O suspense foi mantido até ao fim, mas a treze minutos do início do jantar houve a confirmação chegou de carro a Castelo de Vide: Maria Luís Albuquerque era a convidada-surpresa do jantar de sábado na Universidade de Verão do PSD. Depois de arrasada pela esquerda, a ex-ministra nunca renegou as suas origens e — até em contraciclo com o que Luís Montenegro tem feito no último ano — defendeu o legado do passismo e foi acarinhada pelos jovens. Apesar da imparcialidade (e até contenção) que o estatuto de candidata a comissária aparentemente pede, não teve contemplações: mostrou que é do PSD, passista e crítica do PS. Além disso, percebeu-se que se sentiria à vontade com pasta mais económica ou financeira, mas não arrisca pedir nada a Von der Leyen: “Tenho uma preferência, mas não partilho”.

O passismo vive:  a ministra da troika vs a ministra que livrou o País da troika

Maria Luís Albuquerque recebeu diversos elogios dos alunos pelos momentos em que esteve na governação. Ouviu frases como “o País só se libertou da troika devido a três pessoas: Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque”. Ou até: “Não foi a ministra da troika, foi a ministra que tirou o país da troika”. Na fase de resposta aos alunos, a ex-ministra foi, na grande maioria das perguntas, chamada a recordar esses tempos e não fugiu às questões. Sobre se o país reconheceu o trabalho do antigo primeiro-ministro, não teve rodeios: “O país reconheceu Pedro Passos Coelho: ganhámos as eleições em 2015.”

Mais à frente, voltaria a elogiar o ex-primeiro-ministro ao dizer que “a recuperação económica se deveu, em primeiro lugar, à liderança do Governo“, embora tenha acrescentado que “foi sempre um trabalho conjunto, de outras pessoas mais anónimas. E também se deveu aos portugueses, que souberam ultrapassar os problemas.” Lembrou, também, o ano horribilis de 2012, em que “a recessão foi pior do que se esperava” e que, por isso, teve de “tomar as medidas mais duras, mais impopulares.”

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Maria Luís Albuquerque, que teve de recordar várias vezes o período de governação, disse que teve sempre “o prazer de integrar colocou sempre o interesse do país à frente do interesse eleitoral”. Quanto ao facto de ter tomado ou não as melhores medidas, Maria Luís Albuquerque atirou: “acerto no Euromilhões todas as sextas-feiras depois das sete. É preciso saber quais eram as alternativas. E se com a informação que tinha, com os dados que dispunha, foi ou não a melhor opção. A avaliação que não seja assim, não é honesta”.

Críticas ao PS (e até a Costa): “Não tive apoio político”

O PS tem arrasado a escolha de Maria Luís Albuquerque e este sábado levou a resposta. Apesar de António Costa, que esteve ao mesmo tempo na rentrée socialista, ter desejado as “maiores felicidades a Maria Luís Albuquerque”, a candidata a comissária não poupou o maior partido da oposição, nem sequer o eleito futuro presidente do Conselho Europeu.

Maria Luís Albuquerque diz que “se há coisa que o nosso país precisa de se empenhar é em apoiar portugueses para ocuparem posições de maior relevo para instituições europeias (…) É preciso pensar primeiro que é o candidato de Portugal e depois pensar se é o candidato do partido que calha estar ou não do Governo, primeiro é o candidato de Portugal”.

Depois disso, a ex-ministra das Finanças apontou baterias para os socialistas, sugerindo que em 2021 não houve empenho do Governo de Portugal, liderado por António Costa, não fez o trabalho que devia ter feito para apoiar uma portuguesa para a presidência do supervisor europeu dos mercados de capitais (a ESMA): ela própria. “Um italiano, uma alemã e uma portuguesa. O impasse arrastou-se por mais de seis meses, porque Itália e Alemanha tinham uma minoria de bloqueio. Nestas circunstâncias, muitas vezes a solução é ir para o terceiro candidato. Para isso, é preciso ter apoio político e eu não tive”.

A futura comissária tem uma pasta preferida, mas não diz qual é

Maria Luís Albuquerque fez a sua intervenção centrada nas prioridades que considera que a Europa deve ter e que estão em linha com aquilo que são os objetivos da Comissão Von der Leyen. Seja na conclusão da reforma da União Económica e Monetária, seja na defesa do Mercado Único de Capitais (áreas em que se sente mais confortável), seja na habitação (que defendeu que deve ser prioridade) ou Defesa (onde defendeu a revitalização da Indústria militar).

Sobre se preferia uma pasta no futuro colégio de comissários confessou: “Tenho uma preferência, mas não vou partilhar. Maria Luís Albuquerque admitiu que Ursula Von der Leyen tem um “puzzle difícil” para conseguir corresponder às várias exigências dos Estados-membros e garantir um equilíbrio geográfico e de género.

Maria Luís Albuquerque antecipa ainda dificuldades nos próximos tempos: “Os últimos cinco anos foram muito difíceis, mas os próximos cinco não vão ser mais fáceis”.