEFA), outra das presenças nacionais no sorteio realizado em Monte Carlo.
Antes dessa homenagem, numa conversa ao seu novo canal de Youtube UR Ronaldo com o antigo defesa e companheiro de equipa Rio Ferdinand, Ronaldo falou sobre a atual fase da carreira, a presença no último Campeonato da Europa da Alemanha e a forma como reage aos sucessos e aos insucessos na carreira.
“Sinto-me bem, acho que continuo a ser bem parecido [risos]… Sinto que continuo a conseguir driblar, a rematar, a marcar golos, a saltar… No dia em que sentir que não estou a produzir nada, a dar nada, arrumo as minhas coisas e afasto-me mas neste momento ainda sinto que estou longe desse dia. Marquei 60 golos na última época mas as pessoas dizem ‘Ah mas nem cinco golos conseguiste marcar no Europeu’. E que tem? Qual é o problema? Já marquei 130. Sou o maior goleador da história do futebol. Mas vou levantar ainda mais a fasquia. Em breve, vou ter 900 golos. E depois disso vou chegar aos 1000 golos. Quero chegar a essa marca. Que idade terei nessa altura? Talvez 41, não sei. Para mim, a melhor marca que posso ter neste momento é chegar aos 1.000 golos com uma diferença: existirão vídeos de todos”, salientou.
“Chorei no dia em que falhei o penálti com a Eslovénia [nos oitavos], apesar de achar que o Oblak fez uma defesa fantástica, mas não foi por pensar que se falhasse e se Portugal fosse eliminado o mundo ia cair sobre mim, foi porque falhar naquele momento fez-me sentir mal comigo mesmo. Senti-me triste por todas as pessoas que foram ao estádio, especialmente pela minha família, pela minha mãe, pelos meus filhos, pela minha namorada. Falhei porque coloquei demasiada pressão sobre mim mesmo e tu conheces-me muito bem desde os meus 11 anos. Sempre coloquei pressão sobre mim mesmo, sempre pensei: ‘Cristiano, tu és o melhor jogador do Mundo’. Quando as coisas correm mal, sentes demasiado mas adoro isso porque sei lidar bem com essa pressão”, comentou também a propósito do último Campeonato da Europa.
“Acham que eu vou mudar agora a minha maneira de ser? ‘Ah, o Cristiano é egoísta, está sempre a…’ Não! Ou gostam de mim assim ou não gostam. Faz parte da vida, não é um problema. Disseram: ‘Ah, tem 39 anos, está a ficar velho…’. Sabes porque disseram isso? Porque não marquei um golo. E o resto que fiz? O meu passado? Na fase de qualificação marquei dez golos. Antes do Europeu marquei dois golos frente à Rep. Irlanda. Mas são aquelas coisas que fazem parte da vida. Mesmo que eu tivesse marcado, nada disso mudaria aquilo que o Cristiano Ronaldo é. As pessoas tentam falar mal e criticar. Eu sou assim, estou sempre a tentar marcar golos. Para mim não me importa o adversário, se é França ou Al-Ettifaq”, disse o jogador.
“No final dos jogos, se ganharmos é sempre melhor do que se perdermos mas não minto que se ganharmos e eu marcar que fico um pouco mais contente. Se perdermos o jogo, temos de mostrar que estamos chateados e zangados. Faz parte do desporto. No dia a seguir tenho de pensar: ‘Cristiano, a vida continua’. O passado é o passado e não volta mais. O presente é o melhor que temos porque nunca saberemos o dia de amanhã. Existem alguns jogos ou momentos que demoram mais tempo a esquecer mas é normal, pela pressão, pelo momento. Não podemos ficar presos no passado. Consigo fazer muito bem essa distinção. Aprendi com o passar dos anos a fazer isso porque dor tu vais sempre sentir, incerteza também, mas tens de continuar a trabalhar. É desta forma que eu vejo a vida e especialmente o desporto”, acrescentou CR7.
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